Parques

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Dionyzio A. M. Klavdianos

Vice-presidente Administrativo-financeiro do Sinduscon-DF
Diretoria de Materiais, Tecnologia e Produtividade (Dimat)
 
No Estadão de domingo, 01/11, caderno especial sobre a vida e obra de Santos Dumont, personagem muito maior que a fama de “Pai da aviação” deixa transparecer. Dentre as ações desconhecidas do grande público está, acreditem, a criação do Parque das Cataratas do Iguaçu. Na verdade, de acordo com a matéria, “o parque do Iguaçu só seria criado em 19 de janeiro de 1939, por decreto do então presidente da República Getúlio Vargas”, todavia a história começou pra valer em 1916, “quando” após visita aos Estados Unidos, Chile e Argentina, o inventor foi às Cataratas do Iguaçu. Do lado argentino cruzou para o lado brasileiro e, ao ser informado de que as cataratas eram propriedade particular do uruguaio Jesus Val, resolveu ir à Curitiba propor ao mesmo não presidente do Paraná a desapropriação da área e a criação de um parque… Em 8 de maio, foi recebido pelo então presidente do Estado, Affonso Alves de Camargo, e o convenceu a desapropriar as terras das cataratas, o que foi feito menos de 80 dias depois, pelo Decreto 653, de 28 de julho de 1916.”  

Embora milionário e mundialmente reconhecido, Santos Dumont não se furtou de, segundo a matéria, enfrentar “mais de 300 km pela mata virgem, seguindo pela linha aberta pela Comissão Telegráfica General Bormann, do Exército, com um soldado e o encarregado de manutenção da linha”, por seis dias seguidos, além de carro e trem até Curitiba, em favor da brilhante ideia.

Hoje, o município é um dos três mais visitados para lazer no Brasil e há uma estátua a 100 metros das quedas em sua homenagem, a qual pretendo visitar em maio de 2016, por ocasião do 88° Enic. Aliás, penso se não seria o caso de homenagear com pauta específica na Comissão de Materiais e Tecnologia (Comat), aquele que segundo Guto Lacaz, curador da exposição Santos Dumont Designer, foi muito mais que herói e pai da aviação, mas “...um cientista, autodidata, pioneiro do design”. 

Na quinta feira passada, 29 de outubro, a Anielle, jovem de 23 anos e, provavelmente, a maior autoridade brasileira em construção com impressora em 3D, https://paraconstruir.wordpress.com/2015/10/30/anielle-autoridade-brasileira-em-construcao-com-impressora-em-3d/, reclamou do fato de seu trabalho ser mais valorizado fora do país.  Brinquei dizendo que até mesmo Pelé é mais respeitado no exterior. A reportagem do Estadão mostra que o pouco caso em relação a fenômenos como ela, Pelé e Santos Dumont parece ser centenária.

Na Folha de ontem, 02 de novembro, a colunista Raquel Rolnik expõe suas impressões das visitas que fez ao High Line Park, uma experiência bem sucedida da comunidade e prefeitura da cidade americana de Nova York, de reabilitação de uma estação de linha férrea abandonada há mais de 20 anos e transformada em parque público em 2009. 

Segundo Raquel, “trata-se de um excelente projeto paisagístico que, com soluções simples e aproveitando a antiga estrutura e materiais, tornou-se um belo parque público, rapidamente apropriado por moradores e visitantes da cidade”. 

Acontece que ela está preocupada com os “efeitos colaterais” eminentes. A indústria imobiliária, com o auxílio de projetos contratados junto a grifes internacionais de arquitetura, por exemplo, Frank Gehry, Zaha Hadid…, já se apropriaram dos arredores e chegam a vender apartamentos por 25 milhões de dólares. Enquanto isto, “moradores dos dois conjuntos de habitação social existentes na região, Elliot e Fulton Houses, construídos entre os anos 40 e 60, e aqueles que vivem no que restou do estoque de moradia de aluguel controlado no bairro já sentem o fechamento de estabelecimento que os atendiam, como restaurantes e comércios populares, além da alta de preços.”

Aqui em Brasília, na cidade satélite da metropolitana, existe um lindo parque, que é fruto da mistura de posição geográfica privilegiada, imerso que está em mata de cerrado, adoção pela comunidade e ação do governo na criação de benfeitorias.

Próximo dele há uma das mais movimentadas estações de ônibus e BRT do trajeto Plano Piloto - Gama - Santa Maria, respectivamente, centro de Brasília, cidade satélite e entorno da capital.

Uma espécie de espaço de convívio surgiu espontaneamente nos arredores da estação. Ação em muito motivada pelo descuido do governo com o acabamento e paisagismo em torno das obras de infraestrutura. O local é ocupado pelos passageiros dos citados transportes urbanos, por moradores da região, funcionários e patrões, demais habitantes dos arredores, notadamente crianças em idade escolar, que utilizam a passarela de pedestre para se dirigirem a uma grande escola pública ali próxima e trabalhadores rumo ás residências ou ao cinquentenário comércio local.

Se milhares de pessoas passam por lá diariamente, nada mais natural que surjam camelôs e ambulantes para serví-los. Tal fato transforma o local, notadamente às sextas feiras, num verdadeiro mercado popular.

Sempre que passo por lá, vislumbro um parque nos moldes do que existe na metropolitana. Com espaço para lazer, quiosques, estacionamentos, travessia para pedestre, calçamento, drenagem e demais comodidades que fazem por merecer os habitués de lá. Já levei o pleito a conhecimento de representantes do governo, mas ainda não obtive resultado. Talvez levá-los para comer um churrasquinho lá numa sexta qualquer ao final da tarde, contribua com a sensibilização.

Quem dera se em 2016, quando o Brasil comemora os 110 anos do voo do 14 bis, inaugurássemos a Estação Parque Santos Dumont, em homenagem ao cidadão, que utilizou tão bem sua genialidade nata em favor da humanidade. 
 
 
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