Descobrimento

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Dionyzio Klavdianos
Presidente do Sinduscon-DF

Na BR 101, nem é necessário placa para registrar a divisa com o estado do Espírito Santo, o verde exuberante da mata atlântica autentica a chegada à Bahia. Esta é a boa notícia, a ruim é que com o fim do trecho sob concessão, percorreremos centenas de quilômetros na principal rodovia de integração brasileira sem sinalização de pista, acostamento e, em certos trechos, desviando de buracos.

Era final de tarde quando chegamos pela primeira vez na península de Maraú. Nem nos preocupamos em ocupar os quartos e fomos eu, Mário Márcio e os meninos jogar bola na praia até escurecer. Ficaríamos por três dias apenas antes de rumarmos para Itacaré, mas mudamos de ideia e prolongamos a estadia. 

Menina em Belmonte, cidade litorânea a cerca de 400 quilômetros de Maraú, Fátima conta que costumava caçar qualquer tipo de bicho ou pássaro na mata atlântica na companhia do irmão. Era o que tinham pra comer.

Na alta temporada, Elisângela ganha um salário mínimo limpando os chalés da pousada. Passado o período, dedica-se à pesca. Preferia a cidade de São Paulo, onde viveu por oito anos e encontrava emprego fácil, mas a saudade da família e o nascimento da filha convenceram-na voltar à Maraú.

Já se vão mais de dez anos que visitei a península pela primeira vez. Terminada as férias, voltei com Gicelene e Maria Luíza para Brasília, enquanto Mário e sua família desciam a BR 101 rumo à Arraial do Cabo, no sentido inverso do que percorri agora.

Naquela época, a floresta de eucalipto de certo já havia superado a mata atlântica como cenário no caminho, substituindo terras outrora utilizadas para pasto ou lavouras antigas e decadentes.

Floresta de redenção econômica para gente como o irmão da Fátima, que cresceu, deixou de correr atrás de bicho e abriu uma serraria onde processa a madeira, matéria prima da celulose. Floresta de redenção econômica como foi a mata atlântica pra tantos povos e nações desde o descobrimento do país.

Belmonte, a cidade de Fátima e do seu irmão, é a menos famosa das que compõem a rota do descobrimento, de certo, segundo ela “— Pelas praias terem sido destruídas pelo avanço da maré.” Não fica muito longe do parque do Monte Pascoal, de entrada bem na beira da BR.

Já é a segunda vez que passamos bem na frente e prometo à Gicelene que vamos visitá-lo. Na terceira juro que cumpro.


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