Setor imobiliário respira com verba da poupança de R$ 22,7 bilhões dos bancos – Correio Braziliense

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Interessados em comprar imóveis devem ficar atentos às oportunidades de preços e taxas. Estoque alto e metro quadrado mais barato podem facilitar escolha

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Rodolfo Costa
 
A semana começa com certo alívio para o setor imobiliário. Depois de muita pressão e da inicial negativa do governo de flexibilizar as regras do compulsório da poupança para financiamentos no setor, o Conselho Monetário Nacional decidiu injetar R$ 22,5 bilhões no segmento. Na última sexta-feira, o Banco Central anunciou que, a partir de hoje, os bancos poderão usar parte maior dos recursos que deveriam ficar retidos na autoridade monetária para empréstimo para compra de imóveis. A liberação deve beneficiar principalmente a Caixa Econômica Federal, que detém uma participação de 70% do mercado.
 
Para o vice-presidente da Indústria Imobiliária do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), Adalberto Júnior, a medida não soluciona os problemas do setor, mas vai amenizar. “O reforço de crédito traz um recurso que antes não existia e dá fôlego para o Sistema Financeiro Habitacional (SFH). Tem chances de durar até o fim do ano, mas, sem uma retomada da economia, novas medidas paliativas serão necessárias”, avalia.
 
Além da liberação do compulsório, o Conselho Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) anunciou na semana passada a liberação de quase R$ 5 bilhões a mais este ano, para financiamento da casa própria a cotistas do FGTS que ganham mais. A medida veio acompanhada, no entanto, da redução do teto do valor do imóvel de R$ 750 mil para R$ 400 mil.
 
Com as medidas, o governo espera aquecer o setor, que está com os estoques altos e demitindo trabalhadores — 110 mil postos foram fechados na construção civil em 2014 — pela falta de perspectiva de novos lançamentos. A expectativa é de que, com mais recursos disponíveis, mais pessoas tenham acesso ao crédito imobiliário. “Não sabemos ainda como esse dinheiro será usado. Como os bancos vão financiar, quem vão financiar, e se as taxas de juros voltarão aos patamares anteriores. Mas é animador para nós e certamente será para os consumidores que necessitam do crédito”, diz Júnior.
 
Endividadas e temendo a atual conjuntura econômica, as famílias vêm retirando recursos da poupança para saldar os débitos. Por conta desse movimento, os saques foram superiores aos depósitos na caderneta de poupança em R$ 30 bilhões durante os quatro primeiros meses do ano, o que motivou a Caixa e o Banco do Brasil a alterar as regras de financiamento imobiliário e elevar as taxas de juros do crédito imobiliário.
 
Cautela
 
Outras instituições financeiras também acompanharam os reajustes e ampliaram suas taxas de juros, que chegam a até 11% no Sistema Financeiro Habitacional (SFH), usado para financiamento de imóveis de até R$ 750 mil (veja quadro). Frente ao desaquecimento da economia, à inflação alta, ao aumento do desemprego e à desaceleração da massa salarial real, o consumidor que pensa em comprar, ou que já está consultando corretores em busca de uma casa ou apartamento, deve comparar as tarifas e os preços dos imóveis.
 
Mas, mais do que verificar taxas de juros, devem estar atentos ao Custo Efetivo Total (CET) da operação. Sobre cada financiamento, incidem outros custos adicionais, como taxas administrativas e seguros, adverte a coordenadora institucional da Proteste — associação de consumidores —, Maria Inês Dolci. “Nem todos os bancos têm taxas atrativas. Caberá ao consumidor escolher de acordo com o que for mais compatível ao bolso, optando sempre pelo menor custo”, avalia.
 
Com a injeção de crédito, o momento volta a ser mais atrativo para a aquisição do imóvel. O sócio da PwC Brasil Eduardo Luque alerta para os preços e talvez seja importante aproveitar oportunidades. “O valor cobrado por metro quadrado, que dobrou de 2007 a 2013, mantém-se estável e com viés de baixa, mas vai ter uma retomada de crescimento que pode começar em 2016 e ganhar mais força nos dois anos seguintes.”
 
Mas quem tem outras dívidas e pretende financiar o imóvel precisa analisar bem para evitar comprar um problema. “Em uma economia instável, o consumidor pode correr sérios riscos em assumir um financiamento imobiliário”, pondera o especialista em finanças Marcelo Segredo, diretor-presidente da Associação Brasileira do Consumidor (ABC). Ele recomenda que, caso o comprador sinta que não tem mais condições de manter o contrato, deve devolver o imóvel antes de se ver tentado a pegar um empréstimo para quitar as prestações atrasadas do imóvel.
 
“É melhor dar um passo para trás e desistir da compra; receber tudo o que pagou para acumular mais dinheiro e, futuramente, comprar um imóvel dando uma entrada maior e financiando um valor menor” explica. Se a aquisição foi de um imóvel na planta, é importante entrar em contato com a construtora e devolver o imóvel antes da entrega das chaves. “Depois que passar para o banco, pode ficar mais difícil. E aí, a melhor saída será entrar na Justiça”, justifica Segredo. 
 
Ainda é bom investimento
 
Mesmo diante da atual crise, comprar um imóvel pode ser um bom negócio para quem tem condição de pagar à vista. Em um ambiente de juros altos, a aplicação de recursos em uma casa, loja, sala ou apartamento, pode ser tão vantajosa quanto empregar capital em fundos de investimento, ou mesmo no Tesouro Direto, acredita Adalberto Júnior, do Sinduscon-DF.
 
“O cenário que está sendo traçado é favorável para o perfil de investidor. Aquela pessoa que tem recursos aplicados na poupança ou em outros tipos de investimentos vai certamente observar o mercado com mais atenção. A tendência é de uma valorização a curto ou médio prazo”, avalia.
 
Com a falta de novos produtos e lançamentos no mercado, a perspectiva é de um desequilíbrio entre a oferta e a procura, prevê o presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi-DF), Paulo Muniz. “A demanda continua crescendo. Pessoas que realmente precisam e querem comprar um imóvel vão ter que tomar uma decisão com rapidez”, analisa.
 
Pré-venda
 
Depois de um momento de grande expansão, em 2010 e 2011, quando o mercado atingiu um crescimento de cerca de 25%, o momento exige mais cautela dos empreendedores. “Hoje, antes de fazerem lançamento de qualquer lançamento, as construtoras fazem um trabalho de pré-venda com muito mais planejamento. Os empreendimentos só saem quando as empresas sabem que será um sucesso”, garante Eduardo Luque, sócio da PwC Brasil e líder de Engenharia & Construção.
 
Para Luque, as empresas aprenderam a “lição”. “As incorporadoras passaram por um momento de crescimento tão acentuado que se assustaram e não deram conta de manter um avanço provocado pelas condições de abertura de capital”, diz. Aliado à inserção da nova classe média no mercado, que pela primeira vez conseguiu crédito para a casa própria, os próprios empresários perceberam que o excesso de otimismo não foi bom para os negócios. “Foi saudável por alguns anos, mas se conseguiu manter um crescimento sustentável”, explica.
 
Segundo o sócio da PwC Brasil, as construtoras estão com estoques muito altos, mas esse cenário pode ser alterado, até por uma demanda reprimida. “Existe ainda um considerável deficit habitacional no país, de cerca de 8 milhões de unidades, bem como uma curva ascendente do Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que provavelmente continuará subindo nos próximos anos”, justifica.
 

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