Assessoria de Comunicação da Cbic
Até se instalar o cenário atual de inquietação, horizontes mais claros eram projetados para o desempenho da construção civil, após os resultados negativos dos dois últimos anos. A perspectiva era de expansão de 0,5% para este ano, e para 2018 as projeções apontavam um crescimento do nível de atividade do setor em 2%.
Dirigentes e empresários da construção civil torcem para que as incertezas sejam logo dissipadas, que o Congresso Nacional garanta a aprovação das reformas estruturais, para que o Brasil retome logo a navegação positiva que apresentava na economia, nos primeiros meses do ano.
Os dados são da análise conjuntural sobre o desempenho, perspectivas e desafios do setor de construção civil, apresentada pelos economistas Daniel Furletti e Ieda Vasconcelos, dirigentes do Sinduscon-MG e responsáveis pelo Fórum Banco de Dados, no 89º Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic).“Vários indicadores sugeriam uma melhoria sensível no ambiente de negócios, indicando boas perspectivas para o setor produtivo, caso da construção”, explicou Furletti.
Destaca que os resultados da construção civil caminham bem próximos aos da atividade econômica global no país. Enquanto as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro este ano apontavam 0,47% positivos (relatório Focus do Banco Central), o PIB da construção indicava crescimento de 0,5%, conforme estimativa da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Também em 2018, o PIB da construção civil pode alinhar-se ao PIB nacional, ambos projetados com alta real de 2%, descontada a variação inflacionária.
Tais evoluções levam em consideração uma inflação oficial ao redor de 4,01% e juros (taxa básica Selic) em 8,5% ao fim de 2017, entre outros fatores macroeconômicos.
“Isso tudo já criava um cenário benigno para o setor imobiliário”, disse Furletti, ao lembrar os números setoriais ruins, na esteira da recessão que tombou a economia brasileira nos últimos dois anos. Em 2015, enquanto o PIB geral teve queda de 3,8%, o nível de atividade da construção retrocedeu 6,5%. Ano passado não foi diferente: o PIB da construção caiu 5,2% acompanhando a redução de 3,6% no PIB nacional. “Embora as perspectivas sejam de um crescimento ainda pequeno, não podemos deixar de considerar que 0,5% sobre um ambiente recessivo já é o início de uma retomada”, continuou o economista.
A análise conjuntural teve o objetivo de olhar os desempenhos recentes da atividade econômica, geral e setorial, para traçar perspectivas futuras à construção civil, “num contexto onde estamos com juros em redução, inflação mais sob controle e as reformas estruturantes sendo encaminhadas, o que, sem dúvida, vai dar um ambiente mais propício para setores produtivos como a construção”, descreveu Furletti.
O indicador de confiança da construção civil foi outro fator positivo apontado pelos expositores. Apurado pela Confederação Nacional da Indústria, o Indice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) – Indústria da Construção, que em abril de 2016 desceu a 36,4 pontos, ultrapassou a barreira negativa e subiu em maio a 52,7 pontos, no levantamento procedido entre os dias 2 e 12 de maio deste ano. Na cola dos 53,7 pontos registrados na média dos setores apurados pela CNI em maio.
O ICEI obedece a uma escala de zero a 100. Mostra empresários confiantes, otimistas, conforme vai registrando valores acima dos 50 pontos, e indica falta de confiança abaixo dessa marca.“Os números recentes mostraram que havia uma clara recuperação, que o empresário voltava a ficar confiante. E a confiança é o primeiro elo da cadeia do investimento”, destacou Furletti.
Todos os indicadores, que apontavam uma perspectiva bem positiva para os negócios do setor imobiliário este ano, foram coletados antes das nuvens de incerteza que voltaram a pairar nos cenários político e econômico do país, em meados de maio.Razão pela qual os economistas reiteram a importância da continuidade no rito de aprovação das reformas trabalhista e da Previdência pelos parlamentares, de forma a garantir a melhoria do ambiente fiscal. Afastar a crise fiscal é vital para a recuperação da economia e criação de condições para o retorno do investimento público e privado, reiteram.
“É claro que temos que relativizar porque, para ficarem bons, mesmo, os números ainda precisam de consolidação. Tivemos duas quedas anuais consecutivas e a economia continua com um crescimento previsto muito pequeno, sobre uma base negativa”, citou, lembrando que, agora, é preciso cautela e aguardar para ver como se comportarão os principais indicadores da economia brasileira.
“Precisamos de um descolamento da crise política, para que a economia voltar, de fato, a crescer, e o setor da construção deixar para traz perdas graves”, disse ele.
“Temos um número que reflete bem o cenário de recessão no setor, a perda de um milhão de vagas”, disse Vasconcelos, durante sua exposição no Enic. “Em abril de 2014, a construção tinha 3,219 milhões de trabalhadores contratados, caindo para 2,221 milhões em abril deste ano”, apontou.
Ela reforçou que apesar de alguns indicadores macroeconômicos terem apresentado resultados positivos no primeiro trimestre do ano, “os resultados da construção ainda não serão tão bons assim”. E listou alguns dados negativos, como a retração de 6,3% nas vendas de materiais; queda de 10,1% na venda de cimento e menos 14,4% nas unidades financiadas com recursos da caderneta de poupança, de janeiro a abril de 2017, em relação a período igual de 2016.
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