Sergipe V - Epílogo - A comida

Sergipe V - Epílogo - A comida
Compartilhe:

Fosse o Anthony Bourdain*, sentaria numa das mesas de plástico vermelhas perfiladas e pediria o prato feito com carne cozida que me chamou a atenção logo na entrada do mercado municipal Antônio Franco, mas Gicelene só tinha olhos para o restaurante Instagramável na cobertura do prédio.

Ainda sigo a surrada edição de 2013 do Guia Quatro Rodas. Se o restaurante consta na última edição da bíblia do viajante e perdura até hoje é porque é bom. Como exemplo da excelência do Guia, vejam como fazem referência ao “O Miguel”: “onde a estrela… é a carne de sol. As peças de filet-mignon chegam ao restaurante, são cortadas, salgadas e descansam em câmara frigorífica por 24 horas. Depois disso, são assadas na brasa. O alto e suculento bife é servido com cremoso pirão de leite e farinha d’água ou farinha de manteiga.” Queria comparar com a que comi em Teresina-PI, mas não deu, estavam de recesso…

Qual prato irá me fará voltar à Aracaju? Por conta da desproporção entre o sabor da comida e a simplicidade do preparo, o Vermelho servido inteiro na beira da praia de Atalaia, preparado na fritura em uma barraca meio que camuflada entre dunas e coqueiros. Também o espeto de manjubinha na foz do Rio São Francisco. Anthony Bourdain referendaria minha escolha.

O site Taste Atlas (olha aí indicação de novo!), "referência como guia de viagem para comidas tradicionais”, indicou a picanha como o segundo colocado dentre as cem melhores comidas típicas do mundo. Por que não a moqueca, pensei logo?! E não há de ver que está em 49º lugar no ranking! Ok, vaca atolada está em 29º, mas no caso da moqueca, qual brasileiro torceria o nariz? Feijão tropeiro ficou em 50º.

Comi moqueca boa em Aracaju. Uma rendeu bonita história. Uma vez, a carioca Eliane, proprietária de famoso restaurante homônimo na beira da praia, embora nunca tivesse cozinhado na vida, foi informada pela cartomante que seu futuro estava na culinária. Não acreditou, mas passado o tempo viajou para Jandaíra-SE, onde morava o pai. Lá chamou sua atenção a movimentação intensa de caminhoneiros e a ausência de restaurantes, então resolveu abrir uma cantina. Um dia foi chamada para reforçar a equipe de cozinheiros de um evento, sua comida caiu no gosto de político forte no estado e daí não parou mais…

Chegamos em Aracaju já era noitinha. Dia 25, Natal, e a primeira iguaria que comemos foi o pastel de Pitu no restaurante da Eliane. Na véspera da nossa partida da cidade, encontramos enfim a ansiada carne de sol de filet, mas no Carro de Bois. Começou bem a viagem, terminou melhor.


*Anthony Bourdain - Chef e crítico de culinária, escritor, apresentador e desbravador do mundo atrás de sabores e histórias especiais. Morreu cedo demais :(

Nem falei das pingas…

Voltar