Para representantes do setor, taxa de financiamento imobiliário mais baixa do país – de 6,99% – contribuirá para aumento das vendas e consequente geração de empregos no Distrito Federal. Previsão é de R$ 2,5 bilhões em vendas
Alexandre de Paula
Correio Braziliense
Começou a valer nesta segunda-feira (14/10) a taxa de 6,99% ao ano para financiamento imobiliário para pessoa física no Banco de Brasília (BRB). A tarifa, a mais baixa entre os concorrentes e a menor registrada na história do país, anima o setor da construção civil e o mercado imobiliário. Entidades representativas da área apostam no aquecimento da economia com o incentivo à compra da casa própria e destacam que as consequências principais devem ser o crescimento das vendas e da geração de empregos.
A redução da tarifa pelo BRB, adiantada pelo Correio no domingo, segue tendência nacional. A concorrência entre as instituições financeiras e a redução da taxa básica de juros, a Selic, estimularam a derrubada dos valores em busca de potenciais clientes. Esse movimento, para representantes do setor, terá impacto rápido. “É um sinal concreto, efetivo para a área, porque não se trata de um estudo ou de uma avaliação para reduzir a tarifa, mas de uma redução, de fato, das taxas”, destaca o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), Dionyzio Klavdianos.
Para ele, o fato de um banco local, como o BRB, oferecer taxa de juros menor do que a das maiores instituições do mercado estimula a população do DF a investir na compra de imóveis. “Há uma faixa muito grande dos clientes que precisam do financiamento para efetivar o negócio. Essa taxa viabiliza a compra e estimula as vendas. Consequentemente, investe-se mais em lançamentos”, acredita.
As taxas menores consolidarão um crescimento dos negócios que começou a ser percebido em 2019, avalia o presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi-DF), Eduardo Aroeira. Segundo ele, até agosto, o valor geral de vendas alcançou R$ 1,58 bilhão. Em 2018, o número ficou em R$ 1,24 bilhão. “A nossa expectativa é de que, com esse movimento na taxa de juros, consigamos chegar ao dobro do que se conseguiu no ano passado e cheguemos aos R$ 2,5 bilhões”, prevê. A redução da taxa de juros, segundo ele, tem influência positiva no mercado, pois possibilita que mais clientes tenham acesso a casa própria. “Por isso, ampliar o número potencial de clientes se reflete diretamente no aumento de lançamentos.”
Além das grandes construtoras e incorporadoras, a queda nas tarifas tem efeito positivo para pequenas e médias empresas do ramo, avalia o presidente da Associação Brasiliense de Construtores (Asbraco), Afonso Assad. “A redução é muito bem-vinda, porque traz de volta investimentos. Isso, indiretamente, impacta as empresas menores, como as que são associadas a Asbraco, porque elas voltam a ser contratadas pelas maiores. A consequência é o crescimento do mercado como um todo”, argumenta.
Professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Alberto Ramos concorda que a medida é positiva para o mercado em um momento em que o setor não se recuperou completamente da crise financeira. O especialista ressalta, porém, que há variáveis que precisam ser levadas em conta na projeção de crescimento. “A taxa de juros é um dos fatores importantes, mas também deve-se considerar as perspectivas das pessoas em relação ao futuro, a emprego e a salário. Vivemos um momento de incerteza, e o crescimento também depende disso”, complementa.
Condições
O diretor presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, explicou que o crédito imobiliário foi colocado como uma das prioridades da instituição, pois gera relacionamento de longo prazo com os clientes e fomenta a cadeia produtiva da construção civil. “Resolvemos ser bem agressivos”, disse em entrevista recente ao Correio para anunciar a redução.
O índice, de 6,99% ao ano, mais taxa referencial, será aceito para negociações pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH), que vale para imóveis de até R$ 1,5 milhão, e pelo Sistema Financeiro Imobiliário (SFI), em que não há limite de custo. O prazo máximo para o crédito é de 420 meses (35 anos), e até 80% do valor total do imóvel pode ser financiado.
Para ter acesso à linha de crédito, além de ter conta-corrente no banco, o cliente precisa usar outros quatro serviços da instituição: crédito mensal de salário; cartão de crédito; mobile banking ativo; descontos com débito direto em conta. A estimativa do BRB é de que R$ 250 milhões sejam aplicados em financiamentos do tipo. O crédito é direcionado para todos os clientes do banco, mas servidores públicos do GDF contam com valores pré-aprovados disponíveis no aplicativo do BRB.
A servidora pública Samara Cristina Cardoso, 26 anos, é uma das clientes que espera conseguir concretizar o sonho de ter uma casa por meio do financiamento. “Estou louca para sair do aluguel. Busco isso a minha vida inteira. Antes, quando morava com a minha mãe e agora, que estou casada também”, contou. A taxa de juros mais baixa é um estímulo a mais, diz a funcionária do GDF, que se planeja para ajustar as finanças a fim de efetivar o empréstimo.
Colaborou Rayssa Brito (estagiária sob supervisão de Guilherme Goulart)
Crédito
6,99%
Taxa mínima para o crédito imobiliário, mais taxa referencial (TR)
420
Quantidade máxima de meses para o financiamento
80%
Porcentagem máxima do valor do imóvel que pode ser financiada pelo BRB
Palavra de especialista
Efeito positivo
“A redução na taxa de juros do financiamento imobiliário tem impacto na reativação do setor da construção civil, que sofreu muito depois do agravamento da crise econômica. Esse é um espaço de retomada para a capacidade ociosa que se tem. Os bancos fizeram redução bastante expressiva nesse sentido recentemente e agora é muito importante que o BRB venha trabalhar com taxas ainda menores. O efeito econômico é altamente positivo porque o setor da construção civil gera muitos empregos. A área oferta muitos postos de trabalho que não demandam grande formação acadêmica e há muitas pessoas que precisam hoje desse tipo de vaga.”, José Luiz Pagnussat, economista e membro do Conselho Regional de Economia do DF (Corecon-DF).