Correio Braziliense
Ética, conformidade, credibilidade, responsabilidade e confiança são hoje fundamentais para uma empresa sobreviver, porque o mundo mudou e não aceita mais a desonestidade e a corrupção. Esta avaliação foi apresentada no painel “Ética e Compliance na Construção”, durante o 89º Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic).
Credibilidade e confiança talvez sejam atualmente os ativos mais importantes de uma empresa, avaliou o cientista político e consultor Leonardo Barreto. “A corrupção é hoje um inibidor do desenvolvimento econômico”, comentou. “As coisas mudaram no Brasil porque o mundo mudou”, acrescentou Eliana Calmon, ministra aposentada do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Ética era, segundo ela, apenas uma discussão filosófica, sem qualquer relação com o mundo concreto. Com a mudança, a “ética passa a valer dinheiro”. “O mundo passou a se preocupar com a corrupção, não porque os países são bonzinhos, mas pela repercussão na economia”, disse a ministra. Para o economista Gesner Oliveira, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a sociedade brasileira não aceita mais a corrupção.
Gesner Oliveira fez uma exposição com orientações para as empresas de construção reduzirem os riscos de corrupção e desvios e melhorarem a conformidade e a transparência. “É um reflexo do momento que o país está vivendo, mas as mudanças são demoradas, porque a corrupção envolve aspectos culturais”, avaliou.
Geralmente, a implantação de projetos de ética e compliance enfrenta resistência por causa da cultura da empresa e dos custos, disse o consultor Leonardo Barreto, lembrando, porém, tratar-se de movimento de conformidade mundial. Ele acredita que o setor de construção pode passar por uma mudança radical, como aconteceu no agronegócio há algumas décadas. Ética também foi o tema da palestra do filósofo e historiador Leandro Karnal. Ele lembrou que só chegaremos a um Estado ético quando a sociedade também adotar princípios e valores éticos. Segundo ele, a sociedade brasileira tem arraigados comportamentos antiéticos e citou como exemplos a aceitação de pagamento sem nota fiscal e os pedidos de atestados médicos falsos.
Mas Karnal acredita que há claros sinais de mudança na sociedade. Um deles é o fato de um filósofo como ele estar sendo convidado para dar palestras no país inteiro. “Antes, só se discutia ética nas aulas de filosofia”, brincou. A ética, para ele, é uma forma da empresa viver em tranquilidade.