Rafael Campos
Correio Braziliense
Pequenas medidas, como evitar o uso de mangueiras e fechar a torneira durante a escovação, devem fazer parte da rotina
A falta d’água assola mais moradores do que os alertados pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) nas últimas semanas. Os moradores do bairro Boa Vista, na Fercal, distante cerca de 38km de Brasília, sofrem com problemas hídricos há tempos. E, desde sexta-feira, isso se repete: a região está desabastecida. O motorista Audo Santos, 37 anos, reside ali há cerca de 10 anos e nunca enfrentou uma seca tão grande. Ele sai todos os dias de casa às 6h30 e percorre cerca de dois quarteirões em direção a uma torneira comunitária, abastecida por poço artesiano. No local, às vezes, há fila. “Ultimamente, a situação tem piorado. A cidade está parada, esperando melhora”, reclama.
Na casa de Audo, a louça está acumulada. O motorista conta que, eventualmente, se une com oito famílias para dividir um caminhão-pipa, no valor de R$ 180, para abastecer as caixas d’água. Cada reservatório suporta mil litros, que duram três dias. De acordo com a Caesb, a região não está dentro do planejamento de cortes estabelecidos, mas os moradores se queixam da situação. “Não temos condições de sobreviver utilizando água de um poço. Toda a comunidade depende apenas de uma torneira. Chega a ser desesperador”, aponta Audo.
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O coordenador do curso de engenharia ambiental e sanitária da Universidade Católica de Brasília (UCB), Marcelo Gonçalves Resende, integrante do Conselho de Recursos Hídricos do Distrito Federal, lembra que as precipitações de 2016 ficaram bem abaixo da média. “Em fevereiro, costuma chover 220mm. Este ano, caíram somente 50mm. Em abril, a média é de 110mm. Em 2016, tivemos somente 15mm. As alternativas que temos são o Sistema Corumbá e o Sistema Paranoá”, afirma, citando duas obras atrasadas. Para o especialista, a possibilidade de racionamento é real. “Estamos com a luz amarela acesa. Mesmo que haja chuva em outubro, ela precisa ser muito intensa”, revela.
Com essa sinalização, manter o racionamento em uma casa com três pessoas se torna um desafio. Para Fernando Mendonça Souza, 45 anos, morador de Sobradinho, a falta de água é preocupante. “Aqui na cidade ainda não fomos muito afetados. A maioria dos vizinhos tem reservatórios, mas não sabemos até quando vão durar”, conta. Na casa dele, a máquina de lavar está parada por causa da falta de força no fluxo da água. “O que nos resta é esperar. Com essas notícias, vamos começar a economizar.”
Medidas
A indústria também demonstra preocupação com a escassez hídrica. Marcontoni Bites Montezuma, diretor de Inteligência Estratégica Integrada e Sustentabilidade da Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra), explica que os gastos com reúso de água estão cada vez mais imprescindíveis, e as pequenas indústrias terão de gastar para se adaptar. “Mesmo não tendo incentivos do governo ou condições, dada a crise que estamos vivendo, elas vão investir nesses sistemas para que reduzam, em dupla medida, o consumo e o gasto com água.”
Outro ponto que causa apreensão, segundo Marcontoni, está no fato de a indústria do DF não estar preparada para racionamento prolongado. “A questão urge e só paliativos não resolverão a questão. A educação ambiental, a conscientização de não desperdício e tantas outras ações podem e devem ser tomadas rotineiramente”, alerta.