As dificuldades de construir ou reformar um imóvel em Brasília – Fato Online

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Diego Amorim
Fato Online

Na hora de reformar ou construir, os brasilienses precisam de muita paciência e jogo de cintura para não ter mais dor de cabeça do que o esperado. A mão de obra, quando disponível, é cara, pouco qualificada e não raramente picareta.

Na Brasília da maior renda per capita do país, o batalhão de pedreiros, mestres de obras, pintores, marceneiros e eletricistas, por exemplo, inflacionam os serviços, cobram adiantado e teimam em não entregar o prometido no prazo combinado.

Como a mão de obra no setor da construção é cada vez mais escassa e, em tese, os brasilienses têm mais poder de compra, os operários autônomos costumam se sobressair na relação com os clientes. A começar pela fase do orçamento.

Orçamento

Não à toa um mesmo projeto realizado em Brasília e na vizinha Goiânia custa, em média, 30% mais na Capital Federal, segundo estimativa do diretor de materiais, tecnologia e produtividade do Sinduscon-DF (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal), Dionyzio Klavdianos. A diferença se explica basicamente pelo custo da mão de obra.

Apesar da atual crise econômica, as lojas de materiais de construção em Brasília têm conseguido manter o volume de vendas: sinal de que, embora em ritmo menos acelerado, as obras particulares – e os problemas decorrentes delas – não pararam. A consolidação de áreas como o Noroeste e os Jardins Mangueiral ajudou a manter a demanda.

O bancário Daniel Matos, 31 anos, mudou-se este ano com a mulher e precisou deixar a nova casa pronta para ser habitada. Como quase todo mundo que vira refém de um mestre de obras, ele desenrola uma ladainha de murmurações quando se recorda dos longos e difíceis dias de batucada no imóvel.

“O camarada me pedia dinheiro toda semana e, mesmo com os pagamentos, me deixava na mão. Perto do fim da obra, soube que ele se mandou para o Tocantins”, conta. A substituição do responsável pelos serviços fez, claro, Daniel gastar mais. O trabalho, previsto para ser concluído em três meses, acabou durando o dobro do tempo.

O pintor também resolveu testar os ânimos de Daniel logo no início da vida de casado do contratante. O autônomo combinou o que faria, recebeu adiantado parte da grana e sumiu sem dar explicações por duas semanas. “É muito complicado. A maioria pega o dinheiro e começa a enrolar”, diz o bancário, que não recorreu a uma empresa especializada porque queria economizar.

Empresa

Para o engenheiro Dionyzio Klavdianos, do Sinduscon-DF, ainda que não seja garantia de obra sem perrengue, fugir dos autônomos minimiza “todo tipo de risco”. “Por que na hora de fazer um tratamento médico, as pessoas procuram o melhor profissional e para construir ou reformar o raciocínio não é o mesmo?”, provoca ele.

A resposta para o questionamento de Dionyzio está no bolso: pelo menos em uma comparação inicial, contratar uma empresa certamente custa mais do que convocar o mestre de obras indicado por um amigo ou um parente. A carga tributária responde por boa parte da discrepância. “Mas aí entra a velha história do barato que pode sair caro. Com o funcionário informal, não adianta muito você reclamar e dizer que combinou. Já a empresa tem de assumir os riscos com o cliente”, defende o diretor do sindicato.

O servidor público Fagner Fagundes, 33, concluiu há três meses a reforma do apartamento onde mora atualmente com a mulher. Para comprar o material e recrutar os profissionais, seguiu o instinto da maioria das pessoas e preferiu não acionar uma empresa do ramo. “Em geral, o trabalho foi bem feito. Mas eu não sabia que o problema estaria no pós-obra”, lamenta.

O pedreiro prometeu a Fagner encerrar sua participação na obra em, no máximo, 50 dias. Erros no projeto da arquiteta, somados a uma clara enrolação no serviço, acabou estendendo esse prazo por mais 20 dias. Depois que a turma recebeu o pagamento e desapareceu, o contratante percebeu que havia falhas graves no acabamento, incluindo pinturas malfeitas, parede torta, gesso desnivelado e rachaduras das mais diversas. “Há coisas que você só vê depois mesmo. E aí, em muitos casos, já é tarde”, afirma ele, que gastou pelo menos 20% a mais do que imaginava.

Mesmo que o serviço seja realizado por profissionais autônomos, especialistas em direito do consumidor recomendam a elaboração de um contrato. Só assim os clientes que se sentirem lesados poderão optar por buscar seus direitos.

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