Marina Barbosa
Correio Braziliense
Não é apenas a alta dos alimentos que está preocupando os brasileiros. Os materiais de construção subiram quase tanto quanto o arroz durante a pandemia do novo coronavírus. Por isso, o segmento da construção civil prepara-se para entregar ao governo, na próxima semana, um estudo sobre os riscos da alta de preços e as possíveis soluções para o problema. O levantamento deve ser finalizado neste fim de semana para ser apresentado aos ministérios da Economia, da Infraestrutura e do Desenvolvimento Regional.
Os empresários do setor tentarão sensibilizar o governo com o argumento de que a disparada pode prejudicar programas como o Casa Verde e Amarela, de habitação popular, lançado recentemente com a intenção de ser uma marca do governo Jair Bolsonaro. Da mesma forma, podem ser afetados os planos de obras públicas do programa Pró-Brasil e de construção de ferrovias, que vem sendo mencionadas pelo presidente nos últimos dias. Além disso, observam que, como o setor da construção é um dos maiores empregadores do país, a redução do ritmo nos canteiros de obras pode aumentar as taxas de desocupação.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o cimento ficou 10,67% mais caro neste ano e o tijolo, 16,86%. A alta vem sendo sentida desde o começo da pandemia, mas acelerou-se nas últimas semanas. Só em agosto, o cimento subiu 5,42% e o tijolo, 9,32%. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) calcula que cerca de 90% das construtoras do país já estão tendo que pagar mais por esses produtos e também por itens como aço, cabos elétricos e concreto.
Diálogo
O Correio apurou que o Ministério da Economia tem mantido um diálogo constante com o setor da construção civil para acompanhar a questão. E o assunto também estava na mesa do presidente Jair Bolsonaro quando ele tomou a decisão de zerar a tarifa de importação do arroz.
O problema só acabou ficando para depois por conta do grande apelo popular da alta dos alimentos. Porém, a expectativa do setor é de que algo seja feito sobre o assunto em breve. “Eles também estão preocupados e estão procurando uma forma de minimizar esse impacto”, disse o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), Dionyzio Klavdianos.
O presidente da Cbic, José Carlos Martins, explicou que a alta dos preços é fruto de uma série de fatores. Ele afirmou que, no início da pandemia, a produção nacional de materiais de construção caiu, devido ao choque econômico causado pelo coronavírus. Porém, a construção foi um dos poucos setores que continuaram funcionando na quarentena e, por isso, a demanda não caiu. E a venda de materiais ainda aumentou depois que muitos brasileiros decidiram adaptar a casa ao novo momento de isolamento social e home office e, sobretudo, depois que o auxílio emergencial permitiu que milhões de pessoas de baixa renda também fizessem pequenos reparos em casa. “Com isso, começou a faltar material em todo o país. E a baixa oferta pressionou os preços”, disse Martins.
Na lista de sugestões do que pode ser feito para conter a escalada de preços, estarão medidas como a que já foi anunciada para o arroz, para facilitar a importação, mas, também, propostas que incentivem a redução das exportações e o aumento da produção nacional de materiais de construção. Klavdianos garante que qualquer alternativa deve seguir as regras naturais de concorrência e mercado. “Tabelamento de preço não adianta de nada, ninguém quer isso. Não adianta tomar uma atitude autoritária de congelar os preços”, assegurou. “O que nós precisamos é de um choque de oferta. Se tiver mais oferta, o preço cai”, reforçou Martins.