Entre os eixos do DF

Entre os eixos do DF
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NÚMEROS RELEVANTES

• Participação da indústria na economia do DF: 4,6% em 2020 e era 8,7% em 2002
• Em outros estados: 20% a 25% em 2020
• PIB construção civil: 55,9% da indústria e 2,5% do total da economia local em 2020; e 66,3% e 5,5%, respectivamente, em 2002
• 70 mil dos empregados formais gerados na cidade e mais 70 mil advindos do entorno,

Prestes a completar 63 anos, Brasília já é a terceira maior cidade do Brasil.

Uma vitória, que poderia nos orgulhar ainda mais não fosse o crescimento exponencial da ocupação ilegal da terra, a despeito dos esforços perpetrados pelos dois últimos governos. Não custa mencionar que a pior chacina jamais vista em Brasília, que ceifou a vida de 10 pessoas de uma mesma família ocorreu por conta de conflito de terra, terra ilegal.

No que tange à indústria, da qual faz parte o Sinduscon-DF sua participação na economia local foi de 4,6% em 2020, caindo, portanto, em relação aos 8,7% de 2002. Por razões peculiares do DF essa participação é bem menos expressiva que a de outros 5 estados de economia pujante, SP, RJ, MG, PR, BA, todos na casa de 20 a 25%.

No que tange à construção civil, contribuímos em 2020 com 55,9% do PIB da indústria e 2,5 % do total da economia local, enquanto em 2002 os valores eram 66,3% e 5,5% respectivamente. Nossa participação no PIB da indústria é bem superior a dos setores da construção civil nos estados citados acima, que varia entre 14% a 20%. Mais uma vez, graças as peculiaridades de Brasília. O fato de uma cidade começar a ser construída no nada e do nada e tornar-se a terceira do Brasil em tão pouco tempo só foi possível em virtude da participação intensa do setor da construção . Importante que se frise que a história de Brasília se confunde com a da própria engenharia nacional. A década de 1950, quando a cidade começou a ser construída, foi de grande transformação para a engenharia no mundo, e o despontar da arquitetura moderna motivou a efetivação em definitivo de sistemas construtivos inovadores como o concreto armado. Brasília foi o campo de prova para a consolidação deles no Brasil .

A indústria da construção local cumpriu e até hoje cumpre seu papel! A seguir alguns marcos;

Construção nas décadas de 1960 a 1980 das cidades satélites previstas no projeto original de Brasília, casos do Guará, Taguatinga e Ceilândia.

Desde o início dos anos 2000 e até hoje consolidando o bairro de Águas Claras , por muitos anos o maior canteiro de obras da América Latina, e a despeito de problemas relacionadas a infraestrutura, pode ser considerada exemplo de cidade moderna, dispondo de bom adensamento urbano (300 hab/he), acessível por metrô, comércio pujante e famílias de diferentes classes sociais convivendo em proximidade .

Antes de Águas Claras, primórdios dos anos 1990, a construção de Samambaia, nosso último bairro planejado, já havia iniciado e quase que concomitante contribuímos com a viabilização do Sudoeste, que ameaçava cair no limbo por conta da derrocada da Encol.

Por fim, ajudando a tirar do papel o bairro do Noroeste no centro tombado, com projetos fornecidos pela Ademi DF. A primeira etapa do bairro, por volta de 2010, foi um sucesso de oferta e demanda, embora até hoje as construtoras paguem pela disposição em assumir riscos, acionadas que foram judicialmente por conta das contrapartidas de infraestrutura, que caberiam ao governo por lei, não terem sido cumpridas a contento e no prazo obrigatório.

O setor de construção local é tão vigoroso que na época do surto chinês de crescimento, pelo qual passou a construção civil nacional em torno do ano de 2010, construtoras de renome nacional vieram para Brasília disputar mercado e não se firmaram. Hoje, além de ao menos quatro empresas genuinamente locais de porte das nacionais, há uma gama de outras incorporadoras construindo legalmente em praticamente todas as regiões administrativas onde haja oferta de lotes legalizados e os códigos de implantação e obras permitam oferecer imóveis de qualidade e desempenho a preços competitivos.

No que tange às empresas de obras públicas, cita-se notadamente sua contribuição durante todo o período de implantação da infraestrutura da capital, do período da construção até primórdios da década de 1980.

