Simone Kafruni
Correio Braziliense
A Caixa Econômica Federal disponibilizou R$ 93 bilhões para o crédito habitacional neste ano, dos quais R$ 59 bilhões foram liberados. Para reaquecer a demanda e atingir o objetivo de aplicar os R$ 34 bilhões restantes até o fim do ano, o banco promoveu medidas estratégicas no crédito imobiliário nos últimos meses. Relançou o Plano Empresário (PEC), que proporciona condições especiais para o setor da construção civil, e para pessoas físicas aumentou a cota de financiamento de 70% para 80% nos imóveis novos e de 60% para 70% em caso de imóveis usados no Sistema Financeiro Imobiliário (SFI).
A instituição também elevou o teto de financiamento de R$ 1,5 milhão para R$ 3 milhões para imóveis dentro do SFI. "A Caixa já percebeu um aumento de procura por financiamentos neste segundo semestre. O banco acredita que os ajustes promovidos contribuíram", disse o vice-presidente, Nelson Antônio de Souza.
A Caixa teve de buscar alternativas para ampliar o mix de recursos que serve de lastro para os empréstimos, de modo a diminuir a participação das captações por meio de Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), com o lançamento de R$ 3,3 bilhões em Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI). Outra medida foi liberar recursos dos depósitos da caderneta de poupança, o que disponibilizou R$ 5 bilhões. No caso das operações com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), houve ampliação de R$ 30 bilhões. Nas linhas do Programa Minha Casa Minha Vida, houve expansão de cerca de R$ 13,5 bilhões para financiamentos onerosos e R$ 4,7 bilhões para subsídios.
Demanda
Na opinião do presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Martins, não se trata de dinheiro novo. "O valor já estava no orçamento, mas faltava demanda. O que a Caixa fez foi dizer: ‘batam na porta porque misturamos várias fontes de recursos e temos dinheiro’’, explicou. "As construtoras, no entanto, estão sem recursos para aplicar em novas obras. O que se pode considerar é um estímulo indireto: se as empresas conseguirem vender o estoque por conta das linhas de financiamento, podem começar a pensar em investir em lançamentos", disse.
Para Carlos Hiram Bentes David, presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-DF), o financiamento é o grande fomentador da compra e venda. "No momento em que a Caixa restringiu o crédito, diminuiu a procura por imóveis. Mudou o rumo quando ampliou o teto de R$ 750 mil para R$ 1,5 milhão, porque aumentou a faixa e o potencial de demanda. As medidas são muito bem-vindas porque ainda existe a expectativa de redução de juros", ressaltou. Segundo ele, o resultado de 2015 foi pífio e o do primeiro semestre de 2016 também foi muito ruim. "Agora é que o mercado começa a reagir", assinalou.
No entender de Paulo Muniz, presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi-DF), a demanda sempre existiu, mas o setor estava notando cada vez mais dificuldade na aprovação dos cadastros, sobretudo pela Caixa, que é o principal agente financiador imobiliário. "A procura estava maior naqueles empreendimentos que fazem promoção, preço baixo. Mas a oferta começou a diminuir, com a recuperação da confiança, e a velocidade de vendas chegou a 5%, um bom índice", lembrou.