Apês de luxo são a tendência – Correio Braziliense

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Maryna Lacerda
Correio Braziliense

Mercado de moradia de alto padrão não enxerga a crise e apresenta crescimento em Brasília. Faixa etária dos clientes é de 30 a 50 anos, com objetivos diferentes na hora da compra – que, em geral,é feita para habitação e não investimento

Perdas de rendimento e baixo desempenho do comércio são apenas uma das diversas facetas da crise econômica. Para quem tem capital, o momento é favorável à compra de imóveis de alto padrão. Por não dependerem de linhas de crédito habitacional e, em geral, já possuírem patrimônio, os consumidores desse segmento têm facilidade nas negociações e são responsáveis por manter aquecido esse nicho de mercado. Assim, uma tendência das principais capitais do país se confirma no Distrito Federal. Aqui, registrou-se um aumento de 32% na busca por apartamentos de luxo, no terceiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com estudo de uma empresa da área. Os números mostram também uma nova forma de consumir, em que a internet é o meio principal de busca imobiliária.

A faixa etária do público-alvo é variada: abrange consumidores dos 30 aos 50 anos. São pessoas que já possuem um imóvel próprio e têm, em caixa, a maior parte da quantia a ser investida. A escolha pelo apartamento de alto padrão é baseada em argumentos diretamente relacionados ao momento de vida dos compradores. Os mais novos, por exemplo, tendem a procurar um imóvel melhor em razão da família que cresce, seja pelo nascimento de mais um filho ou pelo desenvolvimento das crianças. Por isso, buscam um apartamento maior e com mais opções de lazer. Piscina, playground e espaço são os principais atrativos.

Filhos fora de casa

No caso dos consumidores com 40 anos ou mais, o motivo da compra é a necessidade reduzir cômodos sem perder a qualidade de vida. São casais cujos filhos já saíram de casa e a residência se tornou um espaço grande demais. Ainda assim, a área social, como espaço gourmet e sala de estar, se torna uma prioridade. A atenção a esses espaços tornou-se um pedido recorrente à arquiteta Denise Zuba. O trabalho dela é focado no público que adquire imóveis de alto padrão. “O cliente quer qualidade de vida e introspecção familiar. Ele preza pelo conforto de poder, por exemplo, receber os amigos em casa e, assim, evitar deslocamentos. Não à toa, a varanda gourmet e a cozinha passaram a ser integrar a área social”, descreve.

O investimento em área de convivência transformou-se o critério do advogado Benjamin Caldas Galotti Beserra, 43 anos, ao optar por um imóvel no Noroeste. Os filhos entraram na adolescência e, em breve, Galotti acredita que a vida social vai ser uma questão relevante para eles. “Minha ideia é trazer os filhos e os amigos dos filhos para dentro de casa. Procurava um apartamento com atrativos, como piscina e churrasqueira, para que eles queiram estar em casa”, explica. Proprietário de outros imóveis, o advogado avaliou o mercado e se cercou de garantias para fechar o negócio, em setembro. “Tinha o recurso para investir e me certifiquei de que o patrimônio que tenho é maior do que a dívida contraída”, diz.

Diferenciais

Os imóveis desse segmento têm metragens e valores significativos. São apartamentos a partir de 150m² e com custo de R$ 1 milhão. Até a tradicional visita ao decorado é realizada de forma diferente, em momento mais avançado, quando o comprador já está prestes a fechar o negócio. Em Brasília, de acordo com recorte da pesquisa, 68% das buscas para alto padrão são focadas nos imóveis de R$ 1 milhão a R$ 2 milhões. Aqui, a oferta de apartamentos de luxo se concentra no Setor Noroeste, mas é possível encontrar alguns na Asa Sul.

Os estoques a pronta entrega estão esgotados e há até mesmo uma lista de espera para desistência, explica o diretor de vendas da Via Engenharia, Tarcísio Leite. “O imóvel é um produto necessário e, no atual cenário econômico, não existe investidor que compra para revender. O cliente que adquire é o que, de fato, vai morar”, destaca Leite. O lançamento de novas projeções deve ocorrer de forma lenta. Um dos motivos são os trâmites burocráticos, como a liberação de habite-se — que depende, entre outras exigências, da elaboração de Relatórios de Impacto de Trânsito (RIT) —, matéria que vem sendo discutida pelo GDF e pela Câmara Legislativa.

Além disso, as empresas estão mais receosas em dar prosseguimento aos projetos, uma vez que o crédito para pessoas jurídicas também foi reduzido. A dificuldade de aprovação de novos projetos tem provocado, inclusive, o adiantamento na entrega de alguns empreendimentos. “As empresas concentram a mão de obra e os materiais nos projetos que já estão em andamento”, explica o vice-presidente do Sindicato da Habitação do DF (Secovi-DF), Ovídio Maia.

Sem bolha imobiliária

Na minha visão, não existe bolha imobiliária por quatro motivos. O primeiro é porque o deficit habitacional do país é muito alto, em torno dos 6 milhões de domicílios, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, o crédito imobiliário fica abaixo dos 12% do Produto Interno Bruto (PIB), o que demonstra a possibilidade de ampliação dessa porcentagem. Quando comparado com outras nações emergentes, o Brasil tem faixas de preço bastante equilibradas. Por fim, o país ainda está em um processo de boom demográfico, principalmente na faixa dos 25/30 anos. Isso quer dizer que parte significativa da população ainda vai procurar um imóvel para comprar. A classe C é a faixa populacional em que existe maior demanda. Há, portanto, um potencial de crescimento do mercado imobiliário no segmento nos próximos 15 anos.

Henrique Teixeira Penteado, professor dos MBAs da Fundação Getúlio Vargas.
 

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