Outro marco foi a implementação do Metrô, cujas obras só ganharam celeridade quando as mega empreiteiras brasileiras que venceram a licitação terceirizaram serviços para as locais. A partir daí o setor passa a sofrer por conta da inação em que caiu a cidade a partir de 2009, em virtude de crise política.

Nos últimos quatro anos, quando enfim pacote significativo de obras é lançado e faturas pagas em dia, grandes obras, previstas para lançamento há mais de uma década, estão enfim acontecendo, a despeito dos quase três anos de pandemia de COVID e seu impacto trágico no aumento repentino e exponencial dos preços de insumos.

Alguns pontos são prioritários na consideração de um futuro em que a indústria eleve sua contribuição na economia local. Salientando antes que a análise da redução pela metade da participação da indústria no PIB local, algo nem de longe visto nos demais estados que analisamos, talvez possa nos ajudar na busca de bons caminhos.

1. PPCUB – o atraso de 20 anos na aprovação do PPCUB é inadmissível. No limite pode levar à perda do título de patrimônio mundial da Unesco, o que seria uma tragédia do tamanho de uma intervenção federal. A cidade se dinamiza naturalmente e não pode ter mais como parâmetros arquitetônicos e urbanísticos os mesmos da sua criação. O centro tombado que poderia ter 500 mil moradores hoje não tem nem metade . Uma população que envelhece e não é reposta, um bairro caro e viável financeiramente a uma classe social apenas torna-se inseguro , um dos resultados, por exemplo, é o surgimento a todo o tempo de gradis de isolamento do pilotis. Uma afronta ao projeto original de Lucio Costa!

O texto do PPCUB hoje pronto, já bem debatido na câmara técnica do CUB e aperfeiçoado graças à contribuição da entidades diversas representativas de amplo espectro da sociedade, pode não ser o ideal, mas o feito é melhor que o perfeito. Devemos deixar preciosismos de lado e colaborar para que seja recebido logo na Câmara Legislativa e lá, aprovado ainda no 1º semestre de 2023.

2. Abertura de novos bairros legalizados, adequação, nos casos devidos, da destinação de terrenos para utilização em programas de moradia social, financiados com base em engenharia financeira customizada para que não haja gasto de dinheiro público.

3. Investir na integração do entorno de Brasília. No caso da indústria da construção, 70 mil dos nossos empregados formais veem do entorno, metade do total. Investir em mobilidade urbana , por exemplo, é premente. Temos 2 milhões de vizinhos morando ao nosso lado, que seja uma população dinâmica, sadia e com indicadores sociais similares aos nossos.

4. Investir em tecnologia. Brasília foi criada sob a égide da Universidade de Brasília , hoje uma das mais importantes do Brasil e constante em rankings mundiais de desempenho. É uma cidade nova , modernista , com sua primeira geração nativa já em postos de comando de todos os setores da economia. A título de curiosidade, a UnB oferece 14 cursos distintos de engenharia e a USP, a maior do Brasil, 17, três a mais apenas. Precisamos explorar tal potencial. O lançamento enfim do primeiro campus da Universidade Estadual de Brasília, anunciada pelo governador na posse, dentro do Biotic, ajudará a dinamizar o polo de inovação, que conta com o apoio da FIBRA.

5. Investir em Cultura. Brasília é cidade de alto poder aquisitivo e escolaridade. A quantidade, variedade e qualidade do que é oferecido em termos de arte e cultura precisa ser compatível com o status de capital e terceira metrópole urbana do país. Investir na revigoração de equipamentos públicos é determinante; a reforma do MAB, início das obras do Teatro Nacional, da concha acústica são alvissareiros, mas o a população precisa ter condições de pagar pelo evento e facilidade de acesso ao local por meio de transporte público.

Conclusão

Brasília precisa voltar a normalidade política logo. A queda recente em seus indicadores sociais, educacionais e de saúde prospectados pelo CODESE no ano passado tem a ver também com o período turbulento inciado em 2009 e só a partir de 2016 paulatinamente amainado. Obras emblemáticas, como Drenar DF, Túnel, ampliação do ramal do Metrô servem apenas para quitar parte de um passivo de anos com a sociedade. Precisamos de tranquilidade e harmonia agora para dar conta do que é estruturante de fato.

Os que fazem parte da classe privilegiada e os representantes das diversas instâncias do poder público precisam fazer mais para que o sonho de Dom Bosco se torne enfim realidade.

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