Daniel Cardozo
Jornal de Brasília
Para os empresários do setor, maior rapidez nos negócios indica que agora é a hora de comprar
A crise financeira parece ter dado uma trégua pelo menos ao setor imobiliário. Após anos seguidos de resultados desanimadores, 2016 teve um aumento de 27,5% no índice de velocidade de venda. Com menos imóveis novos disponíveis, as vendas estão acontecendo mais rápido e existe a expectativa de que os preços possam subir nos próximos meses.
Os dados são de uma pesquisa da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi) e do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF). Enquanto em 2015, o índice de velocidade de venda ficou em 4%, esse número saltou para 5,1% em 2016, o que é considerado confortável pelo mercado.
Na prática, o índice representa que os empreendimentos pesquisados demoraram, em média, 20 meses para serem completamente vendidos.
O dado pode ser interpretado como um sinal para quem planeja comprar imóveis em breve. O presidente da Ademi, Paulo Muniz, avalia que pode haver alterações nos preços. “Um aumento no índice de velocidade de venda indica que os valores devem aumentar. Existem menos apartamentos à venda a cada dia e o consumidor precisa ficar atento. É hora de comprar imóvel”, afirmou. Os tempos de quedas drásticas parecem ter ficado para trás. Quando o mercado imobiliário ainda estava aquecido, em 2011, a oferta chegou a 18 mil unidades, comercializadas em ritmo lento.
Além da crise financeira, os dirigentes da Ademi e do Sinduscon culpam o Governo de Brasília pela demora na liberação de alvarás de construção e habite-se. “Enquanto em cidades como Vicente Pires vemos construções sendo erguidas sem qualquer tipo de fiscalização ou de geração de impostos, o governo deixa de liberar empreendimentos dentro da lei”, criticou Paulo Muniz.
A estimativa da Ademi e do Sinduscon é que o governo esteja deixando de arrecadar R$ 120 milhões em tributos e taxas como Imposto de Transmissão de Imóveis (ITBI) e Imposto Sobre Circulação de Mercadorias (ICMS).
Em nota, a Secretaria de Habitação afirmou que o habite-se é de responsabilidade das administrações regionais e os casos precisam ser analisados individualmente. Já em relação a análise, aprovação e licenciamento de projetos arquitetônicos, a Central de Aprovação de Projetos (CAP) tem feito as consultas dentro do prazo estipulado por lei para análise, que é de 30 dias.
Bom para quem adquirir
Foram dois meses até o analista de sistemas Henrique Vieira Vaz encontrar o imóvel que queria, um apartamento em Águas Claras. Desde o fim de 2016, ele e a namorada procuravam um imóvel que caísse nos gostos dos dois.
A faixa salarial de Henrique possibilitou que obtivesse o subsídio do Minha Casa, Minha Vida. Além disso, o casal conseguiu desconto de 50% na escritura e no ITBI, por estarem comprando o primeiro imóvel. A maior crítica ficou para os trâmites bancários. “Estamos esperando desde dezembro. As coisas só funcionam depois do Carnaval”, brincou.
“Muitos agradaram, mas no fim ficamos entre dois deles. O lazer completo pesou na escolha e conseguimos um preço bom, diante do que ele oferece”, contou.
O corretor de imóveis Luiz Antônio Capuzzo optou por trocar de apartamento agora por conhecer o contexto do mercado. Apesar de acreditar em um aumento nos preços só no segundo semestre, ele concretizou a compra imediata. “Agora as imobiliárias e construtoras estão oferecendo vantagens como custos cartorários, registros e ITBI de brinde. Isso facilitou muito a minha compra”, avaliou. A queda dos juros no financiamento da Caixa contribuiu para apressar a compra de Luiz Antônio. A escolha acabou sendo por imóvel maior em Taguatinga, onde ele e a família vivem atualmente.
Movimento inverso
Se as vendas melhoraram para casas e apartamentos, o movimento é inverso para imóveis comerciais. O índice de velocidade de venda ficou em 1,6%, em 2016. No ano anterior, foi registrada uma média de 2,6%. Ademi e Sinduscon veem essa queda como reflexo claro da crise financeira. O fechamento de empresas e a menor propensão ao empreendedorismo contribuem para menos vendas de imóveis comerciais.
Ponto de vista
Apesar da recuperação nas vendas, o que é hoje um cenário favorável pode se tornar um problema para o consumidor. Caso os lançamentos continuem enfrentando dificuldades burocráticas, os preços podem subir, já que a demanda por imóveis cresce junto com população. Afinal, moradia é uma necessidade permanente.
“A oferta de imóveis baixou de 14 mil unidades para 8 mil nos últimos anos. É necessário repor a oferta com mais lançamentos”, avaliou Luiz Carlos Botelho, presidente do Sinduscon. A liberação mais rápida de habite-se e alvará é a única solução, para os dirigentes.