Memórias de quem viu e fez

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Gabriela Walker
Correio Braziliense

Em meados de 1958, a família do engenheiro se tornou a primeira a receber uma habitação definitiva do Plano Piloto — uma casa na 711 Sul. “Não tinha nenhuma rua em Brasília, exceto o Eixo Rodoviário e o Eixo Monumental, onde um trator tinha tirado a vegetação”, recorda-se. Para chegar ao colégio Dom Bosco, instalado na Cidade Livre, agora Núcleo Bandeirante, ele tinha três opções — ir a pé, de bicicleta ou de carona — prática que, na época, era comum. “Caminhão e jipe vazio não existia, andava todo mundo dentro”, conta.

 

Luiz Carlos acompanhou a concepção da W3 e o trabalho dos operários que abriram valas para a instalação das redes de águas pluviais e de esgoto. “Tinha empresa que empregava 3 mil pessoas só pra abrir buraco”, diz. Ele se recorda da dificuldade em conseguir materiais e conta que muito “precisou ser improvisado”. “O Brasil não produzia aço galvanizado, o cimento vinha de caminhão toco para cá, levava dias. Telefone? Não existia. A comunicação era por rádio amador”, acrescenta.

Projeto Rio-Brasília

Do primeiro emprego na Novacap (Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil), onde o pai, Naynor Alcebíades Ferreira, trabalhava como auditor fiscal, Luiz Carlos teve quase uma dezena de profissões, como a de professor e motorista de táxi. Formado em engenharia civil pela Universidade de Brasília (UnB) em 1971, ele passou a integrar o quadro de uma empresa carioca, que mantinha uma subsidiária na capital. Em 1979, abriu a LDN Empreendimentos, na companhia dos amigos Dagoberto Ornellas e João Dagmar Nardotto. Ainda pequena, a empresa “aceitava qualquer trabalho” e assim cresceu.

 

Há mais de 40 anos atuando como engenheiro, Luiz Carlos perdeu as contas de quantos projetos participou, mas lembra, em detalhes, das obras que o marcaram. Entre elas, a construção dos viadutos que ligam as asas Sul e Norte, inaugurados em 1975. “Meu computador era folha de papel quadriculado, lápis, borracha e carbono”, brinca. Enquanto os cálculos eram feitos in loco, o restante do projeto era elaborado no Rio de Janeiro. Para juntar os trabalhos, ele contava com a ajuda de desconhecidos, abordados no aeroporto. “A gente normalmente escolhia uma pessoa que estivesse com uma roupa colorida para ajudar na identificação, e ninguém nunca se recusou a levar”, garante.

 

 

Cidadão honorário

 

Presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF) desde 2014, Luiz Carlos atuou em diversos cargos públicos e organizações empresariais. No fim de 2017, recebeu o título de cidadão honorário de Brasília. “Me emocionou, porque tem pouco pioneiro vivo na cidade, menos ainda trabalhando. E eu estou aqui, produzindo soluções”, afirma.

 

Luiz Carlos é casado há 48 anos com Suely de La Rocque Ferreira, tem quatro filhos e sete netos, todos nascidos em Brasília. Para o empresário, que entende trabalho como um sinônimo para a vida, aposentar-se não faz parte dos planos. “Tenho 65 anos de trabalho, posso diminuir o ritmo, mas aposentar, nunca”, resume.

 

 

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