Ridículo

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Dionyzio A. M. Klavdianos
Vice-presidente Administrativo-financeiro do Sinduscon-DF
Diretoria de Materiais, Tecnologia e Produtividade (Dimat)


Quem tem dois tem um… e quatro dias após a inauguração do Museu do Amanhã no Rio de Janeiro, perdemos o da Língua Portuguesa em São Paulo. 

No Estadão de 21 de dezembro, o novo museu, projeto do mundialmente famoso Santiago Calatrava, que, como não poderia deixar de ser, conta com vários quesitos relacionados à sustentabilidade; aletas móveis na cobertura para captar ao máximo a radiação solar (9% da energia usada no prédio é solar), painéis fotovoltaicos, espelhos d’água que permitem a redução de até 3°C a temperatura ambiente e captação de água do mar do fundo da baía que, uma vez filtrada, é utilizada no sistema de ar condicionado e nos espelhos de água para depois retornar mais limpa à baía.  

Fica a indagação do porque não terem usado técnica similar à encontrada pelos projetistas do museu para se despoluir a baía como um todo.

No Estadão de 22 de dezembro, o antigo museu, antigo no sentido literal inclusive, pois se foi tomado pelo fogo, desaparece em virtude de bizarro curto circuito durante a  troca de uma luminária. Detalhe: o prédio já havia sido destruído por incêndio em 1946.

A cobertura do Estadão, similar às dos demais veículos da imprensa, foca na ausência dos alvarás de funcionamento da prefeitura e Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB). Mas, em que pese a importância de se estar em dias com a documentação regulamentar, em nenhum momento percebe-se de que maneira estar em dia com eles poderia ter evitado o infortúnio. 

Na Folha de 23 de dezembro, aborda-se as interveniências com os órgãos de proteção ao patrimônio histórico, notadamente a demora para autorização de serviços de prevenção, por exemplo, rede de sprinklers. 

Visitei o museu da língua algumas vezes, mas confesso que nunca me preocupei em atentar-me para os detalhes de segurança, todavia, em respeito à boa engenharia é importante que reforcemos que uma etapa tão importante quanto a construção de um prédio é a da sua manutenção, notadamente quando se trata de um prédio com popular como o museu da língua, a quinta atração pública  mais visitada na cidade. 

Muito mais que os percalços da burocracia brasileira citados na matéria, o que chama mesmo a atenção é o despreparo técnico dos envolvidos em tratar de uma situação de emergência; No Estadão de 23 de dezembro “Eles disseram que tiraram a luminária e, quando foram colocar a outra, já estava pegando fogo.” Na Folha de 26 de dezembro, “os bombeiros que trabalharam no incêndio do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, na segunda-feira passada (21), constataram que, empenhados em tentar debelar o fogo logo no início, funcionários que estavam no local podem ter piorado involuntariamente a situação. Eles abriram janelas para que a fumaça saísse. O ar que entrou, no entanto, acabou alimentando ainda mais o incêndio."

Não basta gastar muito dinheiro em belos projetos de prédios, notadamente os públicos que serão destinados à visitação, se não se separa uma boa verba para sua manutenção preventiva anual. Não se atentar para este importante quesito significa correr o risco de ver um trabalho lindo e maravilhoso como o do Museu da Língua Portuguesa… desculpem o trocadilho, ir por água abaixo por causa de um curto circuito.



 

 

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