Blog do Chiquinho Dornas
Matéria publicada em DEZEMBRO DE 2015
O Lago Paranoá terá mais uma ponte sobre o espelho d’água. A obra será erguida ao lado da barragem do Paranoá e ligará a DF-001 à Estrada Parque Dom Bosco (EPDB). Dois fatores pesaram na decisão do Governo do Distrito Federal (GDF). Em relatório entregue em junho ao Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF), a Companhia Energética de Brasília (CEB) expressou preocupação com o expressivo aumento do tráfego de veículos na via sobre a barragem — construída, inicialmente, para possibilitar vistorias na Usina Hidrelétrica do Paranoá. O outro motivo diz respeito à necessidade de melhorar o trânsito no local, que está saturado.
A usina da região tem capacidade de geração de 24MW. Isso corresponde a 2% da carga do DF ou metade da necessidade de uma cidade do porte do Guará (48MW). Quando o represamento do lago foi concluído, no início dos anos 1960 (leia Para saber mais), não se imaginava que o assentamento dos candangos responsáveis pela obra viraria uma cidade — o Paranoá — e que, depois dela, viriam o Itapoã e os inúmeros condomínios na região. Assim, a via que seria usada apenas para permitir a manutenção da usina hidrelétrica se transformou em uma das principais ligações entre essas regiões administrativas e o Plano Piloto, onde a maioria da população trabalha.
O diretor-geral da CEB Geração, Paulo Afonso Teixeira Machado, diz que a preocupação com o fluxo de veículos — que chega a 20 mil por dia segundo o DER — na área se deve a vários fatores. “A pista não foi projetada para receber esse tanto de carro. Até engarrafamento tem em cima da barragem, e nos preocupa o risco de acidentes de trânsito que possam comprometer, por exemplo, o vertedouro, a abertura por meio da qual controlamos o nível de água”, explica. Machado cita ainda as fissuras no asfalto que aumentam o risco de infiltração. “O DER faz a manutenção periódica da massa asfáltica. Quanto maior o trânsito, maior é o desgaste. Queremos evitar riscos e comprometimentos da segurança da barragem relacionados ao trânsito intenso que se apresenta ali”, defende.
A pesquisa mais recente da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) aponta que Paranoá e Itapoã, juntos, abrigam 109 mil habitantes. Segundo Henrique Luduvice, diretor-geral do DER, o trânsito no local ficará ainda mais sobrecarregado com a implantação de pelo menos três projetos do governo para a região: o Itapoã Parque, o Paranoá Parque — conjuntos habitacionais do programa Morar Bem — e a instalação do Polo Tecnológico. “A ponte é uma obra que vai resolver uma demanda do presente e se antecipa a um problema do futuro tanto do ponto de vista do trânsito, quanto da segurança da barragem”, diz.
Concurso
O modelo da ponte e o local exato serão escolhidos por meio de um concurso nacional promovido pelo governo, em parceria com o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-DF). “A ideia é que o vencedor seja contratado para fazer o projeto executivo. Queremos lançar o edital no começo do próximo ano. Será na modalidade licitação, como prevê a lei nº 8.666”, esclarece Luduvice. Ainda não há prazo para o início das obras. “Vamos buscar recursos junto ao governo federal para executar a ponte. Para isso, precisamos, primeiramente, ter um projeto. É isso que vamos fazer agora”, planeja.
Conselheiro do IAB-DF, Célio Melis Júnior avalia que esse tipo de concurso é a forma mais transparente que o governo poderia escolher para conseguir o melhor tipo de proposta para a construção. “Vemos tantas discussões de aditivos de contrato em obras públicas, e a gênese está justamente na falta de um projeto completo: o básico e o executivo. Estamos tentando eliminar a figura do básico e brigando para que seja entregue o executivo. Isso permite reduzir as chances de alterações no plano inicial e o consequente aumento de gastos”, detalha.
Segundo Célio Melis, quando o governo organizar as informações básicas do edital, o IAB-DF precisará de cerca de três meses para organizar, divulgar, receber as propostas e julgar os trabalhos inscritos. Passada essa fase, o vencedor terá um prazo extra para elaborar o projeto executivo a ser entregue ao GDF. “Dependendo do edital elaborado, o projeto final pode ter até estimativa de custo da obra. Quanto mais sofisticado o modelo, menor a margem de erro e menores os riscos de haver aditivos na hora de construir”, finaliza.
20 mil – Quantidade de carros que passam pela barragem do Paranoá diariamente
"A pista não foi projetada para receber esse tanto de carro. Até engarrafamento tem em cima da barragem, e nos preocupa o risco de acidentes de trânsito que possam comprometer, por exemplo, o vertedouro, a abertura por meio da qual controlamos o nível de água”- (Paulo Machado, diretor-geral da CEB Geração)
Saiba mais – A origem da barragem
Construída entre 1959 e 1961, a via tem 630 metros de comprimento. A Usina do Paranoá começou a operar em 1962, com duas unidades geradoras, de 10MW, cada. Em 1967, entrou em operação nova unidade, também de 10MW, completando a potência outorgada de 30MW. A geração de energia anual gira em torno de 114 mil MWh, que poderia atender, aproximadamente, 50 mil pessoas. No entanto, o que é produzido entra no Sistema Interligado Nacional e é comercializado para 29 distribuidoras.
Fonte: Adriana Bernardes
Foto: Carlos Vieira/CB/D.A.Press – Fábio Sette/Esp.CB/D.A.Press
Correio Braziliense