Fugir da mesmice

Fugir da mesmice
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Dionyzio A. M. Klavdianos
Vice-presidente Administrativo-financeiro do Sinduscon-DF
Diretoria de Materiais, Tecnologia e Produtividade (Dimat)


Na última quinta-feira, 17 de setembro, o site Fato Online de Brasília nos procurou para discorrermos sobre a norma técnica de reforma, NBR 16.280: 2014, que entrou em vigor em abril passado.

Gosto do tema, e em que pese termos tratado especificamente da norma apenas no final da entrevista, deu para aprofundarmos a discussão. 

Construir é caro, reformar mais ainda. Natural que quem opte por fazê-lo sem assessoria técnica especializada procure economizar na mão de obra, já que quanto a materiais, seu poder de barganha é limitado aos balcões das grandes varejistas, que por sua vez contam mesmo é com a ascendência dos profissionais de marketing dos principais fabricantes.

Esta norma é outra norma de bom conteúdo técnico e que, lamentavelmente, o setor deixou que a imprensa a estigmatizasse como mero instrumento de elevação de custos. 

Informavam à época… “agora, para reformar sua casa você terá de chamar o engenheiro”. O porquê de cometerem estas liberalidades conosco e não fazerem o mesmo com a advocacia ou medicina é bom tema de dissertação…

De resto, norma nenhuma obriga nada a ninguém, notadamente no Brasil, onde, exceção feita à norma mãe de concreto armado, não gozam de status de lei. 

Na folha de domingo, 19 de setembro, o título inusitado: “Arquitetos premiados fazem nova casa de doméstica na zona leste de SP”. 

Segundo a matéria “a nova casa da empregada doméstica Dalva Borges Ramos, 74, na Vila Costa Melo, estampará as próximas edições de pelo menos duas revistas de arquitetura do Brasil”.

Nada de jogada de marketing. 

Em que pese o fato de ter sido contratado “… o escritório Terra e Tuma, ganhador de prêmios como o da AsBEA (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura) no ano passado e representante do Brasil em bienais no Equador e na Holanda”, o processo de escolha seguiu o ritual padrão da “apresentação por um conhecido”.

Informa a matéria “o filho de Dalva, Marcelo Borges Ramos, 41, técnico de informática, viabilizou a empreitada”, pois “ele era um conhecido. Parece piada: ex-marido da amiga da prima da minha esposa”, conta o arquiteto Danilo Terra.

O que devemos relevar do que foi destacado na matéria não é a contratação de um escritório famoso, mas a contratação de um escritório especializado, como prevê a norma de reforma, para cuidar do projeto da construção da nova casa, pois a antiga ameaçava ruir!

O custo da obra foi de R$ 150 mil, economizados desde 1965 segundo dona Dalva, e abrangeu todos os projetos, demolição, fundações, a até ancoragens das casas vizinhas. 

Aliás, sugiro àquele interessado em defender a importância da norma de reforma que, em vez de usar o surrado exemplo “das três torres comerciais que caíram no Rio de Janeiro”, utilize argumento mais ameno, como o apresentado na matéria, onde o escritório especializado guiou os contratantes utilizarem “… acabamentos crus, para diminuir custos… estética valorizada na arquitetura moderna”.

Ao final, todos satisfeitos. Marcelo, o filho da dona Dalva vaticina: “É possível, mesmo com poucos recursos, fazer algo funcional e contemporâneo, fugir da mesmice”.

E para quem acha que a história contada é mero exemplo de caridade… Ao serem indagados pelo repórter se repetiriam a experiência, os arquitetos responderam: “Sim, mas é uma situação particular, eles tinham todo o dinheiro guardado e confiaram no nosso trabalho”.

A matéria não cita o nome das revistas que estamparão na capa matéria sobre a casa, mas o interessado na norma de reforma poderá adquiri-la no site da Associação Brasileira de Normas Tecnicas (ABNT), se for profissional do Crea ou CAU, pela metade do preço.

 
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