Engenheiros sem emprego – Correio Braziliense

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Correio Braziliense
Celia Perrone

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Sobram engenheiros em todo o país. A profissão considerada fundamental em tempos de crescimento econômico e valorizadíssima durante o boom da construção civil há mais ou menos 5 anos, perdeu força no mercado. Dados do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged) mostram que foram fechadas 8,8 mil vagas até julho. Quase o triplo do registrado durante todo o ano passado, 3,1 mil. 

O desaquecimento, no entanto, segundo a pesquisa Perfil Ocupacional dos Profissionais de Engenharia no Brasil feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) para a Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), começou já em 2013. Aquele foi o último ano que registrou número positivo para o setor, de 2,8 mil vagas abertas, mesmo assim, bastante inferior aos 7 mil de 2012. 

De acordo com o estudo, entre 2003 e 2013 houve uma expansão de 87,4% nos empregos de carteira assinada para engenheiros, saltando de 127, 1 mil para 273,7 mil postos. Crescimento superior ao do emprego geral no Brasil que foi de 65,7%.Para Fernando Palmesan Neto, coordenador do Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento da FNE, o desaquecimento desse segmento vai representar um nó no crescimento do país. “O grande investidor é o governo. Quando a área pública para, a tendência é tudo dar uma esfriada. E as empresas privadas, sem motivação, principalmente, por conta da crise política, não investem”, concluiu. 

Com isso, cresce o fosso do mercado, agravado, segundo Palmensan, pelo aumento de profissionais formados por ano. Enquanto que, em 2003, saíam das faculdades do país 15 mil engenheiros, neste ano, serão graduados 54 mil profissionais. Jovens que acreditaram que teriam empregos garantidos depois de formados, agora não conseguem se colocar. É o caso de Álvaro Quadrado, de 23 anos, engenheiro eletricista, que pretende emprego na área de transmissão de energia — setor em que o país é extremamente carente. Ele já mandou currículos para todas as empresas aqui de Brasília. Agora vai tentar passar por processo de traineé em São Paulo. “São Paulo é o ponto mais forte nessa área”, disse. 

Além disso, Quadrado avalia que a pouca experiência é um agravante e, por isso, procura se especializar. “Estou fazendo pós-graduação em gestão de negócios”, afirmou. Como ele vive com os pais, ainda têm as principais despesas financiadas pela família. “Se nada der certo, vou tentar uma bolsa ou um financiamento no exterior e me especializar mais. É o único jeito”, resignou-se. Quadrado é um dos milhares de jovens que começaram a estudar em 2010. Naquele ano, em que o Produto Interno Bruto (PIB) crescia 7,5%, chegaram ao país 4,8 mil engenheiros estrangeiros para dar conta da demanda, segundo o Ministério do Trabalho. Um aumento de 39% em relação ao ano anterior. Era a época de grandes obras para a realização da Copa do Mundo e Jogos Olímpícos, do Programa de Aceleramento Econômico (PAC) com as obras de infraestrutura. 

Tempo da euforia da descoberta de jazidas de pré-sal que envolviam vultosos investimentos em todas as áreas. A construção civil vivia o boom com o crédito fácil e programas como o Minha Casa, Minha Vida. Também na esteira do crédito a indústria automobilística batia recorde de vendas. Naquele ano, formavam-se 32 mil profissionais no país e a indústria automobilística e a Petrobras absorviam 34 mil, segundo dados do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea).


Construção fechará 17% das vagas 

A partir de meados do ano passado, a confiança, ingrediente indispensável para investimentos, foi abatida pela Operação Lava-Jato, que paralisou a maioria das obras de infraestrutura. As contas públicas destruídas puseram um freio nos gastos do governo e programas como o Minha Casa Minha, Vida tiveram os recursos cortados. Diante desse cenário, a Câmara Brasileira da Indústria de Construção (Cbic) calcula que meio milhão de trabalhadores terão sido demitidos até o final do ano, o que representa 17% da mão de obra empregada pelas construtoras. 

A engenheira Raíssa Castelo Nery Martins, 27 anos, faz parte dessa estatística. Ela, que se formou em 2013 e, depois de estagiar foi efetivada por uma grande empreiteira em São Paulo, perdeu o emprego em abril deste ano e até agora não conseguiu colocação na área. “Eles subdividiram a empresa para que, caso falisse, não fosse tudo de roldão”, disse. 

Instabilidade 

Ela trabalhava na área de infraestrutura. “Tinha também as áreas de construção civil, shoppings, indústrias, aeroportos”, contou. “A construção civil praticamente parou. Tenho feito free lancers, que me permitem pagar o plano de saúde, gasolina e só. Vivo com os meus avós e meu pai paga a pós-graduação para mim. O mercado está muito instável e mesmo quem tem projetos, prefere esperar a situação melhorar, para ver como é que fica”, falou. 

Para o presidente da Cbic, José Carlos Martins, os problemas macroeconômicos são os principais responsáveis pela paralisação do mercado de construção. “O boom da construção acabou. As obras que terminam não são repostas. As obras públicas têm o pagamento atrasado e, com a diminuição de ritmo e a possibilidade de quebra do empresário, a dispensa do trabalhador é inevitável. Está arriscado a perder o emprego do servente de obras, ao dono da empresa, passando pelo engenheiro”, sentenciou. (CP)

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