Construtoras estão com máquinas paradas e com dívidas – Fato Online

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Valéria Rodrigues
Fato Online

Empresários revelam que investimentos feitos foram frustrados e que os custos aumentaram. Satisfação com a situação financeira caiu ainda mais em setembro e grandes empresas são as que responderam ter maiores problemas para acessar crédito

A grande ociosidade na indústria da construção civil acendeu um sinal de alerta para outro problema: o aumento do endividamento das empresas do setor. A sondagem da construção, pesquisa divulgada na segunda-feira (26) pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), revelou que os empresários estão preocupados com a situação financeira das companhias. A pesquisa da CNI mostra o indicador de satisfação com a situação financeira cada vez mais baixo. Ele recuou de 37,2 pontos no segundo trimestre do ano para 36,1 pontos no terceiro e, quanto mais distante e abaixo dos 50 pontos, maior a insatisfação.

"Esse indicador de situação financeira é diretamente relacionado à elevada ociosidade. A empresa teve os investimentos frustrados, um monte de custo por conta disso sem o retorno esperado", explica Marcelo Azevedo, economista da CNI. A pesquisa foi realizada com dirigentes de 629 empresas, entre 1º e 15 de outubro. Dessas empresas, 200 são de pequeno porte, 275 são médias e 154, de grande porte.

Diferentemente da indústria da transformação, que trabalha com o conceito de capacidade instalada, ou seja, que considera a produção e a utilização dos equipamentos, a construção civil parte do planejamento prévio do número de trabalhadores e dos equipamentos necessários para realizar determinado projeto. No jargão do setor, isso é chamado de utilização da capacidade de operação (UCO). Desde janeiro deste ano, por esse conceito, é registrada ociosidade na construção civil em torno de 40%. De acordo com a CNI, por se tratar de série relativamente nova – os primeiros dados são de janeiro de 2012 – não é possível apontar com segurança a média da utilização da capacidade operacional.

No entanto, os dados da sondagem reforçam a percepção de que as empresas do setor estão em dificuldades. Os indicadores sinalizam evolução dos preços de insumos e das matérias-primas e apontam que o ritmo de atividade é cada vez mais lento, num ambiente de crédito caro e difícil.

A sondagem da indústria da construção indicou algo raro: as grandes empresas são as que mais estão sentindo dificuldade de acesso ao crédito nesse momento. Marcelo Azevedo acredita que se trata de fato isolado, mas chama a atenção. Em julho deste ano, bancos alongaram prazos de carência dos empréstimos feitos para a construção de imóveis. O objetivo era evitar o aumento da inadimplência, uma vez que construtoras e incorporadoras estavam com dificuldades para vender imóveis construídos a partir de empréstimos que fizeram no mercado. "E os estoques (de imóveis) continuam crescendo", garante Luciano D’Agostini, do Cofecon (Conselho Federal de Economia).

Pessimismo contamina expectativas

A indústria da construção espera um início de 2016 bastante difícil. Indicadores de expectativas futuras apurados na pesquisa da CNI mostram que o setor apostando em continuidade da queda de atividade nos quatro primeiros meses, em razão de menor contratação de serviços e de empreendimentos. Por essa razão, o quadro aponta menor intenção de compras de insumos e de matérias primas, de redução dos investimentos e de aumento do desemprego no setor.

"O que ocorre é que talvez não existam incentivos para a produção de novos imóveis, em um contexto curioso: há mais de 6 milhões de famílias interessadas em ter a casa própria", afirmou D’Agostini.

Previsão do governo federal de estimular investimentos em logística não animam o setor. Até por que, em junho, foi anunciado o programa de concessões públicas de R$ 198,4 bilhões em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, mas quatro meses depois, as propostas continuam em discussão. "Pode ser que depois que toda formatação for concluída, isso afete as expectativas, sobretudo de setores mais relacionados a esse tipo de negócio", afirma o economista Marcelo Azevedo, lembrando que hoje, a construção civil está pessimista quanto ao pacote de concessões.

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