Falta água no Distrito Federal e sobram prejuízos para a população – Correio Braziliense

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Flávia Maia
Pedro Grigori
Thiago Soares
Correio Braziliense

Banhos suspensos para cachorros em pet shops. Restaurantes usando copos descartáveis para evitar louça suja. Salões de beleza dispensando clientes que querem serviços que demandem água, como escovas e tinturas. Empresas investindo em mais caixas-d’água. Esses são alguns exemplos das mudanças de hábitos que o empresariado do Distrito Federal vem fazendo com a ampliação do racionamento. Além da queda de vendas e de serviços, os comerciantes trabalham com a possibilidade de aumento da tarifa de água a partir de junho, deixando os custos operacionais ainda mais altos.

A falta de água uma vez por semana preocupa o setor produtivo. Até então, os cortes expressivos estavam centralizados na agricultura, que teve queda na produção em 2016 para garantir que o recurso chegasse a todos os produtores rurais. Com a ampliação do rodízio para 26 regiões, setores como o da construção civil, do comércio e de serviços passam a ser diretamente atingidos. Na análise das entidades representativas desses segmentos, o racionamento é necessário, mas vai trazer prejuízos, uma vez que muitos empresários terão que fechar as lojas nos dias sem água ou, então, investir em novas tecnologias de consumo em um período de forte recessão econômica. O setor de comércio e serviços, por exemplo, já vem de uma sequência de quedas e registrou índice negativo de 13,38% nas vendas em janeiro.

Como o rodízio passou a atingir o Plano Piloto, a situação mostra-se ainda mais grave porque é no centro da capital que o comércio é mais pujante, por receber um fluxo diário de 500 mil pessoas de todas as regiões administrativas e de cidades do Entorno goiano. “A gente pede a colaboração também da atividade comercial. Estamos fazendo o máximo esforço para diminuir o impacto negativo para a população”, afirma Maurício Luduvice, presidente da Companhia de Saneamento do DF (Caesb).

Em 2016, mais de 2,5 mil lojas no DF encerraram as atividades por causa da crise financeira vivida pelo Brasil, de acordo com dados da Federação do Comércio do DF (Fecomércio-DF). O presidente da entidade, Adelmir Santana, é incisivo: o corte semanal trará prejuízo econômico. “Ainda não sabemos como andar com essa situação. Será uma época de adequação. O que a gente sabe é que a crise hídrica vai ajudar a manter o cenário de queda da atividade comercial”, acredita.

Na opinião de Adelmir, comércios que dependem diretamente de água, como bares, restaurantes e lavanderias, além de grandes centros de compra, serão os mais atingidos. “Shoppings centers costumam ter grandes reservatórios de água, mas o consumo é bem grande. Além do uso da água para consumo e higienização do ambiente, os locais costumam ser refrigerados, um ato que leva a gastar muita água”, explica.

Mesmo concordando com a necessidade do racionamento, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Distrito Federal (CLD-DF), José Magalhães Pinto, prevê um cenário ainda mais pessimista. “No momento em que a economia começava a melhorar, essa situação chega como um jato de água fria. Com o racionamento, empresas que dependem de água para produzir seus produtos poderão pisar no freio, reduzindo horário de trabalho, e, com isso, diminuindo o faturamento, o que, inegavelmente, pode implicar em demissões”, aponta.

Porém, o presidente da CLD-DF pede calma aos comerciantes. “É preciso manter os números na mão, acompanhar quanto de água está sendo gasto e motivar a equipe a poupar mais. Antes de tudo, é necessário fazer uma revisão na empresa, descobrir se máquinas e torneiras não estão apresentando vazamentos e, daí, seguir para a parte prática — utilizando menos água na hora de passar um pano e tendo consciência de que cada centavo a menos na conta é um passo importante.”

O Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF) garante que o setor otimiza o uso da água, entretanto, vem sendo prejudicado com a tarifa extra de contingência — ainda mais em um período em que o segmento passa por crise gerada pela queda de lançamentos de imóveis por causa do alto estoque. “A crise hídrica acaba vindo em má hora, em que os esforços por economia já estão maximizados, pois qualquer gota derramada em vão é, literalmente, dinheiro jogado fora”, justifica Marcontoni Montezuma, diretor de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Sinduscon.

Adaptação

Para se preparar para o período sem água, os administradores de um restaurante de comida japonesa da 303 Sul tiveram que comprar uma caixa-d’água de 2 mil litros. A medida teve que ser tomada porque o local não tinha recipiente de armazenamento. “Um gasto de mais de R$ 3 mil para não prejudicar as vendas”, apontou o gerente Gelson de Souza. A culinária específica com peixes e outros ingredientes frescos impossibilita aos cozinheiros adiantarem a produção. “A preocupação é que, se ficarmos sem água, temos que fechar as portas, o que diminui o nosso faturamento”, disse.

Mesmo tendo se preparado, no dia seguinte após o corte, a água ainda não tinha retornado. A solução foi comprar 2 mil litros de água de um caminhão-pipa para encher a caixa d’água — mais R$ 200 retirados do orçamento para não ter um prejuízo maior. “A preocupação é ocorrer isso todas as vezes, mesmo com as medidas que tomamos. Juntamos os pratos para lavar de uma única maneira, assim garante um pouco mais de economia.”

A casa de café de Valéria Charbel, na Asa Norte, vai fazer adaptações nos dias do rodízio. Como o prédio tem apenas uma caixa-d’água, a empresária decidiu suspender o almoço executivo. A estimativa é de uma queda de 30% no faturamento do dia. “A produção dos alimentos gastam mais água e gera louças sujas. Não podemos arriscar ao ponto de ficar sem nenhuma água e ter que fechar o comércio mais cedo.”

Safra reduzida

Na seca de 2016, houve queda de 70% na produção de grãos e diminuição de 30% da área plantada. As produções de milho e de feijão foram as mais afetadas, assim como as hortaliças sentiram o peso da falta de água. O resultado começa a se refletir no preço de itens da feira, como tomate, milho, chuchu e batata, que chegaram a subir até 100%.

Tudo azul

A Esplanada dos Ministérios e a Catedral de Brasília estão iluminadas de azul em alerta contra a crise hídrica. Março é o mês das águas e, durante o período, a nova iluminação conscientizará a população sobre a escassez do recurso enfrentada nacionalmente. A campanha é do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e da Agência Nacional de Águas (ANA). Além da iluminação, será realizada uma série de atividades e seminários de conscientização.

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