A mais importante obra de Engenharia

A mais importante obra de Engenharia
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Dionyzio A. M. Klavdianos
Vice-presidente Administrativo-financeiro do Sinduscon-DF
Diretoria de Materiais, Tecnologia e Produtividade (Dimat)


Qual foi a mais importante obra de Engenharia da qual você já participou? Para uma resposta precisa, é necessário que eu defina o critério, não é mesmo? Tamanho, impacto, significado pessoal, valor financeiro…

Mas alguma vez você já havia parado para pensar neste tema, ou só agora, provocado pela pergunta?

A quantidade de pessoas que afetamos por causa de determinada obra… Por exemplo, os engenheiros envolvidos no projeto e na construção do veículo leve sobre trilho (BRT), que liga a cidade satélite do Gama à Brasília, pensaram no transtorno desproposital que causavam diariamente a milhares de pessoas, obrigadas a conviver por quase três com obra lenta, sem rigor de planejamento e pessimamente sinalizada? E os que se envolveram com a trincheira que modificou significativamente a forma com que se dá acesso ao balão do aeroporto da capital? Pensaram no perigo porque passa um avô motorista que, eventualmente, teime em buscar seu neto no aeroporto, tamanha a dificuldade em se convergir para acessos obtusos e minimalistas? Avô que, aliás, poderia ser o próprio pai de um deles.

Tenho uma obra escolhida para cada critério apresentado no primeiro parágrafo, mas a mais importante obra de engenharia em que me meti nos últimos anos foi a de uma escada, que custou à comunidade grega a bagatela de R$7.000,00.

Havia o muro de contenção antigo, utilizado para conter o talude em volta de duas quadras poliesportivas, construídas nos primórdios da década de 1980, e que fora em parte destruído, há dois ou três anos atrás, em virtude da enxurrada provinda de uma destas fortes chuvas de final de ano.

Ver aquele muro incomodava. Símbolo do nosso marasmo enquanto comunidade, mas ele continuava lá, servindo, no máximo, de abrigo para cachorra de rua recém parida esconder suas crias do tempo.

Por ocasião dos 50 anos da comunidade, o desafio era colocar aos menos 1.000 pessoas em cada um dos dois dias de festejo. Mas como? No salão coberto não caberia um quarto dos convidados. As quadras seriam a única solução. Mas como? Há anos abandonadas.

Veio então a ideia de transformar aquele buraco em acesso. Em vez de fechá-lo, o escancararíamos. E por onde antes vazava um rio de água, foi como se tivéssemos construído uma ponte, pela qual passou um tsunami de gente durante as festividades. 

Algumas reformas de serralharia, pintura da quadra, com direito à estilização da bandeira no piso, posteriormente repintada, porque na Grécia é senso comum não se pisar no pavilhão, revisão das instalações hidrosanitárias e elétricas e, por fim, muita sinalização.

Tratei com carinho da sinalização, pois desde que lera a nova versão da ABNT NBR 9050, norma de acessibilidade, ficara surpreso com a qualidade do conteúdo relativo a este item. Qual não foi minha satisfação quando profissional afeito à área, que prestigiou a comunidade no dia da festa, me procurou para elogiar o zelo que tivemos justo com a sinalização.

A obra completa de reforma nos custou em torno de R$ 30.000,00, entre material e mão de obra. Meus honorários não cobrei embora a recompensa tenha vindo ao término dos dois dias de comemoração, na forma de um BDI intangível e imensurável, daqueles que se o Tribunal de Contas tomar conhecimento, certamente abrirá processo.  

Com R$ 30.000,00, construímos uma escada, construímos uma ponte pra ligar gerações.

 

 
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