Vai pra Piri?

Vai pra Piri?
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Dionyzio A. M. Klavdianos
Vice-presidente Administrativo-financeiro do Sinduscon-DF
Diretoria de Materiais, Tecnologia e Produtividade (Dimat)


A construção no largo da igreja matriz de Pirenópolis chama a atenção menos pelo tamanho e mais pelo inusitado do local onde fica. Um predião comprido, semi-acabado, fachada à base de vidro e madeira tratada, paradoxalmente parecida e contrastante com a igreja e demais construções históricas ali próximas. Fosse para adjetivar, diria que é esquisita, mas de mau gosto também serviria.

Como nosso passeio à cidade, em 29 do mês passado, foi só de meio dia e o maior interesse naquele instante era mesmo o interior da igreja matriz, não me ative a descobrir do que se tratava a construção.

10 dias após nossa visita, matéria publicada na Folha provavelmente me ajudou a matar a charada. Segundo ela, “a bucólica igreja do Nosso Senhor do Bonfim, erguida há 260 anos, e casas centenárias do centro histórico de Pirenópolis (GO) estão prestes a ganhar um novo vizinho: um condomínio de alto padrão com 192 apartamentos.”

Como, de acordo com a matéria, o empreendimento será locado no centro histórico da cidade e só terá início em 2016, imagino que a tal construção que me chamou a atenção possa ser o stand de vendas do referido empreendimento.

Embora a construção já tenha sido autorizada pela prefeitura e o Instituto do Patrimônio Histórico e Nacional (Iphan), um grupo de moradores, formado por turismólogos, urbanistas e donos de pousadas, está interessado em embargar seu início por entender que a cidade de apenas 24 mil habitantes não comporta tais empreendimentos (o sistema que será utilizado na comercialização é o de time share, cada um dos apartamentos terá 12 proprietários).

Pelo outro lado, a arquiteta responsável pelo projeto alega que o empreendimento levou dois anos para obter as licenças necessárias, e que se os anteriores a ele tivessem cumprido o mesmo rito a cidade não sofreria com os problemas de infraestrutra de hoje. Já o secretário chega a ser malicioso ao indagar qual a diferença em licenciar um de 192 apartamentos ou dez de 50. 

Na mesma página em que apresenta a matéria sobre Pirenópolis, o jornal noticia, imagino que de propósito, assalto e ferimentos à bala sofridos por três turistas americanos no centro histórico de Salvador.

Andei pelo centro histórico da primeira capital brasileira há cerca de dois meses, por ocasião do 87° Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic), e escrevi alguns posts sobre o descaso gritante com as construções centenárias da cidade, em especial as igrejas. Nada a ver com Pirenópolis, onde as igrejas se dão ao luxo de cobrar taxa de entrada mínima, o que contribui na conservação do acervo recém reformado, e o centro pacato, bem conservado, ainda parece ser seguro. 

A diferença entre os dois casos, além da maresia que ajuda a aumentar o castigo provocado pelos tantos anos sem conservação, é que no caso de Pirenópolis, a classe alta de Brasília e Goiânia resolveu adotá-la como ponto de pouso ou descanso para os momentos em que entrar no avião rumo ao oceano pode ser caro ou estressante demais. Transformaram-na num resort à céu aberto; alienado, pasteurizado e comercial… similar aos tantos que existem próximos à Salvador, os quais embora se valham do prestígio do nome da antiga capital brasileira, afastam o turista do seu centro histórico. 

Fosse eu, o prefeito cobraria mais sustentabilidade da nova construção, ao invés dos meros “transformador e gerador de energia, poço artesiano e tratamento de esgoto próprio”, para que ela se tornasse um marco de virada. No mais, recomendaria ao turista que sai de Brasília à “procura, em Pirenópolis, de descanso e banho de cachoeira, fuga dos centros urbanos” conforme, “diz o turismólogo pirenopolino Luiz Triers, 28". Que vá pela BR 070, e ao passar pela cidade de Águas Lindas de Goiás, dê uma parada para conhecer o Águas Lindas Shopping.
 

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