Crise econômica pode virar saída para o mercado de imóveis de Brasília – Fato Online

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A instabilidade econômica e política e o medo de um calote ou qualquer outra ação radical do governo federal ressuscita a figura do comprador que busca "segurança" trocando ativos financeiros por imóveis 

 

 

Diego Amorim

 

 

Uma das saídas – ou pelo menos um alívio – para a atual crise do mercado imobiliário pode estar justamente no ambiente desfavorável para os negócios, que freou o avanço do preço do metro quadrado na capital federal. Em meio ao momento ruim da economia do país, brasilienses em busca de "segurança" têm migrado parte dos investimentos para a compra de imóveis.

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Coincidência ou não, donos de imobiliárias relataram ao Fato Online que no período em que aconteceram as grandes manifestações de protesto contra o governo nas ruas, aumentou o número de clientes com o discurso de que era preciso apostar em um "patrimônio mais seguro”.
 
Em décadas anteriores, as instabilidades política e econômica ajudaram a formar no imaginário das famílias brasileiras a quase obrigatoriedade de ter casa ou apartamento próprio. O chamado boom imobiliário, a partir de 2009, puxado pela expansão do crédito, desvirtuou essa ideia e transformou o mercado em uma frenética “jogatina”: muito especulador – disfarçado de investidor – ganhou dinheiro com compra e venda de unidades.
 
Agora, com o mercado de Brasília refletindo a turbulência nacional e vivendo seu pior momento em duas décadas, como revelou o Fato Online no último sábado, ressurge a figura do tradicional comprador de imóveis, que, diante do arrefecimento dos preços, tem conseguido cavar boas oportunidades.
 
“Há um forte movimento de pessoas querendo comprar imóvel porque dizem estar com medo de deixar o dinheiro preso. A insegurança política mexeu, principalmente, com quem já viveu confiscos e congelamentos de poupança”, comenta Pedro Fernandes, diretor da Associação Brasileira de Mercado Imobiliário (Abmi).
 
Menos riscos
 
Em momentos de crise – como o de agora –, costuma crescer a procura por imóveis prontos, com carta de habite-se garantida. “É algo natural. As pessoas se preocupam em ter mais solidez e menos riscos”, analisa o vice-presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi-DF), Eduardo Aroeira.
 
Acreditando ou não que o país pode voltar a viver situações, no mínimo, embaraçosas no que diz respeito aos investimentos dos cidadãos, quem tem “bala na agulha” tem conseguido fechar bons negócios. As opções de imóveis aumentaram e a assustadora escalada dos preços perdeu força, como resultado de uma oferta que superou a demanda. “O mercado pode estar ruim para quem vende. Mas está uma maravilha para o comprador”, pondera Fernandes.
 
O Índice Fipe Zap de preços de imóveis mostra recuos nominais, desde o ano passado, no valor médio do metro quadrado em Brasília. Com base nesse indicador, o preço médio de venda no Setor Noroeste – que tem servido de base para a valorização em todo o DF –, por exemplo, registrou uma queda de quase 10% entre junho de 2014 e março de 2015.
 
“Como tivemos um período de valorização muito forte, estamos em um momento de acomodação. É crise, mas, acima de tudo, acomodação”, resume Aroeira. “Digamos que seja uma fase mais normal”, acrescenta.
 
Projetando o menor número de empreendimentos novos desde meados da década de 1990, o mercado brasiliense apostará este ano na geração que insiste em encarar o imóvel como “ativo sólido”, em compradores como o servidor público Andrei Paz, 30 anos. “Cresci com a crença de que imóvel é investimento seguro. Se a crise existe, não tem problema: deve haver uma oportunidade nela. Penso no longo prazo”, argumenta o jovem investidor, que há sete anos diz se dar bem no mercado.
 
Estoque
 
As construtoras têm em estoque, atualmente, cerca de 10 mil unidades em Brasília – 75% a menos do que em 2011, no auge do boom. Mesmo com a redução significativa da oferta, faltam compradores, o que ajuda a explicar a recente queda no preço médio negociado em várias regiões do DF. “Mas o preço parou de cair, está estabilizado. Já voltamos a ver uma tendência de valorização”, defende Marco Antônio Demartini, diretor-executivo da Lopes Royal, a maior imobiliária da Capital Federal. Segundo ele, as vendas da empresa cresceram 17% nos quatro primeiros meses deste ano, na comparação com igual período do ano passado.
 
Independentemente de crise, o mercado imobiliário não deveria ser terreno para amadores ou aventureiros, no entender do educador financeiro Álvaro Modernell. Sobre o atual momento, ele acredita não ser hora de querer fazer dinheiro com compra e venda de imóveis, mas, sim, se for o caso, de encontrar alternativas para aplicar o capital. “O imóvel, mesmo que não traga segurança absoluta, deve ser encarado como bem a ser incorporado ao patrimônio”, reforça Modernell, sócio-diretor da Mais Ativos Educação Financeira. Em tempos de inflação nas alturas, sublinha ele, não é uma boa decisão manter grandes recursos na poupança. "E não tem nada a ver com temor de confisco. É porque a inflação corrói os ganhos", explica.
 

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