Apesar da crise, construção civil mantém fôlego no DF

Foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press.
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Setor abriu 12 mil vagas entre dezembro de 2020 e de 2021. Previsão é de que as contratações continuem em alta em 2022. Até outubro do ano passado, foram lançados 38 empreendimentos, apenas três a menos do que o registrado durante todo 2020

Ana Isabel Mansur
Correio Braziliense

O setor de construção civil do Distrito Federal, um dos principais responsáveis pela criação de empregos na capital, tem mantido o fôlego de contratações durante a pandemia da covid-19. Segundo a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), a empregabilidade do segmento cresceu 16,7% entre dezembro de 2020 e dezembro de 2021, com a abertura de 12 mil vagas.

No último mês do ano retrasado, o setor empregava 72 mil pessoas; um ano depois, o número saltou para 84 mil. Roberto Botelho, vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), vincula o crescimento das contratações ao crescimento do mercado imobiliário.

De acordo com dados do sindicato, até outubro de 2021, o DF havia registrado o lançamento de 38 novos empreendimentos. O resultado ficou próximo ao percebido em todo o ano anterior — 41 inaugurações (veja mais em Setor aquecido). “As expectativas são boas para 2022 porque, em momentos de turbulência, o imóvel é o investimento mais seguro e concreto”, avalia.

Para o vice-presidente do Sinduscon-DF, a tendência é que a abertura de postos seja mantida. “Em 2022, esperamos uma elevação nas contratações. Em 2021, foram iniciadas muitas obras que terão o pico neste ano, gerando mais oportunidade de emprego para muitas pessoas”, prevê, ressaltando que a geração de trabalho ocasionada pelo setor não está unicamente nos canteiros de obras.

“Geramos emprego nas indústrias de cimento, aço, alumínio, madeireira, cobre, louças e metais, cerâmicas, entre outros. Em um segundo momento, quando entregamos as obras, vêm as indústrias moveleira, de televisores, da linha branca, decoração, etc. É um setor que multiplica empregos na economia”, destaca Botelho.

Oportunidades

O morador do Setor Militar Urbano (SMU) Diego Santos, 35 anos, foi um dos contemplados com um emprego no setor em 2021. O trabalhador administrativo de obras foi contratado por uma construtora em fevereiro do ano passado. Ele conseguiu a vaga logo após se formar em engenharia civil. “Foi a concretização de um sonho, devido à dificuldade de transição entre o mundo acadêmico e o mercado de trabalho”, reflete, avaliando os diferenciais do segmento.

“A construção civil não segue outros setores. Enquanto todos estão em baixa, o setor da construção está aquecido, mesmo com os preços de produtos em alto valor. Consequentemente, houve aumento de trabalho, e eu fui contemplado com uma oportunidade. E acredito que o setor vai continuar crescendo”, vislumbra Diego.

As contratações do setor têm abarcado até mesmo pessoas tradicionalmente mantidas fora da área. Laura Martins, 25 anos, foi a primeira mulher a atuar na administração de obras de casas de alto padrão na construtora onde trabalha desde agosto de 2021. A moradora do Guará cuida de todas as necessidades da equipe em campo e das construções, como cotações, recursos humanos e relacionamento com clientes. “Essa contratação foi como começar com o pé direito na área”, avalia a jovem.

Para ela, o setor de construção civil deve continuar a crescer neste ano. “Durante a pandemia, as pessoas passaram a investir no próprio lar e perceberam a importância do bem-estar de onde moramos. A construção civil se beneficiou muito disso, e muitas oportunidades serão abertas nos próximos anos. Temos necessidade de profissionais de todas as hierarquias, e há lugar para contratações”, observa Laura.

Ponderação

Matheus Silva de Paiva, economista e coordenador do curso de economia da Universidade Católica de Brasília (UCB), admite que 2021 foi excelente para o setor da construção civil. Embora destaque que 2022 também será positivo, o professor acredita que os resultados deste ano não devem superar muito os do ano passado. “Eu não acho que o mercado vá melhorar tanto em 2022, pois, por conta do aumento da Selic (a taxa básica de juros da economia brasileira, que influencia todos os demais índices), há arrefecimento de todos os mercados, inclusive o da construção civil”, observa o especialista.

Segundo Matheus, o financiamento ficará mais caro e os bancos, provavelmente, vão repassar o aumento de custo aos consumidores. “Mas, em Brasília, uma parcela significativa do público tem estabilidade de salários e consegue fazer planejamentos a longo prazo. Se aumentar a procura e melhorar o setor, pode ser que haja aumento em relação ao ano anterior, mesmo que pouco”, prevê o economista.

Assim como a iniciativa privada, obras do Governo do Distrito Federal (GDF) também têm garantido abertura de vagas de emprego na capital. Apenas em 2021, a Secretaria de Obras do DF criou mais de 10 mil postos, com investimento de R$ 226,8 milhões em 16 obras de grande porte, como o Túnel de Taguatinga, os serviços de infraestrutura de Vicente Pires, os viadutos da Estrada Setor Policial Militar (ESPM) e Estrada Parque Indústrias Gráficas (EPIG), além da reforma da W3 Sul. De 2019 até julho do ano passado, foram 30 mil novas oportunidades de trabalho.

Para as obras do Túnel de Taguatinga, houve a contratação de 1,9 mil trabalhadores, de acordo com a Secretaria de Obras. Na Avenida Hélio Prates, foram abertas 875 vagas, e os trabalhos em Vicente Pires empregaram 1,2 mil pessoas. A reforma da W3 Sul gerou 500 postos. Na Saída Norte, o Complexo Viário Governador Joaquim Roriz — que compreende o Trevo de Triagem Norte (TTN) e a Ligação Torto-Colorado (LTC) — chegou a empregar 770 indivíduos.

Para 2022, a expectativa da Secretaria de Economia do DF é empenhar até R$ 5 bilhões em obras de infraestrutura na capital federal. Se alcançado, o valor será o recorde de recursos na área.

Cenário

“Há diversas variáveis da economia que interferem na construção civil, como inflação elevada, custos de gasolina e frete altos, além da taxa de câmbio para importar materiais e da incerteza em relação à pandemia da covid-19. Tudo isso gera crescimento dos custos, porque, com a falta de controle da inflação pelo governo federal, os sindicatos e funcionários vão tentar recompor os salários, aumentando os valores para os empresários. Apesar disso, como 2022 é um ano eleitoral, haverá aceleração na conclusão de obras inacabadas.

Este ano será melhor que 2021 para a construção civil, mesmo que não haja tanta demanda específica em 2022, porque ainda há muitos contratos antigos em vigor, de muitas pessoas que, durante a pandemia, quiseram mudar para imóveis maiores. A atividade do setor está em níveis aceitáveis.

Existem ferramentas para a construção civil cujos custos baixam a cada ano. O empresário tem de continuar focando na parte de dados e informática, que dá grande sustentabilidade para a construção civil, principalmente na questão ambiental, que hoje em dia é um diferencial, como as fontes de energias renováveis.”

Riezo Almeida, economista e coordenador de graduação em economia, gestão pública e financeira do Centro Universitário Iesb

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