Dionyzio Klavdianos
Presidente do Sinduscon-DF
Li pouco, ou quase nada, de Machado de Assis na escola. José de Alencar me tomava bom tempo com descrições esmiuçadas de ambientes - exagero -, preferi então saltar décadas e me entreter, aí pra valer, com Graciliano e Jorge Amado.
Sua antologia, que ganhei de presente de aniversário, foi direto para a estante e lá assentou por 25 anos, até que ouvisse que o autor se equiparava a Tchekhov como contista. Decidi tirar a prova.
Tirei, e sim, equipara-se.
Os contos com protagonismo de personagens femininos servem de boas vindas a seu universo: intrigantes, misteriosos, de trama clara e bem urdida… embora feitos sob encomenda para jornais e revistas destinados a um público específico – destes trabalhos advinha o seu sustento – não perdem em qualidade.
O reconhecimento vem, contudo, dos contos em que aborda a política, o comportamento social e a psicologia do indivíduo. É onde demonstra com maestria seu talento para a ironia. No conto ''Teoria do Medalhão'' não se faz de rogado ''… guardadas as proporções, a conversa desta noite vale o Príncipe de Machiavel''.
Faz uso também, era admirador de Edgar Allan Poe, da narrativa fantástica e no conto ''A sereníssima República'', mistura a verve com o já referido tom irônico para construir - e por abaixo - sua proposta de arranjo ideal de sociedade.
O ponto alto é ''O alienista'' onde, bem antes de George Orwell e a ''Revolução dos bichos'', é traçado paralelo entre um acontecimento histórico de impacto. No caso de Machado a revolução francesa, com uma fantasia inspiradora e aí Paris se transforma em Itaguaí, Robespierre em Simão Bacamarte, os Sans-cullotes nos canjicas e a casa verde a bastilha a se tomar.
Quando se lê, ainda em tenra idade, meramente com o intuito de se cumprir a grade curricular ou a exigência de exames superiores, está se correndo o risco de não se apreciar o talento do escritor. No meu caso graças ao José de Alencar, guardei Machado de Assis para o tempo certo.
