Queda nas vendas força bancos a alongarem empréstimos às construtoras - Fato Online

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Fato Online
Valéria Rodrigues

Além da dificuldade em vender imóveis novos, setor imobiliário convive com devolução de unidades e restrições de crédito. Para honrar empréstimos já tomados, o jeito é conseguir mais prazo de carência, antes de iniciar pagamentos aos bancos

Como forma de enfrentar a crise econômica que atinge em cheio o setor imobiliário, construtoras e bancos estão negociando o alongamento dos prazos de carência dos empréstimos feitos para construção de imóveis. Até 2013, a construção civil era um dos setores que puxavam o crescimento da economia. Mas, agora, com as condições mais restritivas de crédito, a queda na renda e as incertezas econômicas, os compradores de imóveis desapareceram. E, para piorar, o número de distratos, a devoluções de imóveis vendidos na planta, só aumenta.
 
Neste primeiro semestre de 2015, e pelo segundo ano consecutivo, a Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) que representa as empresas da construção, observa queda no volume de vendas das unidades e aumento dos estoques. 
 
Somente de janeiro a março deste ano, os lançamento de imóveis residenciais caíram em 24%, segundo pesquisa da entidade em 11 capitais e regiões metropolitanas. Ao mesmo tempo, as vendas caíram 7%. 
 
A perda de velocidade nas vendas é um problema para as empresas do setor porque as unidades comercializadas na planta garantem fluxo no caixa, o que ajuda na hora de negociar empréstimos com os bancos. O índice médio de velocidade de venda dos imóveis, que era de 8% no primeiro trimestre de 2013, caiu para 6,3% no mesmo período deste ano.
 
Por tudo isso, o jeito que as empresas estão encontrando é esticar os prazos para iniciar o pagamento dos empréstimos tomados junto às instituições financeiras para financiar as construções do passado recente.  
 
“Os lançamentos [de imóveis] frearam de uma forma geral, variando um pouco o percentual de uma localidade para outra. Mas, nos grandes centros, essas freadas foram mais fortes”, afirmou o economista da Cbic, Luis Fernando Melo.“Como [os lançamentos] desaceleraram muito rápido, também as vendas caíram nesse mesmo período. Então, vendo que houve queda nas vendas e que os estoques estão elevados, é natural que se diminua o ritmo de produção”, completou Melo.
 
O interesse das construtoras na negociação com os bancos é óbvio: sair do sufoco ganhando mais tempo para melhorar o caixa e honrar os pagamentos às instituições no futuro. Mas, os bancos também estão se vendo forçados a serem mais flexíveis na negociação, afinal essa é uma forma de garantir o recebimento do que foi emprestado. "Para o banco, não interessa a empresa quebrar", diz um fonte do setor.
 
Ajuste em contratos

"Se o prazo de comercialização está maior, nada mais óbvio [do que] estender o prazo de carência para adequar a comercialização versus o encerramento do projeto", afirmou Hamilton Rodrigues da Silva, diretor de Crédito Imobiliário do Banco do Brasil.
 
O diretor do BB explica tratar-se de "um ajuste" e observou que os contratos realizados com as construtoras normalmente já consideram um espaço de tempo maior para a realização da obra e menor para a comercialização. Segundo ele, trata-se de uma prática muito comum no mercado. “Às vezes ocorre por excesso de chuva, você tem outras variáveis que muitas vezes ampliam o prazo para o encerramento do projeto”, afirmou.
 
O atraso no habite-se (permissão do Poder Público para que um imóvel seja ocupado) é um agravante para o caixa das empresas da construção, que precisam manter em dia as contribuições previdenciárias e o recolhimento de impostos. O documento de habite-se só é obtido com as certidões negativas da Receita Federal e do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). 
 
Desde o início do ano, o problema vem sendo citado pelos empresários como uma dificuldade. Para se ter ideia, na sondagem industrial com as percepções dos empresários, divulgada em dezembro, a burocracia excessiva (simbolizada pela demora em obter habite-se) não constava entre os itens de maior problema para o setor, mas agora ocupa a sexta posição.
 
A ociosidade na indústria da construção civil está estimada em 40% de acordo com a última pesquisa divulgada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria). E o indicador do nível de atividade mostrou que o setor está cada vez mais colocando o pé no freio. " Há uma insatisfação operacional [do empresário da indústria da construção], com a situação financeira e uma dificuldade muito grande de crédito, que influencia outras questões, como obtenção de capital de giro”, analisa Marcelo Azevedo, economista da CNI.
 
De acordo com o vice-presidente do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo), Eduardo Zaidan, ampliar a carência dos empréstimos junto aos bancos: “Depende muito de cada empresa, se tem mais dívidas, menos dívidas, se tem planos de financiamento direto”, explicou.
 
Para a Cbic, além dos efeitos do ajuste econômico, outros fatores explicam a retração atual do setor. Primeiro, foram as dúvidas relacionadas à eleição e sobre qual seria a política econômica adotada. Outra incerteza era se os programas em desenvolvimento, como MCMV (Minha Casa Minha Vida) e o PIL (Programa de Investimento em Logística), seriam mantidos. O economista Luis Melo afirma que, com a sinalização de manutenção, as empresas realizaram investimentos, acreditando em um cenário econômico mais promissor. No entanto, o ano começou com ajuste fiscal, aumento da carga tributária, restrição do crédito e queda da confiança.

 

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