Em palestra no 89° Enic, Leandro Karnal afirma que a ética deve ser um exercício diário

TAMANHO DA FONTE: A+ A A-

Assessoria de Comunicação da Cbic 

Professor da Unicamp participa de ação do projeto Ética & Compliance na Construção Civil

Empresários reunidos em Brasília para o 89º Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic) lotaram o auditório na sexta-feira (26) para ouvir o historiador, filósofo e professor Leandro Karnal falar sobre valores e ética. “É a primeira vez que a sociedade brasileira está tratando a questão ética em primeiro plano, é a primeira vez que nós temos um milionário branco preso”, afirmou. “Tenho viajado o Brasil para dar palestras”, contou.

A palestra integrou a programação do Fórum de Ação Social e Cidadania (Fasc) da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) durante o Enic, em mais uma atividade do projeto Ética & Compliance na Construção Civil, com que a entidade vem estimulando um debate sobre transparência, o fortalecimento e a modernização dos mecanismos de controle interno adotado pelas empresas do setor. Em correalização com o SESI Nacional, o projeto envolve a disseminação de guias orientativos publicados pela Cbic sobre ética e compliance por intermédio de seminários e outras ações. 

“Foi mais uma atividade exitosa na agenda de debates que temos conduzido sobre ética e responsabilidade social nas empresas”, avaliou Ana Cláudia Gomes, presidente do Fasc. “Nosso setor está fazendo um diálogo profundo e qualificado nesse campo, buscando modernizar a gestão das empresas e capacitar ainda mais seus executivos e equipes”.

O projeto Ética & Compliance foi desencadeado pela Cbic em 2013, quando foi aprovada uma nova lei anticorrupção. Em 2016, a entidade publicou Guia de Ética & Compliance para Instituições e Empresas da Construção Civil, composto por um guia referencial de ética; um guia de compliance e representação política; um código de conduta concorrencial para a construção civil; e um manual de avaliação de risco de corrupção nas empresas.

São documentos que apontam o que pode ou não ser feito no relacionamento empresarial com o poder público e outros atores, colocados à disposição de entidades e empresas da construção como referencial e fonte de informação para a adoção e modernização de políticas e ações de conformidade.

n

 
Para um público aproximado de 220 pessoas, Karnal contextualizou o cenário nacional, destacando que ao valorizar os escândalos, a mídia induz à percepção de tudo está ruim. “Isso nos transmite a sensação de que tudo está perdido, o que é falso. Aliás, a sorte do Brasil é que o Brasil sobrevive a sua elite política, e isso é extraordinário”, afirmou.

Para ele, o país já passou por outros momentos difíceis, mas as crises são passageiras. “O pessimismo é bom para derrubar o excesso de otimismo. Toda empresa deve ter um pessimista, apenas um”, indicou. “O pessimista nos coloca com o pé no chão, mas não faz nada para resolver a situação. A empresa, para existir, precisa ser otimista, para continuar existindo precisa do pessimista”, comentou.

 
Ética como exercício diário

Na avaliação do professor da Unicamp, a forma de lidar com as crises define o crescimento ou o fracasso. Karnal disse que a capacidade de pensar a estratégia, usando os erros para aprimoramento, define o sucesso ou fracasso de uma empresa. “O erro é acima de tudo uma característica para nos aproximar do acerto”, explicou. Para ele, o erro é fundamental para nos tirar da zona de conforto, do comodismo, e buscar o acerto. A acomodação, sem concorrência no mercado, segundo ele, pode determinar a falência de uma empresa. Ele destacou que a ética é um aprendizado de adequação a normas de conduta, com a aceitação de limites e da coerção. Mas os valores éticos precisam ser usados com equilíbrio, porque em excesso as virtudes se transforam em defeitos.

 
Em sua palestra, Leandro Karnal avaliou que, de modo geral, as pessoas tendem a fugir de suas responsabilidades, como se não fizessem parte do problema, como se observa em frases como “brasileiro não sabe votar” ou “brasileiro é muito atrasado”. “Há, neste caso, duas hipóteses: eu não sou brasileiro ou eu não sei votar”, explica. Para ele, as coisas começam a mudar quando começamos a dizer “eu”, quando as pessoas, num comportamento ético, passam a entender que fazem parte do problema. “A vida sem ética multiplica problemas. Quanto mais eu adotar recursos não éticos, mais eu terei problema”, afirmou.
 
Segundo ele, as pessoas começam a perceber que um atestado médico falso, embora não seja tão grave quanto “roubar a Petrobrás”, também é um desvio ético. E conta que já recebeu várias propostas de pagamento de suas palestras sem nota fiscal. “Essas pessoas não roubam mais somente por falta de oportunidade”, afiançou. Karnal disse aos empresários que a vida ética é como banho que se toma todo dia: “É uma construção tijolo a tijolo”.

Leave a Comment

Abrir bate-papo
Precisa de ajuda?
Olá, 👋
em que podemos te ajudar?