Agência CBIC
“Não pergunte do que o mundo precisa, pergunte o que te faz sentir vivo. Porque o que o mundo precisa é de mais pessoas vivas.” Esta é a frase que a diretora Mara Mourão destaca do seu documentário “Quem se importa”, que mostra a história de 18 empreendedores sociais em sete países e os projetos inspiradores que desenvolvem. Em palestra no 91º Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic) nesta sexta-feira (17), a cineasta abordou a experiência de fazer o filme e o impacto positivo que o empreendedorismo social pode ter em empresas e comunidades.
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Mourão começou sua carreira dirigindo comédias e ganhou diversos prêmios com o filme “Doutores da Alegria”, que retrata um grupo de palhaços brasileiros que visitam pacientes em hospitais. A iniciativa é um dos exemplos trazidos pelo longa “Quem se importa”, lançado em 2012. A obra já foi exibida ao redor do mundo, como nos Estados Unidos, Coreia, China e Austrália. “Aprendi muito fazendo esse filme e, depois, fiz uma série com o mesmo nome, e outra chamada ‘Missões da Vida’”, contou a diretora.
Para Mourão, a multiplicação não só no Brasil como em vários paíseis de iniciativas de empreendedorismo social se deve a vários fatores, como o fortalecimento das democracias, o crescimento da classe média e a maior circulação de informação trazida pela Internet. “Com isso, a maioria da população teve mais acesso aos problemas sociais a cerca e a se engajar em ações para o bem comum, entendendo que só a partir do casamento entre o primeiro, segundo e terceiro setor que é possível construir soluções para os problemas mais complexos da sociedade e que o governo sozinho não vai dar conta. Se a sociedade não bater um bolão, não vamos avançar”, enfatizou.
A diretora explicou que empreendedores sociais sempre existiram, e que eles têm os mesmos traços que empreendedores de negócios. “São pessoas que tem prazer em buscar a solução, que encontram um obstáculo e não param por ali. Imagina todos esses talentos voltados para resolver uma questão social”, frisou Mourão. “É um cidadão comum que decidiu parar de reclamar e fazer as coisas acontecerem”, completou.
Ao longo de sua exposição, a cineasta apresentou diversos casos incluídos em seu documentário, como o do médico Eugênio Scannavino, que deixou São Paulo para tratar comunidades ribeirinhas na Amazônia, e o monge belga Bart Weetjens, que treina ratos na Tanzânia para localizar minas terrestres e identificar pacientes com tuberculose.
Mourão detalhou que existem diversas formas de se desenvolver iniciativas no campo social. Voluntariado, filantropia e ativismo são alguns dos mais conhecidos. Os negócios sociais, segundo a diretora, se caracterizam por ter como principal objetivo não o lucro, mas o impacto social. São exemplos o seminarista brasileiro Joaquim Melo e o economista bengali Muhammad Yunus – homenageado com o Prêmio Nobel da Paz -, que criaram bancos comunitários para ajudar populações carentes.
A última categoria mencionada por Mourão é o intraempreendedorismo social, movimento global de fazedores de mudanças corporativas trabalhando para transformar os negócios de dentro para fora, unindo inovação, bem comum e empreendedorismo.
Além disso, explicou ainda que existe a certificação Empresa B, um movimento que pretende disseminar um desenvolvimento sustentável e equitativo através da certificação de empresas no âmbito global. Toda empresa do sistema B possui como objetivo solucionar problemas socioambientais.
No fim da palestra, Mourão incentivou cada um dos presentes a procurar formas de fazer a diferença no dia-a-dia. Para isso, a cineasta ressaltou a importância de cobrar das empresas posturas mais sustentáveis. “A mudança depende dos consumidores, quando não comprarmos mais produtos de trabalho escravo ou de companhias que prejudicam a natureza, o setor privado entenderá que não conseguirá vender se não tiver preocupação com o lado social e ambiental”, acrescentou.
Ela também comentou sobre seu projeto “Sementes da Transformação”, que visa capacitar jovens sobre como criar iniciativas de engajamento social. “Não importa o q vc faz, você sempre pode causar um impacto positivo à sua volta”, concluiu.
A vice-presidente da área de Responsabilidade Social da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) – entidade promovedora do Enic – agradeceu a participação da convidada e destacou a relevância do tema. “É importante refletirmos sobre a capacidade transformadora que nós temos como indústria. Não é apenas construir casas e paredes, podemos ir além”, disse.
A palestra tem interface com os projetos de “Boas Práticas em Responsabilidade Social, Desenvolvimento de Lideranças e Ética e compliance na construção”, em correalização com o Serviço Social da Indústria (Sesi Nacional). Para encerrar, ocorreu também apresentação do o presidente do Plano de Amparo Social Imediato (Pasi), Alaor Silva, que tratou do histórico e soluções oferecidas pelo seguro.
O Enic é uma realização do Sindicato da Indústria da Construção no Estado do Rio de Janeiro (Sinduscon-Rio) e conta com a correalização da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Rio de Janeiro (Ademi-Rio) e do Serviço Social da Indústria da Construção do Rio de Janeiro (Seconci-Rio).