Marlla Sabino
Correio Braziliense
Setor reclama de reajustes em meio a mercado ainda fraco; cimenteiras alegam que precisam repassar custos de produção
O último reajuste no preço do cimento pressionou o custo das obras no Distrito Federal. Duas das quatro principais empresas que fornecem o insumo na região elevaram os valores nas últimas semanas. O aumento causou um impasse entre representantes da construção civil, que dizem não poder arcar com os aumentos, e as empresas fornecedoras, que alegam enfrentar elevação de custos com combustível, logística e mão de obra. Na Concrecon, o cimento ficou 12% mais caro e na Ciplan, 15%, em média. Em consequênca, o preço do concreto fornecido para as obras também subiu.
Para o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), Luiz Carlos Botelho Ferreira, o grande problema é que, por se tratar de um mercado concentrado, os reajustes fragilizam as construtoras, que ainda sofrem com o ritmo fraco da economia. “Não tem como repassar esse aumento para contratos privados ou públicos. Isso vai desequilibrar as construtoras”, afirmou.
Para Julio Peres, ex-presidente do Sinduscon-DF e ex-secretário de obras do DF, as empresas que fecharam contrato de obras públicas terão que arcar com os custos, já que o orçamento foi fechado antes dos aumentos. “Os reajustes ficaram bem acima da inflação. Nas próximas licitações, será preciso ajustar a previsão financeira, e podem faltar recursos”, disse.
De acordo com o responsável pela área comercial da Concrecon, Marcelo Reguffe, o reajuste no cimento portland foi de 12% em julho, devido aos aumentos do diesel, da mão de obra e dos custos com logística. “Pensamos na cadeia como um todo. Se o mercado se aquecer, como esperamos, manteremos o preço. Ainda estamos em um patamar inferior ao que tínhamos anteriormente”, argumentou.
O presidente interino da Ciplan, Sérgio Bautz, afirmou que as concreteiras tiveram que repassar o aumento dos custos de produção. “Nos últimos quatro anos, o preço do cimento caiu mais de 15%. Em julho, estávamos vendendo a R$ 15,45 a saca, que custava R$ 17,17 em 2015. Em agosto, aumentamos para R$ 16,45, em média, por conta da alta dos insumos”, detalhou. “Sem reajuste, todos quebraríamos.”
Bautz ainda explicou que não houve 40% de aumento no preço do concreto, como alegaram alguns empresários. Em 2012, o metro cúbico era vendido no DF por R$ 244. Em junho deste ano, o preço caiu para R$ 220. “Estávamos amargando prejuízo. Se tivéssemos que corrigir o preço nesses anos, o produto deveria custar R$ 285, mas aumentamos para R$ 254. A alta foi de 15,45%, em média”, frisou.
Dionyzio Klavdianos, presidente da filial do DF da Cooperativa Central da Construção Civil do Brasil (Coopercon Brasil), acredita que as empresas não conseguirão manter os preços altos por muito tempo. “O mercado ainda está muito fraco. Tem outras empresas que não aumentaram o preço e, como não foi generalizado, não sei se vai vigorar”, avaliou.