Artigo – Assim como carro, obras precisam de manutenção

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Dionyzio Klavdianos
Engenheiro, diretor do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon) e da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil

Se faltava a comprovação de dois milagres para Frei Galvão — padroeiro da construção civil e dos engenheiros civis — tornar-se santo, não falta mais. Os dois acidentes graves, envolvendo lajes do subsolo de um prédio da 210 Norte e da Galeria dos Estados, no Eixão Sul, ocorridos aproximadamente em um prazo de 48 horas, não terem se transformado em tragédias atestam sua força.

Em comum, nos dois casos, a falta de manutenção das estruturas. Isso enriquece o debate, pois, do contrário, notadamente em ano eleitoral, levaria a sociedade brasiliense a imaginar que esse “descuido” seria característica exclusiva do poder público, o que não é verdade.

Em agosto de 2013, entrou em vigor a Norma Técnica de Desempenho nº 15.575 que, dentre tantos méritos, tem um especial: o de deixar claro que o ciclo de uma obra não se encerra com a entrega das chaves de um imóvel ou o corte da faixa de inauguração de uma escola. Na verdade, é neste momento que começa uma das etapas mais dispendiosas do ciclo de vida do empreendimento, o da operação.

A construção civil, quando quer demonstrar seu atraso tecnológico em relação a outros setores, compara-se com a indústria automobilística. Enquanto uma ainda faz uso de processos construtivos milenares, a outra utiliza robô em sua linha de montagem.

Pois bem. Ao comprar um carro, a grande maioria de nós, usuários, não comparece periodicamente à agência para manutenção preventiva do seu bem? Ou, ao menos, não recorre a uma mecânica para trocar a junta, antes da fundição do motor? No caso de um viaduto, de um condomínio, da nossa casa… a rotina deveria ser a mesma!

O impacto do fechamento do Eixão sobre a mobilidade urbana será incalculável, mas, notadamente, por não ter havido vítimas, poderá se tornar um caso de “mal que veio para o bem”, se servir para a criação de uma política efetiva de manutenção das obras públicas por parte do governo. Política esta, que cada um de nós, cidadãos, guardadas as devidas proporções, deve adotar para aumentar ao máximo a vida útil do imóvel, que, na maioria das vezes, envolveu as economias de uma vida inteira.

*Artigo publicado no jornal Correio Braziliense de 7 de fevereiro de 2018

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