Correio Braziliense
As empresas do setor imobiliário aprovaram as mudanças no crédito para o segmento, anunciadas pelo governo na terça-feira. Segundo entidades do ramo, no Distrito Federal, o mercado não está superaquecido, mas o estoque de residências está baixo. Nos últimos três anos, o número de casas e apartamentos postos à venda saiu de 16 mil para 3.858 unidades. Em regiões como Águas Claras, por exemplo, não há mais imóveis de três quartos para serem vendidos. Guará, Taguatinga e Plano Piloto também estão com baixa oferta.
O último índice de velocidade de venda (IVV), medido pela Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do DF (Ademi-DF), com dados de maio, estava em 6,6%, considerado um patamar favorável para o mercado. O indicador mede a proporção de imóveis vendidos em relação aos ofertados.
A retomada das vendas começou no início de 2017, impulsionada pela diminuição dos preços, a melhora da renda do consumidor e as condições de crédito, apesar de os juros ainda serem altos. “Nossa oferta caiu bastante. São mais de 3,8 mil unidades agora. Estamos 50% abaixo da média histórica”, afirmou o presidente da Ademi-DF, Paulo Muniz. “O resultado é reflexo da conjuntura. Ainda há muita insegurança jurídica e a crise enxugou a oferta. O índice de vendas, pelo menos, mostra que o mercado está ativo”, completou.
Em maio, segundo ele, as vendas também apresentaram “bom desempenho”. As empresas pesquisadas informaram que 244 unidades foram vendidas, total superior ao de janeiro, fevereiro e março de 2018. O movimento também é sentido no restante do Brasil, apesar de a recuperação ainda ser heterogênea. Dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) e do Bradesco mostram que, no primeiro trimestre, as vendas de imóveis subiram 22,3%, e o estoque caiu 14,8% no país, em comparação com o mesmo período de 2017.
Limitação
O diretor comercial da PaulOOctávio, Pedro Ávila, afirmou que, apesar da melhora, os juros ainda limitam a ampliação dos negócios. “Os bancos precisavam oferecer taxas mais atrativas que as atuais, que estão entre em 9%, 10% ou 11% ao ano. A redução permitiria que mais pessoas tivessem acesso ao financiamento”, avaliou. Apesar da queda da Selic, em 2018, os juros do crédito imobiliário permaneceram no patamar médio de 8% — 7,8% no segmento regulado e 10,1% no livre, segundo o último relatório do Banco Central, com dados de junho. Houve queda de 1,2 ponto percentual em 12 meses.
A Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) afirmou que é preciso uma reforma no ambiente de crédito, possibilitando a redução dos custos da inadimplência, dos impostos e outros gastos regulatórios.
Para fomentar o mercado, o Conselho Monetário Nacional (CMN) elevou de R$ 950 mil para R$ 1,5 milhão o valor máximo dos imóveis financiados pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH), que possibilita o uso de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O CMN também acabou com a obrigatoriedade dos bancos destinarem 52% do montante da poupança para o sistema. Na avaliação do governo, as medidas poderão injetar R$ 80 bilhões no setor em seis anos.
Para o corretor de imóveis Alex Braz, a ampliação do teto vai aquecer o mercado. “O movimento será sentido a partir de 2019, quando as medidas entram em vigor. Passadas as eleições, é provável que mais pessoas se disponham a fazer as operações de crédito”, disse.
Apesar disso, relatório feito pela equipe técnica do Bradesco apontou que há vetores “claros” para a diminuição do ritmo do mercado imobiliário. “A taxa de desemprego parou de cair, de forma mais evidente, desde novembro de 2017; a criação de vagas no mercado de trabalho formal (com carteira assinada) tem surpreendido negativamente nos últimos meses; e a renda real desacelerou neste ano, comparativamente à velocidade de expansão observada no ano passado”, diz o documento. “Além disso, a trajetória de melhora da confiança dos consumidores foi interrompida em maio e junho deste ano, apresentando ligeira recuperação em julho, mas ainda em nível bem inferior ao observado no primeiro trimestre.”
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- Caixa vê modernização
Responsável pelo maior número de financiamentos imobiliários do país, a Caixa Econômica Federal entende que as medidas do CMN trazem inovação e modernidade para o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). Segundo comunicado do banco, a tendência é “aperfeiçoar, ainda mais, o tradicional modelo de crédito direcionado”. “Passo a passo, as regras de direcionamento vão se afrouxando, o mercado se autorregulando e a matriz de financiamento do setor imobiliário naturalmente migrando da poupança popular para os instrumentos clássicos utilizados no universo do mercado de capitais”, diz a instituição.