Financiamento da casa própria está mais caro - Correio Braziliense

Financiamento da casa própria está mais caro - Correio Braziliense
Compartilhe:

Rodolfo Costa
Correio Braziliense

Quem pensa em financiar a casa própria pela Caixa Econômica Federal deve preparar o bolso. Ontem, a instituição, que responde por cerca de 70% do crédito imobiliário no país, anunciou o aumento dos juros para o financiamento de unidades residenciais, comerciais e mistas. Apenas as taxas de operações com recursos do Programa Minha Casa Minha Vida e do FGTS não sofreram mudança. A decisão alcançou o Sistema Financeiro Habitacional (SFH), voltado a imóveis de até R$ 750 mil, e o Sistema Financeiro Imobiliário (SFI), para bens com valor acima desse teto.

Em algumas modalidades, o reajuste atingiu 1,32 ponto percentual. É o caso da taxa balcão, aplicada a quem não têm relacionamento com a Caixa. Nesse caso, a taxa pelo SFH saltou de 9,90% para 11,22% ao ano. Pelo SFI, a alta foi de 11,50% para 12,50%. A correção foi disseminada, sendo aplicada inclusive para servidores públicos com relacionamento e conta-salário no banco.

Com o reajuste, as taxas cobradas pela Caixa -- que costumavam ser as mais baixas do mercado -- estão equiparadas aos juros praticados pelos principais bancos, que também elevaram recentemente os encargos cobrados dos clientes. O Santander, no entanto, informou que não há definição quanto a aumento nas atuais taxas, que variam entre 10,1% ao ano mais Taxa Referencial (TR) e 12,4%. O Banco do Brasil disse que não houve realinhamento dos juros, que se mantêm a partir de 11,3% ao ano mais TR. O Itaú Unibanco afirmou que, por enquanto, nada muda na estratégia.

A alta pegou de surpresa representantes do mercado imobiliário. "É um balde de água fria", lamentou o presidente do Sindicato da Habitação do Distrito Federal (Secovi-DF), Carlos Hiram Bentes David. No início do mês, a Caixa anunciou o aumento da parcela máxima financiável de imóveis, medida que começou a vigorar na última quinta-feira. O teto, que havia caído de 80% para 50%, em maio do ano passado, subiu para 70% no caso de unidades que se encaixam no SFH. Para servidores públicos, o limite subiu de 60% para 80%.

Expectativas


"A ampliação dos tetos de empréstimo deu mais estímulo ao consumidor. Agora, diante do aumento dos juros, a confiança voltará a cair", avaliou Hiram. A análise é endossada pelo diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira. "Qualquer aumento de 0,10 ponto percentual nos juros gera impacto no financiamento. Em um cenário de alta do desemprego, da inflação e dos juros, as incertezas são elevadas", ressaltou.

O reajuste provocará aumento nas prestações de mais de R$ 600, calcula a Anefac. É o exemplo de um financiamento de R$ 750 mil pelo SFI com a taxa balcão. Antes do aumento, o consumidor que tomasse um empréstimo por 30 anos pagaria R$ 9.279,83 na primeira parcela e R$ 2.103,30 na última, totalizando R$ 2.047.343,75. Agora, o desembolso inicial será de R$ 9.895,83 e o último, de R$ 2.105,03, em um total de R$ 2.160.156,25."Isso representa um aumento de R$ 616 na prestação e de R$ 112.812,50 no total do financiamento", destacou Ribeiro.

Analistas não descartam a possibilidade de a Caixa voltar a aumentar os juros do crédito imobiliário ao longo do ano. A expectativa tem por base a previsão de aumento da inadimplência e o fato de os encargos cobrados pela instituição continuarem abaixo da taxa básica (Selic), de 14,25% ao ano. Para o diretor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Ellery, a correção é necessária para a saúde financeira da Caixa. "Ela não pode ficar emprestando dinheiro muito abaixo do custo para estimular o mercado", ponderou. Caso a instituição precisasse ser capitalizada, lembra Ellery, a conta seria paga por todos os contribuintes via aporte de recursos pelo Tesouro Nacional.

Em baixa

As operações de crédito imobiliário com recursos da poupança continuam desabando. A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) estima que, em fevereiro, foram liberados R$ 3,2 bilhões em financiamentos, uma queda de 50,3% em relação ao mesmo período de 2015. Em comparação a janeiro, o volume de empréstimos permaneceu estável. No bimestre, a soma é de R$ 6,5 bilhões concedidos, um recuo de 58,3% na comparação com os dois primeiros meses do ano anterior. A retração reflete a perda de depósitos da poupança. 
 

 
Voltar
Enviar mensagem no WhatsApp