Simone Kafruni
Correio Braziliense
Em meio à baixa expectativa em relação ao crescimento da economia, que avançou apenas 1,1% em 2019, um importante setor para a geração de empregos e investimentos mantém expectativas positivas para 2020. Depois de cinco anos seguidos de queda, a construção civil cresceu 1,6% em 2019 e vê condições para atingir uma expansão de 3% neste ano.
No ano passado, o desempenho setorial foi puxado pelo mercado imobiliário. Em relação a 2018, o segmento registrou aumento de 15,45% nos lançamentos e alta de 9,7% nas vendas de imóveis residenciais novos. No último trimestre do ano, o destaque foi a região Centro-Oeste, com 20% a mais de negócios fechados.
O otimismo se mantém apesar da queda de 2,5% do PIB da construção civil no quarto trimestre de 2019 em relação ao terceiro. O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (Cbic), José Carlos Martins, explicou que a desaceleração no fim do ano ocorreu por conta da redução no financiamento do programa Minha Casa Minha Vida com recurso do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). “Se não fosse o FGTS ter sido negativo no ano passado, teríamos tido crescimento muito maior”, disse.
A participação do MCMV caiu de 50% para 45% em 2019 em função da redução do orçamento do FGTS, com a liberação de saques direcionados ao consumo. O volume de recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) cresceu 15%, enquanto o do FGTS caiu 5%. “Apesar de o deficit habitacional ser 90% na baixa renda (dependente do FGTS), quem puxou o desempenho foram as classes média e alta, com recursos da caderneta de poupança”, assinalou Martins.
O mercado imobiliário se destacou, mas outros segmentos não foram bem. “Obra pública praticamente inexistiu. As concessões e parcerias público-privadas ainda precisam decolar e os empreendimentos corporativos não deslancharam no ano passado”, afirmou Martins.
Ieda Vasconcelos, economista da Cbic, lembrou que o PIB da construção civil, de 2014 a 2018, caiu 30%. “Isso significou o fechamento de quase 1 milhão de vagas com carteira assinada”, pontuou. Com o crescimento de 1,6% no ano passado, a construção civil gerou 71 mil vagas. “É o equivalente a 11% dos empregos criados no país. Isso mostra a importância do setor para o desenvolvimento econômico brasileiro”, disse Luiz Antonio França, presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc). Se a expectativa de crescimento de 3% em 2020 se confirmar, podem ser criados mais 130 mil empregos, lembrou Ieda.
Centro-Oeste
Mesmo diante do cenário de revisões para baixo do crescimento do PIB em 2020, a construção civil segue otimista por conta do aumento de lançamentos e vendas. “Como são empreendimentos na planta, se projeta para a frente. Em 2019, foram lançadas 137 mil unidades ante 112 mil em 2018”, destacou Ieda. A alta de 15% foi a maior dos últimos quatro anos. “Além disso, as vendas aumentaram, sobretudo no Centro-Oeste (20%) e no Sudeste (10%) no último trimestre”, completou.
Dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF) corroboram o bom desempenho da região. Segundo o 1º vice-presidente da entidade, Roberto Botelho, em Brasília, as vendas subiram 21% no quarto trimestre em relação ao terceiro do ano passado. “Vendemos R$ 1,4 bilhão e 2.719 unidades em 2019”, ressaltou. “Para este ano, a expectativa é positiva porque o principal fator para o mercado imobiliário são os juros, que caíram muito. A sinalização de que pode haver mais uma redução da taxa Selic favorece o crescimento”, avaliou.