Construção civil vê sinais de recuperação - Correio Braziliense

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Rosana Hessel
Correio Braziliense


Retomada de unidades do Minha Casa Minha Vida é vista como positiva, mas empresários avisam que a volta do crescimento no setor, que representa 8% do PIB, ainda vai demorar

Apesar de o número de obras paradas no país ser grande, há sinais de que o canteiro de obras pode ser reaberto. No mês passado, o ministro das Cidades, Bruno Araújo, anunciou a retomada da construção de 10,6 mil unidades habitacionais do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) que devem somar R$ 167,2 milhões em investimentos. De acordo com a pasta, essa é uma parte "das 50 mil unidades com obras paradas deixadas pela gestão anterior".

Para o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Martins, o anúncio é positivo e deverá ajudar o setor a se recuperar. No entanto, ele alerta que a volta do crescimento do segmento ainda deve demorar, pois há projetos que levam até cinco anos para serem iniciados. "A construção civil representa 8% do PIB (Produto Interno Bruto), mas é um dos segmentos que mais empregam. O fechamento de vagas tem sido constante e ainda vai levar tempo para que esse quadro seja revertido", destaca ele. Em junho, último dado computado, foram dispensados 28 mil trabalhadores. As demissões ocorrem desde outubro de 2014.

De acordo com Martins, 85% das obras do MCMV são tocadas por construtoras de pequeno ou médio porte e muitas tiveram dificuldades financeiras porque, no ano passado, o governo chegou a atrasar os repasses em até 180 dias. "No começo do programa, os pagamentos ocorriam em até três dias, mas os atrasos foram ficando constantes. Agora, houve uma melhora, e as associadas têm reclamado menos. Os prazos variam de 30 a 60 dias e elas estão conseguindo administrar melhor as obras", conta.

A economista Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), conta que o Índice de Confiança da Construção subiu 1,8 ponto em agosto, alcançando 72,5 pontos -- o maior nível desde julho de 2015. Foi a segunda alta mensal consecutiva, mas a evolução ainda é menos favorável que a registrada em outro setores.

"O empresário da construção não está apenas com expectativas menos negativas. A percepção dominante é de que a atividade lentamente começa uma retomada, o que já está se refletindo no indicador de mão de obra prevista", diz Ana Maria. No entanto, ela avisa que a recuperação ainda vai demorar, apesar da expectativa do novo governo de anunciar em plano de concessões em infraestrutura. "O investimento é lento. As obras demandam tempo e precisam de projetos básicos bem elaborados para que não ocorra o mesmo que ocorreu com o PAC", explica.

"O país passou e ainda passa por uma crise muito grande, que se espelha no PIB e no desemprego, afetando diretamente o setor imobiliário, que depende muito da confiança dos compradores e dos investidores. Mas acredito que superamos a fase mais difícil; estamos vendo sinais claros da virada", afirma o vice-presidente da Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Renato Ventura. Segundo ele, quando a economia começar a reagir, a retomada de projetos engavetados será rápida. "As empresas não devem recomeçar do zero, pois muitas já possuem projetos aprovados esperando a retomada efetiva da confiança", completa.

Sem antagonismo

Andrés Tahta, descarta antagonismos com o Brasil e a possibilidade de os dois países competirem pelos mesmos investidores em projetos de infraestrutura. "Não acredito que vamos concorrer, pois nos tornamos parceiros comerciais. "Se a Argentina for mais competitiva, vai ser bom para o Brasil e para a região. Se o Brasil atrair investidores que se interessem pela Argentina, vai ser muito positivo". Ele defende a união. "O Brasil é conhecido pela produção de sapatos, e a Argentina, pelo design. Trabalharemos a complementariedade. O mesmo poderá ocorrer na indústria automobilística", conclui.

Pacote argentino

O presidente Michel Temer, em recente visita à China, disse que pretende anunciar o primeiro pacote de concessão de projetos e ativos em infraestrutura na próxima terça-feira para atrair US$ 269 bilhões de investimentos estrangeiros até 2019. Durante a próxima semana, no entanto, o Brasil disputará as atenções com os vizinhos argentinos. Entre 12 e 15 de setembro, em Buenos Aires, o governo de Mauricio Macri apresentará um pacote de oportunidades de investimento. O Argentina Business and Investment Fórum, organizado pela Agência Argentina de Investimento e Comércio Internacional (Invest Argentina), pretende reunir 1,5 mil empresários argentinos e estrangeiros, dos quais 60 a 100 deverão ser do Brasil.

O vice-presidente da Invest Argentina, Andrés Tahta, contou que, nos últimos sete meses, o governo de Macri organizou projetos ambiciosos para atrair US$ 177 bilhões, em três anos: US$ 75 bilhões em energia e mineração; US$ 75 bilhões em infraestrutura (portos, concessão de 25 mil km de rodovias, 10 mil km de ferrovias, mercado imobiliário, redes de telecomunicações e aeroportos); US$ 15 bilhões em agronegócio; US$ 7 bilhões em tecnologia e serviços; e US$ 5 bilhões na indústria de bens duráveis e de alimentos.

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