Oportunidade em tempo de crise - Correio Braziliense

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Marlla Sabino
Correio Braziliense

Estoques elevados em setores como varejo e imobiliário facilitam negociação de prazo e preço

Os efeitos da crise econômica atingem todos os brasileiros. Apesar de não ser uma situação simples de se resolver, não dá para cruzar os braços e ver o trem passar. É possível conseguir vantagens em alguns setores e investimentos. O momento é positivo para barganhar bons descontos e aproveitar promoções. Muitos empresários, de diversos segmentos, estão preferindo reduzir preços a amargar com os altos estoques.

O consultor financeiro Paulo Vieira considera um bom momento para se investir em empregabilidade. Como o desemprego afeta muitos brasileiros, o tempo livre pode ser usado para capacitação profissional. “Invista na galinha de ovos de ouro. Se foi demitido, pode ser uma boa maneira de aumentar as chances de voltar para o mercado. Se não, pode ser a chance de mergulhar em uma área que identifique como promissora”, sugere.

Pode ser a hora também de comprar alguns produtos, já que, apesar de os indicadores de confiança terem melhorado, não se reverteram em vendas e os estoques estão altos em muitos setores. Sem o giro de mercadorias, os varejistas apostam na redução de preços, na queda de juros ou facilitação do crédito para conquistar os clientes e evitar prejuízos.

A assessora econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) Juliana Serapio alerta, no entanto, que é preciso analisar a real necessidade da despesa e do bem, antes de qualquer compra. “Por meio do uso de portais de pesquisa de preços na internet, o consumidor pode fazer comparações e aproveitar ofertas”, aconselha.

Para Vieira, mais importante do que encontrar bons preços é levar para casa apenas o imprescindível. É preciso se questionar se realmente precisa de tal item ou serviço e se assegurar de que não existe alguma outra opção mais barata que proporcione o mesmo efeito. “A desculpa de quem está endividado é aproveitar a promoção, mas, às vezes, é só uma necessidade emocional. Se de fato precisar, procure a opção mais barata disponível no mercado”, ressalta.

Ciente do perigo do endividamento, a auxiliar administrativa Amanda Sousa, 27 anos, ficou um mês sem celular. O aparelho antigo foi roubado e ela não tinha condições de pagar o valor cobrado por um novo. “A perda dificultou a minha vida profissional, pois eu atendia a maioria das demandas do escritório por meio de aplicativos”, explica. Mesmo assim, ela esperou o salário seguinte e separou mais da metade para comprar à vista o novo aparelho. Com o dinheiro em mãos, Amanda conseguiu negociar um bom desconto. “Não adiantaria usar o cartão de crédito e comprar o celular de imediato, preferi ficar sem comunicação por um tempo e não ter dívidas posteriores”, acredita.

Para o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Adelmir Santana, o momento é positivo para compra, pois os lojistas estão mais flexíveis para atender às solicitações dos clientes, devido à queda nas vendas. “Se o consumidor souber negociar e mostrar interesse na compra, pode ter vantagem. Ambos saem ganhando. Quem vende deixa de estocar e a pessoa compra por um preço melhor”, diz.

Quando estava trabalhando como atendente, Goreth Leal, 24, dividia com o marido as contas da casa. Só de aluguel, o desembolso mensal é de R$ 600, o equivalente à metade da renda do casal. Com o desligamento dela do emprego, a situação se complicou. Para piorar, foram avisados pelo proprietário do imóvel onde moram que o valor seria reajustado em R$ 100. “Mesmo quando eu trabalhava, o dinheiro não dava para pagar todos os nossos gastos”, explica Goreth.

Sem condições de pagar o reajuste pedido, Goreth decidiu conversar com o proprietário e negociar. Depois de uma longa conversa, conseguiu que ele desistisse do aumento. “Como moramos aqui há dois anos, ele confia na gente por sempre pagar na data certinha, manteve o preço antigo”, afirma.

O presidente do Sindicato da Habitação do Distrito Federal (Secovi- DF), Carlos Hiram Bentes, explica que os preços de aluguéis continuam perdendo valor e que a palavra de ordem é negociar. “Os proprietários estão mais sensíveis a entender a situação do inquilino. Muitas vezes acabam percebendo que há opções de imóveis semelhantes e acabam adiando o reajuste no valor para não ficar com imóvel vazio”, argumenta.

Além da situação favorável para as pessoas negociarem o preço do aluguel, o momento é bom para  comprar imóveis. A grande quantidade à venda facilita que o consumidor barganhe o preço ou aproveite feirões e liquidações. “O momento é agora, pois há mais oferta do que demanda, e é possível aproveitar o estoque de imóveis novos”, acrescenta. Caso precise de financiamento, Bentes recomenda pesquisar opções de crédito também em bancos privados.

O técnico de radiografia Márcio Gomes, 27, aproveitou a queda nos preços dos imóveis para finalmente realizar o sonho de comprar a casa própria. No ano passado, ele procurou imóveis, mas os valores de entrada cobrados pela imobiliária eram inacessíveis. “Eu tinha acabado de completar três meses de carteira assinada, isso também dificultou a aquisição naquele momento”, ressalta o técnico.

 
Sem condições de pagar o que estava sendo cobrado, Gomes decidiu adiar o sonho e juntar dinheiro. Poupou por quase um ano, sem nunca deixar de pesquisar. Quando as vendas caíram e o estoque de imóveis ficou alto, conseguiu comprar a casa onde mora há quase dois meses. “Tinha o dinheiro da entrada e consegui comprar em um lugar acessível, por um preço menor do que estava sendo cobrado antes”, comemora.
 
Adalberto Júnior, vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), ressalta que, nos últimos anos, os lançamentos de novos imóveis caíram. Quando os estoques baixarem, os preços podem voltar a subir. “É uma grande oportunidade, existe uma possibilidade grande de o cliente se dar bem e conseguir negociar um preço mais favorável”, afirma.
 
Rendimento
 
Para quem tem sobra no orçamento, existem boas oportunidades no mercado financeiro. Apesar de a taxa básica de juros (Selic) ter caído para 14% na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e haver perspectiva de novas quedas, aplicações atreladas à Selic garantem boa rentabilidade. A taxa de juros, na opinião do sócio-diretor da Easynvest, Márcio Cardoso, continua sendo “um porto seguro” com um ótimo retorno.
 
Cardoso aconselha, se o projeto for a médio prazo — ou seja, com expectativa de retorno daqui a dois ou três anos —, investir em títulos públicos ou privados de renda fixa. 
 
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