Burocracia e alto preço dos terrenos tornam a construção civil ainda mais cara no DF – Fato Online

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Fato Online
Diego Amorim

Em meio a crise que o Distrito Federal e o país atravessam, esse problemas, que são crônicos, tomam uma dimensão ainda maior

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Em meio à crise que já levou a pelo menos 10 mil demissões e empacou centenas de projetos este ano, empresários da construção civil engrossam as queixas em relação aos custos indiretos do setor em Brasília. A margem de lucro – que no auge do mercado, ou seja, cinco anos atrás, se alargou e enriqueceu uma leva de construtores e aventureiros – nunca esteve tão espremida. Nem os cortes de despesas e o enxugamento do quadro de pessoal têm aliviado o caixa das empresas. Historicamente, erguer prédios residenciais e comerciais em Brasília é mais caro e dá mais trabalho na comparação com a realidade de outros centros urbanos. Não à toa, adiar investimentos anda sendo a decisão predominante entre pequenos e grandes empresários que atuam na capital.
 
Terrenos
 
A difícil caça por terrenos está no topo da lista de desafios próprios de quem constrói no Distrito Federal. A escassez de terra disponível – ou que ao menos não esteja nas mãos dos poucos homens que primeiro fizeram fortuna na cidade – fabrica cifras completamente destoantes da média nacional. No Noroeste, por exemplo, o bairro que só agora começa a nascer, o preço dos terrenos vendidos pela Terracap (Agência de Desenvolvimento do DF) chegou a bater o equivalente a 55% do valor total do projeto. Em áreas nobres do Rio de Janeiro, para se ter ideia da discrepância, essa proporção gira em torno de 20%. 

Algumas das explicações para a inflação dos terrenos estão na elevada renda per capita e no apetite dos investidores brasilienses por imóveis. Utilizando-se de contas consideradas frágeis pelo mercado, grupos de pessoas físicas, não raramente, desbancaram construtoras em licitações da Terracap ao oferecerem altos valores pelas terras, puxando para cima os preços mínimos nas próximas concorrências.

 
Reajustes
 
Quando o mercado estava de vento em polpa, os sindicatos que representam a mão de obra da construção civil – cientes dos generosos lucros dos patrões à época – conquistaram reajustes de até três vezes a inflação do período. Os aumentos passaram a pressionar de maneira bastante significativa o balanço das construtoras, respondendo, em boa parte, pelas recentes demissões. O chamado custo da burocracia também pesa nos cálculos de quem encara o mercado brasiliense. Enquanto no eixo Rio-São Paulo um projeto, quando muito, leva cerca de oito meses para ser aprovado, os trâmites nos órgãos competentes em Brasília podem durar assustadores três anos. 

Os atrasos nas entregas dos empreendimentos já são tão frequentes no DF que os contratos costumam trazer uma cláusula em que as construtoras ficam obrigadas a pagarem aos compradores todo mês, geralmente, 0,5% do valor do imóvel até que a ocupação seja autorizada. A insegurança jurídica provocada por contradições na legislação vigente e por mudanças de regras durante a elaboração dos projetos também influenciam nos gastos finais de um empreendimento.


Tombamento
 
Não bastassem todas essas observações, o tombamento de Brasília tende a onerar ainda mais os construtores. Isso porque levantar um prédio essencialmente horizontal, como é o caso das edificações de seis andares no Plano Piloto, incluindo as do Noroeste, custa mais do que as construções verticais, uma vez que precisam, por exemplo, de mais elevadores e “colunas hidráulicas”. “Esses pontos específicos de Brasília ajudam a compor o preço final do metro quadrado”, comenta o diretor de economia e estatística do Sinduscon-DF (Sindicato da Indústria da Construção Civil do DF), Luiz Felipe Vargas.

De acordo com a última medição do Índice FipeZap, o DF tem o terceiro maior valor médio de metro quadrado do país, atrás apenas do registrado no Rio de Janeiro e em São Paulo. O CUB (Custo Unitário Básico), indicador oficial da construção civil, medido pelos sindicatos regionais com base em uma lei federal, não apresenta tanta diferença entre uma capital e outra. “Os custos indiretos, que não são contemplados pelo CUB, são mesmo o principal problema em Brasília”, diz Vargas.
 

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