Agência CBIC
O combate à insegurança jurídica, que prejudica os negócios imobiliários, foi a tônica das apresentações e debates do primeiro dia do Seminário de Direito Imobiliário, que teve início ontem (23/04), em Brasília, e contou com a participação do presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, na solenidade de abertura do evento.
Martins mencionou o estudo “O Custo da Burocracia no Imóvel” da CBIC, que constata que cerca de 12% do valor de venda de um imóvel no Brasil representam o custo da burocracia envolvida em todos os processos que envolvem a construção imobiliária. “E quem paga a conta disso é o cidadão”, disse.
No Distrito Federal, durante vários anos um conjunto de fatores abriu espaço para a ocupação e construção ilegais em terrenos públicos (inclusive da União) e privados, gerando prejuízos tanto para as empresas do setor, que atuam em respeito à lei, quanto para os cofres públicos, bem como para a qualidade de vida, em razão do adensamento populacional sem controle e da precariedade de muitas obras feitas à parte da fiscalização oficial.
“Bilhões de reais que seriam empregados na construção legalizada, na geração de empregos com carteira assinada, no recolhimento de impostos e em outras atividades legalizadas foram canalizados para uma máfia de grileiros e outros personagens coniventes, que se valeram da imobilidade do setor público em coibir essa prática de invasões logo na fase inicial dos movimentos de ocupação irregular”, disse Paulo Muniz, presidente da Ademi-DF, entidade realizadora do seminário, que termina nesta quarta-feira (24/04).
Esse cenário contribuiu para jogar o setor imobiliário local em sua pior crise, cuja fase mais aguda ocorreu nos últimos seis anos, com o fechamento de empresas sérias e a extinção de milhares de empregos formais. “Foi a fase mais difícil dos 36 anos da Ademi-DF, por causa de fatores nocivos, como a burocracia excessiva, problemas econômicos e de mercado, e, principalmente, questões de insegurança jurídica, em que leis e regras criavam dificuldades imensas para os empreendedores que sempre atuaram na legalidade, favorecendo, portanto, os que agiam nas sombras”, disse Paulo Muniz.
Além disso, frisou, as tentativas de aprovação de novas leis e regras que poderiam combater essa insegurança jurídica eram constantemente alvos de contestações jurídicas e legislativas, estendendo a situação problemática do setor imobiliário. Praticamente 50% da mancha urbana do DF é ou foi ilegal, informou.
“Agora as expectativas são positivas, pois o setor público está avançando nas medidas que são cabíveis para dotar as empresas e seus clientes da necessária segurança jurídica para a realização de negócios, com repercussão positiva em várias cadeias produtivas e, naturalmente, na economia da Capital”, complementou o dirigente.
Segundo ele, entre as principais medidas encaminhadas estão:
Novo Código de Obras e Edificações
Lei de Uso e Ocupação do Solo (LUOS)
Lei do Polo Gerador de Viagens em substituição ao Relatório de Impacto de Trânsito (RIT)
Lei da Permeabilidade*
Atuação ágil da Agência de Fiscalização do Distrito Federal (AGEFIS)
Agilidade para a concessão de Habite-se
Maior produtividade na Central de Aprovação de Projetos
Evolução da legislação trabalhista, que minimizou passivos
Aperfeiçoamento das regras para os distratos
Conclusão do Plano Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília
Início da lei do Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal (PDOT)
*Taxa de permeabilidade: percentual mínimo da área do lote onde é proibida a impermeabilização por pavimentação ou edificação
Para o presidente José Carlos Martins, cenários como os relatados pelo dirigente da Ademi-DF, “de insegurança jurídica, são muito ruins para toda a Nação. É preciso ter regras claras”, defendeu em relação às atividades do setor produtivo.
Também participaram da solenidade de abertura:
Délio Lins e Silva, presidente da OAB-DF
Gilberto Occhi, presidente da Terracap
Mateus de Oliveira, secretário de Gestão do Território e Habitação do DF
Ao mediar o primeiro painel do Seminário, sobre o tema ‘Integridade e Direito”, o vice-presidente da Ademi-DF, Eduardo Aroeira, lembrou que a entidade alertou há vários anos que a proliferação de condomínios ilegais, as invasões de terras e as construções irregulares iriam provocar desordenamento urbano grave e prejudicar a qualidade de vida da população de todo o Distrito Federal. Participaram do painel Maria Hilda Pinto, secretária Nacional de Justiça, e Luciana Asper, promotora de Justiça do DF.
“Hoje constatamos que tudo o que falávamos, infelizmente, ocorreu. E não foi por falta de aviso. Acreditamos que hoje a sociedade e o setor público estão mais conscientes sobre a importância de estabelecer transparência e integridade em todas as relações de negócios envolvendo o setor imobiliário”, disse Eduardo Aroeira.
No primeiro dia do seminário também foram abordados os seguintes temas:
Preservação da Função Social da Empresa e Aperfeiçoamento do Controle Interno dos Órgãos da Administração (Compliance)
Reflexos da Reforma Trabalhista
Aspectos Relevantes da Regularização Fundiária no DF
(Com informações da Ademi-DF – http://sedimob.com.br)