Uma TV nova a cada ano para a casa que nunca terá

Uma TV nova a cada ano para a casa que nunca terá
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Dionyzio Klavdianos
Presidente do Sinduscon-DF

A TV de 32 de tão leve chega debaixo do braço do entregador, como se pasta fosse.

Me vem à lembrança o técnico da Philips quando apontava na rua empunhando uma mala grande e pesada, cheia de transistores, fusíveis, válvulas e qualquer peça a mais de reposição fosse necessária para garantir o funcionamento da TV de 20”, comprada a tempo de nos maravilharmos com o jogo e o laranja da camisa da Holanda na copa de 1974, a primeira a cores assistida em nossa casa.

Artesão que era, conseguiria o técnico da Philips ao menos configurar a TV do século 21?

No filme ''Um tigre branco'', patrão e motorista assistem à partida final de críquete pela TV em condomínio nobre da cidade de Nova Delhi na Índia, cenário e cena pouco comuns de se ver em filmes ambientados no país.

A vista do conjunto de prédios me faz lembrar de outro que “vi” na mesma cidade na exposição ''Quem é Responsável'', organizada pelo Instituto Moreira Sales entre novembro de 2019 e janeiro de 2020, em que o cineasta alemão Harum Farocki mostra como é executado o mesmo processo produtivo em diferentes países. De diversas indústrias, no caso da construção civil o escolhido foi a alvenaria.

Na obra da cidade indiana, além de arcaico o processo era prosaico, ao menos para aqueles que não conhecem a fundo cultura e costumes locais; enquanto marido e mulher preparam massa e assentam tijolos, a criança do casal brinca com o carrinho de mão. Mais parece estarem envolvidos na rotina do lar e não trabalhando a dezenas de metros de altura, sem qualquer proteção individual ou coletiva instalada.

Uma TV nova a cada ano para a casa que nunca vai ter.

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