Boa hora para comprar imóvel: preços devem cair pelo 3º ano seguido – Correio Braziliense

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Rodolfo Costa
Correio Braziliense

Ano-novo, casa nova. Ou, quem sabe, a realização do sonho da compra do primeiro imóvel. Após um 2016 marcado pelo aprofundamento da crise econômica, os consumidores deverão encontrar em 2017 um ano um pouco melhor. Inclusive para a aquisição de um bem durável, como um apartamento. Em decorrência de uma demanda reprimida, os preços de imóveis deverão registrar, pelo terceiro ano consecutivo, queda real – ou seja, descontada a inflação.
 
A expectativa por si só é positiva para quem deseja fazer a aquisição com o preço em baixa. No entanto, é importante ficar atento às sinalizações de recuperação que o mercado imobiliário pode apresentar ainda em 2017. A depender de uma reação da economia e da melhora de fundamentos para consumo, como crédito e mercado de trabalho, além da perspectiva de desaceleração do volume de unidades residenciais em estoque no país, os valores do metro quadrado (m²) devem deixar de cair, com o reaquecimento do mercado imobiliário.
 
Por isso, o atual cenário pode ser oportuno para a compra de um imóvel. Principalmente, se o consumidor tiver boa parte do dinheiro necessário para dar a entrada, avalia o economista Roberto Ellery, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB). “Para quem está com o dinheiro na mão, com valor de entrada alto e razoável, o momento atual pode ser bom. Em condições para negociar bem e com descontos. Para quem precisar se endividar demais, no entanto, recomendo cautela. Talvez seja melhor esperar”, avalia.

Em caso de a crise política não influenciar a recuperação da economia, Ellery prevê para 2017 um ano melhor do que o anterior. “A não ser que tenha uma reversão gigantesca da crise. Mas não espero que isso aconteça. A economia vai começar a sair do buraco e o mercado imobiliário irá junto. Ele tem um pouco essa característica. Apanha demais em uma recessão, mas, quando vem uma recuperação da atividade, acompanha junto”, acrescenta.

 
A inflação, que tanto castigou o orçamento das famílias nos últimos anos, vai manter uma curva de desaceleração ao longo de 2017. E isso abrirá espaço para que o Banco Central (BC) reduza a taxa básica de juros (Selic) durante o ano. “Favorece a negociação de empréstimos no futuro. Logo, é um fator importante para quem vai se endividar. Uma diferença de 1% ou 2% de juros em 20 anos pode render algo significativo”, destaca Ellery, ressaltando que, na prática, a redução dos juros na economia significa botar mais dinheiro no mercado. “O crédito voltará a aparecer”, analisa.

Financiamento
 
Todo o processo de redução dos juros é um alento não apenas para o destravamento de crédito para consumo das famílias. Mas também para as empresas. Com menos custo para financiamentos, empresários poderão dar início a uma trajetória de retomada dos investimentos. A reação pode ganhar força no segundo semestre, quando analistas preveem uma melhora do mercado de trabalho, com as contratações superando as admissões ao fim do ano em até 400 mil postos formais.
 
Embora os resultados previstos de emprego sejam tímidos para absorver os cerca de 12,1 milhões de desempregados, a reação no mercado de trabalho pode transmitir maior segurança no emprego. Tranquilidade fundamental para uma retomada da confiança. Só mais confiantes as pessoas poderão assumir dívidas, sobretudo as de longo prazo, como a da compra de um imóvel.
 
A reação no mercado de trabalho, por sinal, virá em um momento de desaceleração da oferta de unidades residenciais em alguns centros urbanos, como o Distrito Federal. Para Ellery, começou um processo de redução de oferta que vai levar ao equilíbrio de preços. “Não há mais tanto espaço para queda de custos dos imóveis em Brasília. E, no resto do país, a situação não deve ser muito diferente”, avalia.

Em novembro, segundo dados da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi-DF), havia 8,1 mil unidades novas em oferta. A quantidade é 19% menor do que em 2015. Do total, naquele mês, cerca de 4,4 mil eram de incorporadores e administradores imobiliários associados à entidade. Em janeiro, eram 4.788. Ou seja, com menos imóveis para venda, há uma tendência natural de valorização dos preços.

 
No DF, o valor médio de apartamentos novos de dois quartos fica entre R$ 290 mil e R$ 330 mil, explica o vice-presidente da Ademi-DF, Eduardo Aroeira. Ele admite que, por hora, esse tipo de imóvel não apresenta valorização. “Há uma estabilidade. Mas pode aumentar porque esse piso de oferta está sendo ultrapassado. A oferta total vai cair para abaixo de 8 mil unidades e a tendência é valorização”, destaca.
 
O volume de negociações realizadas no período – um indicador de demanda – aumentou. O Índice de Velocidade de Vendas (IVV) da Ademi-DF saltou de 3,6% para 5,8%. “Mantida a velocidade em torno de 5%, significa que os empreendimentos serão vendidos em 24 meses, justamente o prazo de construção. Isso indica que as unidades na planta serão vendidas totalmente durante a obra”, diz Aroeira. O volume de lançamentos, em contrapartida, não está alto.
 
Em 2016, foram lançados 12 empreendimentos. Para 2017, a expectativa gira em torno desse mesmo número. Isso significa que, se por um lado a oferta tende a reduzir, por outro, pode levar tempo para que o estoque seja reposto. Mais um motivo que reforça a ideia de valorização. “Caso não vejamos lançamentos na oferta necessária, acreditamos que a tendência dos imóveis é valorizar”, conclui Aroeira.

Oportunidade
 
Não são apenas os imóveis novos que dão sinais de recuperação dos preços na capital federal. Os de terceiros, também. E a explicação para o movimento não é diferente. Em novembro de 2016, haviam 31,4 mil unidades para venda, de acordo com dados do Sindicato de Habitação do DF (Secovi-DF). O resultado ainda é ligeiramente maior do que o observado em janeiro, mas mantém uma trajetória de desaceleração. Pelo lado da demanda, o Índice Imobiliário de Comercialização da entidade mostrou a segunda alta seguida, após quase um ano consecutivo de queda.
 
Ou seja, com uma redução na oferta e o sinal de um início de retomada da demanda, o presidente do Secovi-DF, Carlos Hiram Bentes David, acredita que o cenário traçado é oportuno para que os consumidores desengavetem o desejo da compra do imóvel próprio e garantam o bem, aproveitando o patamar ainda baixo de preços. “O volume de oferta vem reduzindo, então, estamos tendo um certo equilíbrio dos estoques. Haverá uma leve recuperação dos preços. Nada abrupta, mas constante”, analisa. Entre os imóveis de dois quartos – a maioria na capital federal –, por exemplo, a mediana de preços subiu em novembro para R$ 326,9 mil. É o maior valor em, pelo menos, um ano.
 
Seleção cuidadosa
 
Ainda que a oferta de imóveis esteja em desaceleração, há pelo menos mais de 30 mil imóveis entre novos e usados no mercado. Por isso, não é preciso desespero para avaliar a casa ou o apartamento dos sonhos. Os especialistas recomendam uma seleção cuidadosa. É o que tem feito a servidora pública Cecília Vieira da Cruz, 34 anos, que organizou um processo seletivo para filtrar o imóvel que planeja comprar. “Tem muitas opções e não estou com pressa. Vou comparar com calma para não tomar nenhuma decisão precipitada”, afirma ela, que está poupando recursos até o momento ideal para dar uma boa entrada.

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