Tatiana Py Dutra
Jornal de Brasília
Mudar-se para um imóvel mais espaçoso entrou para os planos do administrador Ricardo Baldisserotto, 43 anos, desde que o primeiro filho nasceu, há quatro anos. A concretização do negócio foi adiada conforme crescia a instabilidade econômica. Porém, a pandemia e o isolamento domiciliar tornaram urgente o desejo de ir para uma casa maior.
“Quatro pessoas dormindo, trabalhando, estudando, comendo e fazendo atividades de lazer em um apartamento de 65 m2 foi se tornando difícil com todos em casa o tempo todo. A gente precisava se mudar para continuar se amando”, brinca.
Em junho, Ricardo reuniu o dinheiro que guardou para comprar uma casa de condomínio no Jardim Botânico, e passou a engrossar uma feliz estatística do Sindicato da Habitação do Distrito Federal (Secovi/DF). De janeiro a julho deste ano, a compra e venda de imóveis cresceu 11% em relação ao mesmo período do ano passado, apesar das incertezas trazidas pela pandemia.
“Após o lockdown, em março, o pior reflexo nas vendas foi em abril. Mas a partir de maio houve uma melhoria na compra e venda. Junho e julho foram excelentes”, comenta o presidente do Secovi/DF, Ovídio Maia.
Arrecadação aumentou
O bom desempenho do setor é comprovado por dados da Secretaria de Economia do Distrito Federal, com a arrecadação do Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI), tributo pago após a compra. Em junho, a alta nos negócios foi de 52,32% em relação a maio. Em julho, o incremento foi de 5,6% na comparação com o mês anterior, e de 9,1% em relação à arrecadação de 2019.
Para Ovídio, a rápida recuperação do mercado imobiliário reflete a necessidade de conforto de famílias como a de Ricardo, mas também a fatores econômicos favoráveis.
“A taxa de juros para crédito imobiliário nunca esteve tão baixa e os bancos estão com muitos recursos para financiar. Se a pessoa financiar um imóvel de 500 mil em 30 anos, por exemplo. Dando uma entrada de 20%, terá uma prestação 30% a 40% acima do valor de um aluguel. Esse valor nunca esteve tão próximo”, projeta.
Construção civil acelera
A pandemia tampouco abateu o setor da construção civil. Se os resultados de 2019 já eram auspiciosos para as incorporações (alta de 8%, contra 6,7% em 2018), 2020 veio com recorde. Em junho de 2020, o Índice de Velocidade de Vendas dos Imóveis novos foi de 11,1%. É o melhor junho da série histórica do estudo, iniciado há seis anos.
Conforme dados da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi-DF), mesmo o desempenho médio do segundo trimestre, impactado pela crise sanitária, foi positivo, com crescimento de 7,7%. De janeiro a junho, o mercado imobiliário do DF registrou R$ 881,26 milhões em unidades lançadas e R$ 678,86 milhões em unidades vendidas.
Conforme o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-DF), Dionyzio Klavdianos, o fato de as obras públicas terem se mantido durante a crise sanitária deu mais tranquilidade as empresas.
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“O governo está licitando, construindo e pagando em dia. Isso mantem o setor está aquecido e reduz o impacto sobre os empregos. A gente está mais contratando do que descontratando. O movimento é virtuoso”, avalia Dionyzio.
A pedra no caminho da setor são os preços dos materiais de construção, que de março a julho teve alta que variou de 10% a 20% – com destaque para o tijolo, 80% mais caro. “Ninguém esperava uma alta tão grande. Isso pode afetar o valor dos imóveis e até o equilíbrio de algumas empresas”, prevê.