Preço do aço já sofre elevação e plásticos devem entrar nos aumentos gerados pelo conflito
Liana Feitosa
Campo Grande News
As consequências econômicas geradas pela pandemia de covid geraram muita instabilidade no setor da construção civil, com falta de insumos e bastante encarecimento de preços. Agora, que a situação parecia se estabilizar, a guerra da Rússia contra a Ucrânia passou a indicar que os preços de materiais para construção ainda vão preocupar quem está construindo, reformando ou quem planeja o início de uma obra.
Para Dionyzio Klavdianos, presidente da comissão de materiais e tecnologia da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), a pandemia gerou impactos imediatos no setor. “Sobre a guerra na Ucrânia, não posso afirmar que ela tenha causado o mesmo impacto [nos preços], mas com certeza posso falar que, se havia algum viés de baixa ou de estabilização, pode ser que isso não esteja acontecendo agora”, detalha Dionyzio ao Campo Grande News.
Em 2020, alguns itens subiram 120% na Capital como reflexo de paralisações nas indústrias brasileiras devido à pandemia e, também, o aumento dos preços. Com isso, insumos como tijolos, cimento e aço se tornaram difíceis de encontrar.
O milheiro de tijolo, que antes desse período era vendido pelo valor médio de R$ 600, em outubro de 2020 passou a custar cerca de R$ 900.
Preocupação – Segundo Dionyzio, por mais que a situação atual esteja longe de ser igual ao vivido em 2020 e 2021 com a pandemia, no que diz respeito à oneração de itens fundamentais na construção civil, a guerra preocupa, sim, e impacta o setor.
“Preocupação sempre, até porque já vínhamos de uma situação nefasta. Na construção imobiliária as construtoras não estão passando os valores reais de aumento, até porque, se passarem, ninguém mais vai comprar. Então a situação já era preocupante”, completa o representante. “Não estamos falando que vai ser um novo repique, mas os patamares continuam altos”.
Alguns insumos específicos influenciam nessa dinâmica, e esses já têm apresentado elevação de preços recente no mercado internacional, como os plásticos e o aço. Essa instabilidade chegará aqui. “Os produtos derivados do petróleo terão aumento de preços com certeza, principalmente os plásticos, que vêm do polipropileno e polietileno”, cita o economista Eugênio da Silva Pavão.
Instabilidade – De acordo com o economista, o encarecimento ocorrerá devido a alta do petróleo e pela menor oferta desses produtos por parte da Rússia no mercado internacional. No caso do aço, o valor do produto pode subir porque Rússia e Ucrânia estão entre os maiores produtores de minério de ferro do mundo, ocupando a 5ª e a 6ª posição, respectivamente. E isso deve ocorrer mesmo o Brasil sendo o terceiro maior produtor, ficando atrás somente da China e da Austrália.
Ainda segundo Dionyzio, o percentual de participação do aço nos custos de uma construção pode ser enorme. “Varia muito, depende da obra, mas pode chegar a praticamente o custo total de uma obra, quando se trata de grandes estruturas, até cerca de 10% do custo de uma construção imobiliária”, explica.
“Vão deixar de construir? Não vão, mas se a pessoa tinha uma expectativa positiva sobre queda nos preços, se ela esperava por esse bom momento, vai ter que esperar mais um tanto. A situação continua desafiadora”, finaliza Dionyzio.