Júlia Campos
Correio Braziliense
Graças ao aumento nas vendas, construção civil está contratando tanto quanto demitindo
Após dois anos de números negativos, a construção civil vive um momento de otimismo no Distrito Federal. Empresários do setor esperam uma melhora neste segundo semestre e no início de 2018. A recuperação ainda é tímida. Os empreendedores não sentem confiança no mercado, mas eles acreditam que o pior passou. Desde o início deste ano, a quantidade de admissões tem se aproximado à de demissões. Em janeiro, 2.093 trabalhadores perderam o emprego e foram contratados 1.718, um deficit de 375. Já em junho, houve 1.663 dispensas e 1.513 contratações, um saldo negativo de 150. Os números são do Cadastro de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego.
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Presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), Luiz Carlos Botelho diz que “o primeiro semestre funcionou no modo standby”. Na questão da geração de emprego, riqueza e oportunidade para a população não foi algo forte, mas apontou melhora, explica ele. “Na área de construção civil, o que mais emprega são as obras públicas, e, nos últimos meses, não houve novas construções. O que ocorreu foram obras de infraestrutura e reparos, por exemplo, que também são importantes, mas não têm tanto impacto”, pondera.
Em relação às vagas nas incorporações, a oferta ainda é pequena, mas a procura pelos empreendimentos é grande. Isso reflete a retomada de confiança do consumidor, com uma expectativa de melhora na economia, segundo representantes do setor. Em 2016, houve seis lançamentos de grande empreendimentos imobiliários em todo o DF. Neste ano, até junho, foram quatro. A expectativa do setor é que chegue a 10, até dezembro.
“A confiança está crescendo e teremos que buscar o equilíbrio. Mas os empreendedores ainda não estão sentindo força no mercado e também há uma insegurança jurídica por parte deles”, comenta Luiz Carlos Botelho. Um exemplo da oferta e demanda é Águas Claras. Não há mais apartamentos novos de três quartos para venda na região. O mesmo acontece em Ceilândia, no caso de imóveis de dois quartos. Para os interessados nesses tipos de apartamentos resta comprar um usado ou investir em outras cidades.
Segurança
Ainda que haja otimismo, a Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi) acredita que a reação será lenta e gradual, pois os empreendimentos demoram até 36 meses para serem entregues. Um dos impasses também é a questão dos juros. Alguns clientes fazem a compra do imóvel, mas, devido às taxas altas de financiamento, devolvem o bem por não conseguir pagar as prestações. Mas, segundo o presidente da Ademi, Paulo Muniz, com a sinalização de queda do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, a Selic, já é possível sentir uma movimentação positiva. “Se as pessoas tinham dúvidas, vão começar a investir em imóveis novamente. Pois sempre foi um artigo de segurança, um bem de raiz para o cidadão”, destaca.
O Índice de Velocidade de Vendas (IVV) do setor imobiliário do DF em maio foi de 6% para o mercado residencial. Isso significa que a cada 100 imóveis ofertados, seis foram vendidos. O índice apurado é considerado positivo pelas entidades do setor, já que está bem próximo do que é considerado como um “cenário realista” nos estudos de viabilidades de um empreendimento no mercado imobiliário (5%). “Temos uma condição interessante, está bem razoável. Temos tido alguns valores muito favoráveis. Mostra que o mercado está reagindo bem mesmo com poucos lançamentos”, ressalta Paulo Muniz.
O IVV mostrou ainda que, em maio, o metro quadrado de imóvel residencial construído mais caro no DF era de R$ 14.906, 74, na Asa Norte, seguido pelo Noroeste, avaliado em R$ 11.438,84, e Park Sul, R$ 10.284,20. Já o mais barato era em Santa Maria: R$ 2.985,48. Considerando os índices coletados desde janeiro deste ano, o IVV teve uma média de 6,24% nos primeiros cinco meses. Segundo dados da entidade, em 2016, a oferta média de imóveis residenciais novos no DF, entre as empresas pesquisadas, foi de 4.333, abaixo da média de 2015: 4.418 unidades. De janeiro a maio de 2017, a oferta média está em 3.843 unidades. Em maio foram ofertadas 4.116 unidades residenciais.
A pesquisa do IVV é útil para compradores de imóveis, para as autoridades do DF, para incorporadores de imóveis, bem como para toda a cadeia produtiva, pois sinaliza o comportamento do mercado de forma global e setorizado por região administrativa e por tipo de planta, indicando onde há demanda por novas construções e de quais tipologias.
Informalidade
Após dois anos de formado, o engenheiro Adriano Braga, 23 anos, não conseguiu arrumar emprego formal. Para driblar a crise na profissão, tem feito trabalhos autônomos, como na emissão de Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), o documento que faz o engenheiro ser responsável por toda obra ou serviço. Além disso, estudou para concurso público. Foi aprovado recentemente. “O mercado ainda está ruim. Ninguém consegue nada fixo. Como o mercado tende a melhorar agora, mais obras devem aparecer e, com isso, os serviços de ART devem aumentar. Assim, vamos passar a exercer mais a profissão”, comenta.
Apesar das boas projeções, os economistas pedem cautela, pois os momentos político e econômico são delicados. “A taxa de emprego ainda é negativa, ainda que os juros tenham caído. Esses empreendimentos são investimentos a longo prazo e necessitam de um planejamento muito maior. Há muitas incertezas e a retomada não vai ser rápida. E quando ela vier, vai continuar instável. A fase mais caótica já passou, mas ainda vai demorar a voltar ao normal”, alerta o professor Carlos Alberto Ramos, do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB).
Amostra expressiva
A Pesquisa IVV acompanha mensalmente, desde dezembro 2014, o ritmo de vendas de imóveis novos nas várias regiões administrativas do DF, considerando lançamentos e os em oferta. A amostra é bem expressiva, abrangendo aproximadamente 50% do mercado local (formado por cerca de 60 incorporadoras). O IVV é apurado mensalmente por meio de pesquisa realizada pela Ademi-DF e pelo Sinduscon-DF, com apoio do Sebrae-DF.