Crise na política assusta empresas do DF – Jornal de Brasília

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Eric Zambon
Jornal de Brasília

Independentemente do que acontecer nas manifestações de hoje contra o governo, o setor produtivo só tem a lamentar. Com o agravamento da crise política e econômica, empresários do Distrito Federal relatam desempenhos ruins e perspectivas ainda piores para 2016.

Um dos carros-chefe da indústria do DF, contribuindo em cerca de 4% para o Produto Interno Bruto (PIB) da capital, o setor da construção civil foi prejudicado no último ano pela retração na demanda de obras públicas. Com isso, houve dispensas em massa e, por conseguinte, o índice de desemprego na capital ficou elevado, em cerca de 15% – são mais de 230 mil pessoas da População Economicamente Ativa (PEA) sem ocupação formal.

“Na construção civil, o ano de 2015 foi de stand by. Não houve novos empreendimentos, apenas o término de obras do ano anterior. E não houve novos contratos e novas obras”, resumiu o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do DF (Sinduscon), Luiz Carlos Botelho.

Morosidade

O empresário Izidio Santos Jr., da Barsam Engenharia, atesta a realidade constatada por Botelho. Ele reclama da “demanda muito fraca” de 2015 e cita, como agravante, a morosidade do Governo de Brasília em aprovar a documentação necessária para a liberação de empreendimentos.

“Pode-se demorar mais de um ano para conseguir alvará (de construção). E conseguir (carta de) habite-se também é um sacrifício”, esbraveja. A criação de uma força-tarefa do governo, em agosto último, segundo ele, pouco agilizou a vida dos empresários.

Além da questão burocrática regional, Santos Jr. critica a falta de estabilidade política do país. Para ele, isso afasta possíveis investimentos e, consequentemente, atrasa a retomada do setor.

“Prevejo que, em 2016, a demanda vai ser pior. Não vejo nada que prove o contrário”, desabafa o empresário. “As coisas ruins que aconteceram ano passado continuam acontecendo, e ainda se agravaram”, complementa.

Ele espera pela diminuição da insegurança jurídica com melhor comunicação entre os diferentes órgãos do governo.

"Incerteza e turbulência"

A indústria, de maneira geral, também apresentou resultados ruins no início do ano. Conforme a Confederação Nacional da Indústria (CNI), na comparação entre janeiro de 2015 e O deste ano, houve queda de 11,6% na quantidade de horas trabalhadas pelos funcionários e variação negativa de 13,9% no faturamento.

Segundo o gerente de política econômica da entidade, Flávio Castelo Branco, a execução de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Minha Casa, Minha Vida, ambos do governo federal, foram dois fatores determinantes para o desempenho.

“O ambiente político e institucional ao redor das empresas e das famílias que tomam as decisões de consumo é de incerteza e turbulência”, explica Castelo Branco. “Tivemos uma crise econômica gestada por uma série de equívocos do governo há anos. Insistiram em expandir o crédito, em estimular  consumo e isso tudo erodiu a base fiscal do País”, opina.

Agronegócio

No mar de instabilidade, existem setores menos afetados e menos pessimistas para 2016. A Federação de Agricultura e Agropecuária do DF (Fape), por exemplo, afirma que existem ajustes a serem feitos, mas, de modo geral, o setor se saiu bem nos últimos anos.

“Existe uma certa estabilidade no campo. As pessoas já têm uma tradição de produção não só para o mercado interno quanto para exportação, então a crise demora mais para chegar ao produtor”, explica o presidente da entidade, Renato Simplício.

Ele destaca que o DF tem bons índices de produtividade de grãos, além da maior produção de frangos, proporcional ao território, do País. “O clima preocupa mais o agricultor do que a crise”, brinca.

Insegurança jurídica é outro motivo de preocupação

O mercado imobiliário viveu um ano agridoce em 2015. Se por um lado as vendas superaram 2014, alcançando mais de 6,6 mil unidades comercializadas, o faturamento do setor foi menor devido aos valores mais baixos praticados para atrair a clientela.

O presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), Paulo Muniz, projeta um “ano muito difícil”, mas destaca que a crise política não é tão determinante quanto as dificuldades administrativas para o segmento. “Os empresários estão mais preocupados com a insegurança jurídica do que com a turbulência econômica”, afirma, referindo-se à burocracia do governo que atrasa os negócios.

Ele também não crê em maior dificuldade de movimentação política na Câmara Distrital devido ao momento. “Nossos legisladores estão sensibilizados com a questão. Os deputados estão vendo que toda a economia está impactada pelo enfraquecimento da industria de construção. E a indústria imobiliária é um dos grandes fomentadores da economia do DF”, exalta.

Em âmbito nacional, o crédito imobiliário junto à Caixa Econômica foi aumentado em 20% como maneira de incentivar os financiamentos. Agora, é possível negociar até 70% do valor do imóvel.

Indefinição trava os negócios

A incorporadora e imobiliária Apex afirma ter conseguido manter o valor médio de vendas no último ano, mas trabalha também com um cenário pessimista para 2016. Segundo o presidente Eduardo Aroeira, “o início desse ano se parece muito com o do outro” e o grande problema é a incerteza quanto ao futuro do País.

“Não sabemos se teremos o mesmo presidente até o fim do ano, se será a mesma política econômica. Sem isso, é impossível planejar investimentos”, lamenta.

Ele reafirma que a situação vivida, tanto em demanda quanto em capacidade de investir, é fruto da conjuntura política geral e de especificidades do governo local. “Aqui a gente ainda tem toda dificuldade na aprovação de habite-se e alvará, o que atrasa em muito as nossas coisas”, reitera.

Investimento

Uma pesquisa sobre Investimentos da Indústria, da CNI, com 860 empresas de grande porte consultadas entre novembro e dezembro de 2015, revelou que a instabilidade política e econômica é fator predominante para que a aplicação de dinheiro nas companhias tenha cessado.

Conforme o material da entidade, 81% dos entrevistados elencaram a incerteza econômica como o principal motivo da falta de confiança para investir no próprio negócio.

A reavaliação da demanda, custo do crédito ou financiamento e o aumento inesperado no custo de investimento, devido à inflação, foram, na ordem, os outros motivos apontados pelos empresários para a falta de investimento.

Saiba mais

Outro indicador que mostra como as turbulências econômicas e políticas afetam a confiança do setor produtivo é o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI). Em janeiro deste ano, foi de 36,5, quase oito pontos menor em relação ao mesmo mês de 2015, segundo pesquisa Confederação Nacional da Indústria (CNI). O ICEI varia de zero a cem pontos. Quanto mais abaixo de 50 pontos, maior é o pessimismo.

Do lado do consumidor, a Pesquisa Hábitos de Consumo – Dia Mundial do Consumidor 2016, feita pela Boa Vista SCPC , avaliou que para 73% da população, a economia brasileira em 2016 está em pior situação do que no ano passado. O Centro-Oeste foi a região com o segundo maior índice de pessimismo, atrás do Sudeste.

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