Artigo de opinião: O impacto da pandemia na construção civil e no mercado imobiliário

Artigo de opinião: O impacto da pandemia na construção civil e no mercado imobiliário
Foto: Simone Mello/Agência IBGE Notícias
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Empresas sempre são incentivadas a adotar práticas construtivas mais eficientes e econômicas

Gabriela Lopes de Souza, advogada

O desempenho da construção civil é profundamente influenciado pelo contexto econômico, social e político do país. Ao longo das últimas décadas, este setor enfrentou crises intermitentes e períodos de recuperação que moldaram profundamente seus processos e produtos.

Em dezembro de 2019, com o registro do primeiro caso de Covid-19 em Wuhan, China, seguido pela rápida disseminação global e a confirmação do primeiro caso no Brasil em fevereiro de 2020, foram implementadas medidas de isolamento social para conter a propagação do vírus e evitar o colapso do sistema de saúde.

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Apesar das restrições impostas pelo Decreto nº 10.282/2020, que paralisou atividades não essenciais, a construção civil foi reconhecida como serviço essencial, operando com adaptações rigorosas para garantir a segurança dos trabalhadores. Contudo, a paralisação impactou severamente 81% da força de trabalho, especialmente autônomos e trabalhadores informais, gerando incerteza econômica e reduzindo a atividade no setor[1]. Após as expectativas de crescimento, a pandemia reverteu as projeções de crescimento do PIB da construção civil, estimando uma queda de 2.9% para -3.9% em 2020[2].

A dinâmica do processo construtivo foi substancialmente afetada pela escassez de insumos essenciais, como aço e cimento, devido à interrupção de várias indústrias. A produção de materiais caiu drasticamente, conforme observado pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), Rodrigo Navarro[3], com uma queda de 50% entre abril e maio de 2020. Mesmo com os desafios jamais enfrentados, os canteiros de obras continuaram operando durante o isolamento social. A liberação de parcelas do auxílio emergencial impulsionou a procura por insumos de subsistência, mas o cenário de incertezas impactou toda a cadeia produtiva, sobretudo a construção civil.

Mesmo com a retomada gradual das atividades industriais, a oferta limitada não foi suficiente para suprir a demanda, mantendo os preços em patamares elevados. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) da Fundação Getúlio Vargas registrou um aumento acumulado de 13,46% nos preços de materiais e equipamentos de janeiro a outubro de 2020, com maiores altas observadas em material metálico (18,62%), instalação hidráulica (23,55%) e instalação elétrica (27,52%).[4]

A escassez persistente e o alto custo de insumos alcançaram níveis recordes ao longo de 2020 e 2021, emergindo como o principal desafio para a indústria da construção civil. No quarto trimestre de 2021, essa crise afetou 47,3% das empresas do setor[5], agravada por altas taxas de juros e falta de financiamento de longo prazo, que impactaram 21,3% e 10,1% das empresas de infraestrutura, respectivamente[6]. A elevada carga tributária e a burocracia excessiva também contribuíram significativamente para o cenário desafiador, afetando 28,0% e 22,2% das empresas, respectivamente.[7]

A gravidade da crise foi ainda mais evidenciada pela escassez de matéria-prima, que atingiu 25,3% em abril de 2021, contrastando com menos de 5% nos anos anteriores. Esses desafios exigiram soluções urgentes para garantir a continuidade e a sustentabilidade do setor naquele período.

Diante de crescentes custos de obras e novas tecnologias, as empresas da construção civil sempre são incentivadas a adotar práticas construtivas mais eficientes e econômicas, focando no gerenciamento de recursos, na integração com a cadeia de fornecedores e na redução de desperdícios. No entanto, não se tem notícia de um período em que a construção civil teve que tão rápida e profundamente adotar novas práticas e gestão de recursos e materiais como que durante a pandemia de COVID-19. Paralelamente, a pandemia remodelou a perspectiva do consumidor em relação aos produtos imobiliários, influenciando decisões de compra com base em fatores sociais e culturais. Os imóveis refletem agora uma maior demanda por espaços adaptáveis que integrem lazer, moradia e trabalho, sem comprometer os custos.[8]

Em suma, a pandemia não apenas acelerou tendências preexistentes, mas também gerou novas demandas urgentes para a construção civil. Empresas e profissionais do setor precisaram se adaptar rapidamente a este novo contexto, aperfeiçoando a gestão de materiais e fornecedores, numa gestão de processos que veio para ficar, para melhor atender às necessidades da população e preparar-se para futuras adversidades.

[1] BARBOSA, R., et al. COVID-19: Políticas Públicas e as Respostas da Sociedade. Nota Técnica no 2: A vulnerabilidade dos trabalhadores brasileiros na pandemia da COVID19. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020. Disponível em https://jornal.usp.br/wpcontent/uploads/2020/04/Boletim_2_Covid19___NT2v3.pdf. Acesso em: 15 jul 2024.

[2] VALOR INVESTE, 2020. Coronavírus frustra recuperação do mercado imobiliário. Vale investir no setor. Disponível em: https://valorinveste.globo.com/objetivo/hora-de-investir/noticia/2020/04/17/coronavirus-frustra-recuperacao-do-mercado-imobiliario-vale-investir-no-setor.ghtml . Acesso em: 15 jul 2024.

[3] ÉPOCA NEGÓCIOS, 2020. Preços de material de construção devem continuar subindo até 2021. Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/Economia/noticia/2020/10/precos-de-material-de-construcao-devem-continuar-subindo-ate-2021.html. Acesso em 15 jul 2024.

[4]FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, 2020b. INCC-M sobe 1,69% em outubro. Disponível em: https://portalibre.fgv.br/sites/default/files/2020-10/incc-m_fgv_press-release_out20_0.pdf. Acesso em: 09 mar. 2021.

[5]ISSN 2317-7322 - NÚMERO 12 - DEZEMBRO 2021. Disponivel em https://static.portaldaindustria.com.br/portaldaindustria/noticias/media/filer_public/94/46/9446fbea-0360-4017-806c-5f84ca4dcd86/sondagemindustriadaconstrucao_dezembro2021.pdf. Acesso em 5 jul 2024.

[6]CBIC e CNI. ISSN 2317-7322. Ano 11. Número 12. Dez 2020. Disponível em https://cbic.org.br/wp-content/uploads/2021/01/sondagemindconstrdez2020v1.pdf. Acesso 4 jul 2024.

[7]CBIC e CNI. ISSN 2317-7322. Ano 11. Número 12. Dez 2020. Disponível em https://cbic.org.br/wp-content/uploads/2021/01/sondagemindconstrdez2020v1.pdf. Acesso 4 jul 2024.

[8]REFKALEFSKY, Isabella. CONSTRUÇÃO CIVIL E A PANDEMIA DE COVID-19: ANÁLISE DOS IMPACTOS NOS EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS. Rio de Janeiro. 2021. Disponível em http://www.repositorio.poli.ufrj.br/monografias/projpoli10035340.pdf. Acesso em 15 jul 2024.

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