Construção civil do DF aposta na retomada após a pandemia de coronavírus

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Alexandre de Paula e Ana Clara Avendaño*
Correio Braziliense

Um dos setores mais importantes para a economia do Distrito Federal, a construção civil também sentiu os impactos da pandemia do novo coronavírus, mas, ao contrário de outros ramos, empresas e entidades da área estão otimistas na avaliação do cenário que virá depois da crise. A permissão para que as obras continuassem desde o início da disseminação da Covid-19, a taxa de juros baixa para crédito imobiliário e a onda de crescimento que ocorria até então são alguns dos fatores que embasam as boas expectativas.
 

César Bergo, presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF) e professor da Universidade de Brasília (UnB), prevê um momento de aquecimento da construção civil no cenário pós-crise. “Daqui a 90, 120 dias, haverá uma retomada tanto na incorporação quanto na construção, mas agora é um momento complicado de planejamento, de rever processos e melhorar a estrutura das empresas”, analisa. 

O economista aposta na redução dos preços de imóveis como um dos fatores que vai atrair a população quando houver mais estabilidade econômica. “Também fará diferença o custo da mão de obra. Com o aumento de profissionais disponíveis, o valor deve cair e, com isso, a construção ficará mais barata”, acrescenta. 

O setor começou 2020 com expectativa alta, motivada pelos resultados do ano passado. O crescimento de 2019 foi comprovado pelo Índice de Velocidade de Vendas, que chegou a 8%, contra 6,7% em 2018. O indicador é produzido pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-DF) e pela Associação das Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-DF), com apoio do  Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-DF), e é medido mensalmente pela divisão entre o número de unidades ofertadas pelas vendidas.

Para o presidente da Ademi-DF, Eduardo Aroeira, a construção civil tem potencial para alavancar a recuperação econômica do país. “O primeiro motivo para isso é o fato de, principalmente aqui no DF, os trabalhos não foram interrompidos. Adaptamos o nosso método para garantir segurança e, dessa forma, conseguimos seguir sem ter problemas de infecção. Por isso, nossas empresas não sofreram tanto quanto outros segmentos”, justifica. 

A permissão para que as obras continuassem deu sobrevida ao setor e garantiu a manutenção de empregos, avalia o presidente do Sinduscon-DF, Dionyzio Klavdianos. “Isso foi muito importante, porque somos o setor que mais emprega trabalhadores das classes menos privilegiadas. Se podemos operar, o setor mantém o emprego, e para economia isso é muito bom.”

No entanto, Dionyzio reconhece que, mesmo assim, o impacto do coronavírus é sentido pelas empresas. “Ainda não temos o número consolidado, mas houve sim queda nas vendas e perdemos alguns empregos. Mas o fato de as obras continuarem fez com que esse impacto fosse muito menor do que em outros setores, como o comércio”, explica. “Acreditamos que, mesmo que os nossos resultados sejam menores do que os esperados antes, não vamos passar por uma crise avassaladora, até porque mesmo agora isso não aconteceu.” 

Contribuiu também para que o setor não ficasse estagnado, segundo o dirigente, a continuidade de obras do Governo do Distrito Federal. “O GDF manteve o que estava sendo feito e já acenou que não vai parar. É provável que tenha problema de caixa, mas é interesse do governo que as obras não parem”, comenta.

Crédito

Reabertas recentemente para atendimento presencial, as imobiliárias tiveram de mudar processos e ampliar o atendimento digital para se adaptar, segundo o presidente do Sindicato da Habitação do Distrito Federal (Secovi/DF), Ovídio Maia. “Elas definitivamente entraram na geração da informação virtual. As que não tinham tiveram que mudar a rota do avião em pleno voo”, afirma.

Em março, segundo dados levantados pelo Secovi, houve queda de 17% no número de registros de escrituras, em relação ao mesmo período de 2019 — o número caiu de 1.580 para 1.313. “Mas o mercado não está parado. Estamos tendo menos visitas, mas elas são mais qualificadas. O cliente que nos procura agora é aquele que realmente vai comprar. Também acreditamos que muitos vão retomar esse planejamento quando a crise passar”, assegura. “Em janeiro e fevereiro, nossos resultados foram muito bons. Antes da Covid-19, estávamos decolando para um voo longo e duradouro, sem previsão de turbulências, segundo o mercado”, complementa Maia.

O otimismo para a retomada tem como uma das bases mais fortes a redução da taxa de juros para o crédito imobiliário. A Caixa Econômica e o BRB, no âmbito local, ofereceram facilitações para esse tipo de financiamento. “Isso começou antes da pandemia, continuou agora e acreditamos que vai permanecer assim. Enquanto que em 2017 tínhamos taxa de 10,5% ao ano, hoje elas estão a partir de 6,49%. É muito mais baixo e faz com que a aquisição seja mais fácil para aqueles que precisam de financiamento”, complementa o presidente da Ademi-DF, Eduardo Aroeira.

Atualmente, no entanto, o fechamento de algumas atividades dificultam o processo de compra. Aproveitando as condições, a tradutora Erika Martins, de 30 anos, adquiriu um apartamento em Vicente Pires, em março. Por causa da crise, no entanto, a entrega do imóvel teve de ser adiada por dificuldades na documentação e nas vistorias. “Eu conheci esse empreendimento em 2019, e finalizei a compra em março. A previsão de entrega estava marcada para 31 de abril, mas devido a esse atraso no calendário em decorrência da pandemia, o prazo foi prorrogado”, conta Erika. 

* Estagiária sob supervisão de Adson Boaventura

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