Destruição de 62,8 mil vagas – Correio Braziliense

TAMANHO DA FONTE: A+ A A-


Celia Perrone
Correio Braziliense

O desemprego não dá trégua ao brasileiro. Em abril, 62,8 mil vagas com carteira de trabalho assinada foram extintas. É o segundo pior resultado para o mês da série histórica do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), iniciada em 1992. No acumulado de 2016, já são 378,4 mil contratos profissionais encerrados. Em 12 meses, há 1,82 milhão de pessoas a mais sem trabalho.

"O desemprego continua ruim, mas o ritmo de queda desacelerou. A febre baixou de 40ºC para 39,2ºC", comentou o economista Rodolfo Peres Torelly, ex-diretor do Departamento de Emprego do Ministério do Trabalho.

"Vínhamos registrando resultados cada vez piores desde o início do ano: menos 99 mil vagas em janeiro, menos 104 mil em fevereiro e menos 118 mil em março. Se continuasse nessa toada, o esperado seriam menos 130 mil empregos fechados em abril. Mas só conseguiremos ver se é uma tendência ou um ponto fora curva nos próximos dois meses", completou. O resultado do Caged é a diferença entre as demissões e admissões.

O professor de economia da Universidade de Brasíla (UnB) Carlos Alberto Ramos notou uma piora: o núcleo da crise se deslocou para o setor de serviços. "O comércio está acelerando a queda, com mais de 30 mil empregos fechados. Essa é a má notícia. E isso foi no mês de abril, que tem as contratações para o Dia das Mães. Os próprios consumidores estão com medo de desemprego, por isso o consumo despenca", salientou.

Graças ao câmbio, as fábricas estão demitindo menos. Em 2015, o setor demitiu 53 mil pessoas. Neste ano, foram 16 mil. O economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI) Marcelo Azevedo confirma que o efeito câmbio tornou a indústria mais competitiva para exportação, mas o cenário ainda é de muita instabilidade. "A expectativa da resolução da crise política é um processo longo", emendou.

O presidente da Câmara Brasileira da Indústria de Construção (Cbic), José Carlos Martins, reconheceu que houve desaceleração das demissões no setor, mas destacou que o número de vagas fechadas ainda é muito expressivo. "Precisamos ter horizonte. Ninguém faz investimento com insegurança: nem o empresário, nem o consumidor, que perdeu fôlego financeiro e ainda sofre com restrição de crédito", constatou.

O motorista Tibério César Mendes, 35 anos, conhece bem essas agruras. Ele está há oito meses procurando trabalho e não conseguiu receber três das cinco parcelas do seguro-desemprego a que teria direito. Com um filho de 9 anos para sustentar, está vivendo de bicos. "Tenho oito anos registrados, sendo três só no último emprego. Mas eu não desisto. Viver no Brasil se tornou um ato de fé.Tenho que acreditar", resumiu.

Julimária Almeida, 19, ex-balconista de uma loja de informática, está perdendo as esperanças. Ela vive com os pais e ajudava nas despesas da casa. "Está muito difícil se recolocar. Fui dispensada por causa da crise. As vendas não param de cair", lamentou.

O Distrito Federal foi uma das unidades da Federação que apresentaram resultado positivo no Caged, com a criação de 1,2 mil empregos. Só ficou abaixo de Goiás, com 5,1 mil, e de Minas Gerais, com 3,8 mil. Houve expansão do nível de emprego somente na Região Centro-Oeste, com alta de 0,13%, devido, principalmente, ao desempenho favorável dos subsetores da indústria de transformação e construção civil. Todas as outras regiões tiveram desempenho negativo: Nordeste, com queda de 0,40%; Sudeste, com perda de 0,12%; Sul, onde houve redução de -0,16%; e Norte, em que houve queda de 0,32%.

"O Nordeste, que teve a maior queda absoluta, era uma das última regiões que estavam resistindo à crise", ressaltou o professor Carlos Alberto Ramos, da UnB.

Leave a Comment

Abrir bate-papo
Precisa de ajuda?
Olá, 👋
em que podemos te ajudar?