Pacote de bondades para afagar a classe média – Correio Braziliense

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Simone Kafruni
Correio Braziliense

Governo prepara linhas de financiamento com juros mais baixos na compra da casa própria. Caixa se antecipa e eleva a R$ 3 milhões o valor máximo de imóveis voltados a clientes de alta renda. Medidas integram agenda de retomada do crescimento

Embalado pelas pesquisas de popularidade, mostrando que metade da população prefere Michel Temer a Dilma Rousseff no comando do país, o governo prepara um pacote de medidas para estimular o crescimento e beneficiar a classe média. O presidente interino quer garantir o apoio político dessa parcela da população e, para isso, deve lançar linhas de financiamento para a casa própria com juros mais baixos. A Caixa Econômica Federal se antecipou e deu um afago às construtoras, estendendo para R$ 3 milhões o valor máximo de imóveis de alto padrão que podem ser financiados pela instituição, sem uso do FGTS — o teto anterior era de R$ 1,5 milhão.

Temer ficou tão empolgado com o resultado das sondagens que, para aproveitar o clima favorável, queria definir as medidas ontem mesmo. Chegou a marcar uma reunião com o núcleo econômico do governo, mas, sem encontrar alguns ministros em Brasília, desistiu. Pega de surpresa, a equipe pediu um tempo para se preparar e o encontro foi postergado para hoje, às 11h.

Algumas medidas podem ser anunciadas ainda hoje, ou na sexta-feira, para contrabalançar o impacto negativo do esperado corte de verbas do Orçamento (leia mais na página 8). "Não virá nada que mexa com o mercado. São temas como a elevação do teto de financiamento da casa própria e medidas para melhorar o ambiente de negócios, mas com algum reflexo social", revelou uma fonte do Planalto. "O objetivo é cuidar um pouco da classe média, que ficou abandonada nos governos Lula e Dilma. Esse pessoal, que bateu panela e não foi beneficiado por nenhum programa social, apoia o presidente Temer", acrescentou.

Ao todo, estão em análise cerca de 20 medidas, que integram uma "Agenda de Desenvolvimento e Reformas para o Crescimento". Elas incluem maior facilidade nas concessões de projetos de infraestrutura e nas privatizações. Será ampliado o prazo entre a divulgação dos editais e a realização dos leilões para garantir que contratos sejam assinados depois do impeachment. A ampliação do crédito para microempreendedores, a securitização da dívida ativa da União e a liberação da compra de terras por estrangeiros também podem fazer parte do pacote.

Demanda reprimida

A Caixa confirmou que as condições de financiamento habitacional para as operações com recurso de poupança, na instituição, serão alteradas a partir da próxima segunda-feira. "No Sistema Financeiro Imobiliário (SFI), o valor máximo de imóveis que podem ser financiados pelo banco passou de R$ 1,5 milhão para R$ 3 milhões", informou, em nota. O SFI financia imóveis com valor a partir de R$ 750 mil e não prevê uso do FGTS.

O teto de financiamento para aquisição de imóveis novos, terrenos, construção, reforma e ampliação subirá de 70% para 80%. No caso de imóveis usados, o limite passará de 60% para 70%. A Caixa destacou que, nas operações de transferência de financiamentos contratados com outros bancos, o percentual permitido irá de 50% para 70%.

"As medidas vão beneficiar o setor da construção, o que mais gera emprego e renda, e contribuir para a retomada do crescimento do país", disse o vice-presidente de Habitação da Caixa, Nelson Antônio de Souza.

Os empresários elogiaram a medida, sobretudo porque afeta o segmento em que há mais imóveis encalhados, cujos financiamentos não contemplam o uso do FGTS. "O crédito imobiliário caiu de R$ 120 bilhões, em 2014, para R$ 75 bilhões em 2015. Este ano, deve ficar em R$ 70 bilhões. Mas parece que o humor começou a mudar", afirmou o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, José Carlos Martins.

Na opinião do presidente da Associação Brasileira do Mercado Imobiliário, Pedro Fernandes, a sinalização do governo é importante. "A classe média foi muito afetada pela restrição de crédito", destacou. O presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal, Paulo Muniz, observou que há uma demanda reprimida. Ele explicou que, atualmente, para cada 100 imóveis lançados, apenas 6,2 são vendidos em um mês. "As mudanças podem provocar uma reação no mercado imobiliário, principalmente na capital, onde a classe média é numerosa", ressaltou.

Fôlego extra

O foco da Caixa em imóveis para famílias de renda mais alta pretende reverter a contração do setor, provocada pelo escasseamento de recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), principal fonte de recursos de financiamento imobiliário. A caderneta de poupança, que lastreia o SBPE, teve perda líquida de R$ 42,6 bilhões no primeiro semestre, pior resultado desde 1995. O volume de financiamento do SBPE para compra de imóveis somou R$ 10,9 bilhões de janeiro a março, queda de 54,6% ante igual período de 2015.

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