91º ENIC: Conhecimento compartilhado, transparência e ética devem formar novo alicerce do setor

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Agência CBIC

 

O compartilhamento de informações, a busca da transparência e a defesa da ética são princípios que devem nortear o setor da construção e servir de âncora para uma nova fase de crescimento. Essa foi a linha defendida pelos participantes do segundo painel da Comissão de Obras Industriais e Corporativas (Coic), da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), durante o 91º Encontro Nacional da Indústria da Construção (91º ENIC), no Rio de Janeiro. Durante o evento, foram lançadas duas cartilhas com orientações para as empresas sobre boas práticas na elaboração de contratos e de BDI (Budget Difference Income).

 

Confira a galeria de fotos do painel

 

A diferenciação entre as empresas que atuam em um mercado competitivo, como o da construção, não exclui a necessidade de uma maior integração e troca de conhecimento e experiência. Por isso, foi muito bem recebida a apresentação do diretor técnico da REFE Engenharia, Ângelo Ricardo Rech, que falou sobre as melhorias obtidas com o emprego da plataforma digital BIM (Building Information Modeling, ou, ‘modelagem de informação da construção’, em português).

 

Essa ferramenta tecnológica permite não só um planejamento das obras mais aprimorado, com uma visão de conjunto mais aprofundada, como traz a vantagem de realizar atualizações e ajustes nos projetos a cada alteração ou inserção feita em suas diferentes etapas. O BIM vem possibilitando a realização dos empreendimentos com nível de sucesso muito maior por proporcionar o enquadramento de todas as fases do processo, sem que o executor tenha que refazer na ponta os cálculos ou simplesmente entregue um resultado falho. O trabalho à distância é outra enorme vantagem dessa ferramenta, como pôde ser demonstrado através do case de um parque industrial da empresa gaúcha Marcopolo, concebido inteiramente no Sul para a instalação no Espírito Santo.

 

“A vantagem é que temos os problemas resolvidos antes de serem assinados os contratos e o projeto chegar aos canteiros. Isso traz economia, que pode se reverter em lucro tanto para o contratado quanto para o contratante”, ressaltou Rech. “Dá para ver se uma estrutura de ferro está avançando numa canaleta, por exemplo, e consertar antes. Demora o triplo do tempo em relação a desenho em 2D genérico, mas não tem como forçar e enganar o BIM. Ele mostra o trabalho de forma gráfica e sabe que na obra vai dar tudo certo”, acrescentou o engenheiro.

 

A Coic aproveitou a realização do ENIC para o lançamento de duas cartilhas. Uma cartilha fala sobre “Contratos de Empreitada na Construção” e outra sobre “Bonificação e Despesas Indiretas nas Obras Industriais”, esta focando o BDI. Este cálculo inclui variáveis de um projeto, como impostos, seguros e garantias, despesas financeiras e contingências, entre outros, dando mais transparência, segurança e previsibilidade para as partes. O objetivo é aprimorar o ambiente de negócios entre as empresas e estimular melhores condições de formação de preços.

 

“Hoje há um baixo percentual de projetos com sucesso total no Brasil. Apenas 53% dos projetos implantados têm sucesso total. Tanto o BDI quanto a modelagem dos contratos podem contribuir para reverter isso e melhorar esses números”, declarou Thiago Gomes de Melo, coordenador a Subcomissão de Contratos do Sinduscon/MG, que participou da elaboração das cartilhas.

 

Durante o debate, o diretor técnico da Dois A Engenharia, Antônio Medeiros de Oliveira, destacou a dificuldade de adesão ao BIM de grande parte dos profissionais envolvidos num projeto, pela preferência de muitos por softwares tradicionais de projeção e modelagem de amplo uso no mercado. Rech aproveitou para explicar que a ferramenta digital não é um software pronto, mas uma plataforma de trabalho. “Temos que investir em treinamento para o uso da ferramenta”, disse Rech.

 

Em seguida, o painel contou com a participação da presidente da Comissão de Responsabilidade Social (CRS) da CBIC, Ana Cláudia Gomes, que apresentou um histórico do trabalho da comissão em formular propostas de consenso na área de ética e compliance. Ela trouxe a experiência e o expertise de outro grupo, dando ao painel o caráter de um esforço conjunto. Mais do que ter um departamento voltado para a integridade, ficou evidente que as regras precisam de fato ser cumpridas. As condições práticas para a construção de um novo ambiente e de uma nova cultura no setor, que foi abalado pelo escândalo da Lava Jato, precisariam ser pavimentadas através de maior transparência, desconcentração e combate ao abuso de poder. Tais princípios podem recuperar a reputação e confiança do setor junto à sociedade.

 

“No início ouvia inclusive que ética e compliance não são adequados ao negócio da construção. Mas um programa de integridade é necessário por envolver todos os stakeholders. A reputação para nossa indústria é muito importante. Hoje temos muito material produzido totalmente disponibilizado na internet e um programa de ensino à distância que está sendo aplicado pelos sindicatos”, contou Ana Cláudia.

 

Para ilustrar melhor ainda os benefícios do investimento em compliance foi apresentado o case da incorporadora paulista Tarjab, pelo seu diretor executivo Carlos Alberto Borges. A empresa adotou política de ética há 10 anos e tomou a decisão de ter tolerância zero com a corrupção e a informalidade. Para isso, estabeleceu uma política transparente de governança corporativa e de rigorosa gestão de riscos.

 

“A médio prazo quem não tratar desses temas não vai sobreviver. Hoje há uma questão mais nobre. A sociedade quer das empresas mais do que resultado. Não dá mais para pensar só nisso. Tem que pensar no propósito, qual é o sentido maior da empresa”, afirmou Borges, que aposta no combate aos pequenos delitos como uma etapa fundamental desse processo.

 

O presidente da Coic, Ilso José de Oliveira, declarou ao final que o saldo do primeiro ENIC da comissão foi extremamente positivo. “Não vamos resolver todos os problemas de uma vez, mas temos que dar o primeiro passo e o melhor é admitir o problema. Saímos pelo menos com o primeiro passo concluído e cientes da necessidade de uma maior interação de todos”, afirmou Oliveira.

 

O evento é uma realização do Sindicato da Indústria da Construção no Estado do Rio de Janeiro (Sinduscon-Rio) e resultado da correalização da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Rio de Janeiro (Ademi-Rio) e do Serviço Social da Indústria da Construção do Rio de Janeiro (Seconci-Rio).

 

O programa de trabalho da Comissão de Obras Industriais e Corporativas – COIC/CBIC no 91º ENIC conta com o apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI.

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