Noroeste não é o vilão

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Patrícia Figuerêdo
Assessoria de Comunicação Social do Sinduscon-DF

Tesourinhas alagadas, lojas submersas e carros levados pela enxurrada. Estes são alguns dos transtornos enfrentados pelos brasilienses quando o período de chuvas chega ao Plano Piloto, principalmente nas quadras 2/9/10 e 11 da Asa Norte. Há quem defenda que o grande precursor do problema seja o Setor Noroeste. Porém, um estudo de 2014, elaborado por um professor do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília (UnB), comprova que não há interconexão entre as duas áreas. O Sinduscon-DF aponta que o problema está na falta de infraestrutura.

“Quando se cria uma nova área, ela vira um patinho feio”, avaliou o professor da UnB, Henrique Chaves, referindo-se à culpa pelos alagamentos atribuída ao Noroeste. Segundo ele, a região possui sistema de drenagem independente. “As águas pluviais do Noroeste não passam para a Asa Norte. Elas são interceptadas em uma rede própria de galerias”, frisou. Ele explicou que a enxurrada desemboca nas bacias. Quando uma enche, a água desce para as outras e, dependendo do volume da chuva, podem chegar até o Lago Paranoá.

Apesar da Defesa Civil do DF alegar que existam apenas duas bacias de detenção e que estas não comportam o volume de águas pluviais, o especialista apontou a existência de quatro reservatórios em pleno funcionamento. Tanto a Agência de Desenvolvimento (Terracap) quanto a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa) confirmaram a informação.

O professor Henrique Chaves ainda destaca que a via que cruza o Noroeste conta com bocas de lobo. “Não tem como a água passar. Elas já são uma barreira natural”, disse. Ele foi categórico ao afirmar que não há interconexão entre o Noroeste e a Asa Norte. “É importante que procurem o projeto de águas pluviais e confiram que é um sistema hidraulicamente independente”, sugeriu. Vale ressaltar que registros de alagamentos na Asa Norte acontecem muito antes de o Noroeste existir.

Para ele, a única possibilidade da região contribuir com os alagamentos na Asa Norte seria o Parque Burle Marx, porém, “sua vegetação é o cerrado, portanto, ele conta com muitas áreas verdes, que contribuem para a permeabilidade do solo”.

Por que alaga?

Os alagamentos podem ocorrer por diversos fatores, tais como falta de manutenção das bocas de lobo, sistema de drenagem obsoleto e, também, por ações humanas, como jogar lixo no chão. A Defesa Civil alerta que esta última contribui para o entupimento de bueiros, deixando-os sobrecarregados.

No caso da Asa Norte, o professor Henrique Chaves explica que existem pontos mais baixos. “Na criação do sistema de drenagem, não foram observadas as particularidades dessas áreas que já acumulam, naturalmente, água e sedimentos”, pontuou. Ele destacou que o projeto foi feito da mesma maneira para todas as quadras.

Solução

O vice-presidente do Sinduscon-DF, João Accioly, considera a infraestrutura como a questão mais relevante no caso dos alagamentos. “Infraestrutura é o problema e a solução. É necessário iniciar o quanto antes as obras de águas pluviais e das bacias de detenção na Asa Norte”, ressaltou. De acordo com a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), o processo licitatório de escolha da empresa que comandará os trabalhos aguarda os trâmites burocráticos. A expectativa é de que, até o final da gestão Rollemberg, as obras sejam concluídas.

O professor Henrique Chaves acredita que, para reduzir os alagamentos, devam ser feitas limpezas profundas e manutenções frequentes. Ele considera que a população tem papel fundamental no sentido de mostrar onde está o problema. “Sempre que vejo algum bueiro sem limpeza ou algo que possa contribuir para os alagamentos, aciono os responsáveis e eles resolvem”, disse. Para Chaves, o governo executa, mas a população também tem que exercer seu papel. 

A Adasa considera que esses impactos ambientais podem ser controlados por diversas medidas preventivas. “Os empreendedores devem ser incentivados a desenvolverem soluções sustentáveis capazes de reter os volumes gerados pelas intervenções, e que não transfiram para a cidade os impactos gerados pela impermeabilização”, ressaltou a reguladora de Serviços Públicos da agência, Carolinne Gomes.

“Ou se refaz o sistema de drenagem da Asa Norte, incluindo bueiros e bocas de lobo, ou vai continuar alagando”, afirmou o subsecretário de Proteção e Defesa Civil do DF, Sérgio Bezerra. Enquanto isso, ele sugere que a população fique alerta no próximo período chuvoso. Retirar os carros das garagens e evitar as tesourinhas são algumas opções.

Projeto para a Asa Norte

A Terracap pronunciou-se sobre um projeto de implantação de bacias de detenção subterrâneas na Asa Norte, os chamados “piscinões”. Segundo o professor Henrique Chaves, são grandes depósitos subterrâneos que comportariam as águas da chuva, impedindo-as de chegar às partes baixas. Gradualmente, elas iriam sendo liberadas por sistemas de bombeamento. “Ao invés da água ficar nas tesourinhas e nas pistas, ela ficaria nessas bacias de detenção”, explicou.

E para o Noroeste?

Há um “Plano de Controle de Processos Erosivos e de Sedimentação do Bairro Noroeste”, elaborado pelo professor Henrique Chaves, que apresenta ações de caráter corretivo, para possíveis impactos originados pelas obras de construção no setor, tais como erosão e assoreamento dos condutos de águas pluviais e do Lago Paranoá. 

Nos quesitos que competem à Terracap, o plano já foi aprovado. Agora, ele foi submetido à análise do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e da Adasa. O objetivo do plano de controle é evitar que os problemas que ocorrem na Asa Norte se repitam no Setor Noroeste. O Sinduscon-DF destaca que as obras de infraestrutura da região também são importantes. A Terracap tem até 2018 para concluí-las.


Professor da UnB, Henrique Chaves, afirma que
não há interconexão entre a Asa Norte e o Noroeste

 

 

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